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Rosácea: dicas e tratamentos eficazes para o manejo do paciente

rosácea

Índice

Confira no artigo da Dra. Gabriela Noronha as principais informações sobre o tratamento da acne através rosácea. 

A rosácea é uma doença inflamatória crônica que acomete pelo menos 5% da população mundial. Essa condição é mais frequente em mulheres de pele clara, entre 30 à 50 anos, mas pode acometer indivíduos de todos os gêneros e idades.

Fisiopatologia da rosácea

A fisiopatologia da rosácea ainda não foi completamente elucidada, mas podemos citar os seguintes aspectos:

  • Disfunção vascular: a vasodilatação excessiva dos capilares da derme é uma característica central. Isso resulta em eritema facial persistente e telangiectasias
  • Hiperreatividade do sistema nervoso autônomo: respostas neurovasculares anormais podem contribuir para a vasodilatação exacerbada e assim, levando à flushing (rubor facial súbito e transitório)
  • Inflamação e resposta imune: provável ativação do sistema imunológico, incluindo a presença de células inflamatórias, como mastócitos e células T, bem como a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Na rosácea a um aumento da expressão do TNF-α, catelicidina e calicreína 5
  • Micro-organismos cutâneos: acredita-se que os ácaros Demodex folliculorum e o Bacillus oleronius possam desencadear respostas imunes anormais na pele.

Assim, há uma clara predisposição genética para a rosácea, estudos sugerem que certos polimorfismos genéticos podem aumentar o risco de desenvolver a condição. 

Gatilhos

A doença tem suas fases de remissão e de atividade. Existem mais de 20 gatilhos descritos na literatura, assim, dentre os principais, em ordem de maior para menor frequência, podemos citar:

  • Exposição solar
  • Estresse emocional 
  • Clima quente 
  • Vento 
  • Atividade física intensa 
  • Consumo álcool 
  • Banho quente 
  • Clima frio 
  • Comida apimentadas 
  • Umidade 
  • Certos produtos de skincare 
  • Bebidas quentes

Classificação da rosácea

A rosácea pode se manifestar de diferentes formas:

  • Episódios de eritema
  • Edema
  • Flushing
  • Pápulas
  • Pústulas
  • Alteração da textura da pele e alterações oculares.

Existem quatro subtipos principais.

Rosácea eritematotelangiectásica

Caracterizada por eritema persistente e telangiectasias, sem lesões inflamatórias proeminentes

Rosácea papulopustulosa

Apresenta pápulas e pústulas, além de eritema

Rosácea fimatosa

Provoca espessamento da pele principalmente na região do nariz (rinofima)

Rosácea ocular

Afeta os olhos com quadros inespecíficos, como: eritema, dor, prurido, irritação, conjuntivite, uveíte.

Identificar o subtipo correto é crucial para o manejo eficaz da rosácea, pois o tratamento pode variar significativamente entre eles.

Tratamento da rosácea

Em todos os subtipos é de suma importância reconhecer e evitar os gatilhos que exacerbam a doença, bem como ter cuidados específicos para uma pele sensível: limpeza suave, hidratação e fotoproteção.

Além dos cuidados tópicos, a introdução de probiótico via oral auxilia na modulação da microbiota, bem como na redução da inflamação. Agora vamos falar do tratamento específico para cada subtipo:

Rosácea eritematotelangiectásica

Agentes tópicos vasoconstritores (Brimodina)

Poderiam auxiliar a reduzir o eritema facial, entretanto esta classe não tem consenso ou comprovação na literatura científica. 

Beta-bloqueadores (Carvedilol)

Têm boa indicação para reduzir eritema e flushing. Apresentam propriedades vasoconstritoras no músculo liso das arteríolas dérmicas e não atuam nos capilares.

Antes de iniciar o tratamento é importante encaminhar o paciente ao cardiologista para excluir bloqueio átrio ventricular (BAV). A dose é 6,25mg 1-3x ao dia, conforme evolução de cada paciente.

Luz pulsada intensa (IPL)

Reduz o número de telangectasias na região aplicada, levando à melhora do eritema e da resposta inflamatória local. 

Dessa forma, o cromóforo alvo é a hemoglobina, seja a oxiemoglobina, presente em lesões de cor vermelha, a hemoglobina desoxigenada, presente em lesões azuladas, ou a metemoglobina. O mecanismo de ação é baseado na fototermólise dos vasos, o que induz a coagulação intravascular. Utiliza-se nos filtros de 550 e 600nm, conforme o fototipo.

Se a vasoconstrição não for observada, a energia deve ser aumentada e se necessário, a duração do pulso pode ser reduzida. Comprimentos de onda mais longos são eficazes para tratar vasos mais profundos, enquanto os mais curtos visam vasos mais superficiais. 

Laser

O tratamento com laser tem como alvo o pigmento da hemoglobina presente nos vasos sanguíneos, levando à coagulação e destruição destes.

  • Laser de Nd:YAG: É utilizado para telangiectasias mais profundas. 
  • Laser de Diodo: Utilizado para telangiectasias finas e eritema leve a moderado. 
  • Laser de corante pulsado (PDL) (585 nm ou 595 nm): bem indicado no eritema e telangiectasias. 
  • Nd:YAG de pulso longo (1.064 nm): Indicado para telangiectasias faciais. Em vasos mais profundos e em telangiectasias maiores que 1 mm, foi superior ao IPL em alguns estudos. 
  • KTP (532 nm): mais eficaz em telangiectasias pequenas e superficiais. 

LED

Produz irradiação não térmica de baixa intensidade, com modificação da atividade celular e efeito anti-inflamatório. Auxilia no tratamento adjuvante do eritema e lesões inflamatórias.

Botox em microdoses

Pode ser utilizada no tratamento de eritema, flushing e lesões inflamatórias, principalmente após falha das demais terapias. 

O mecanismo de ação ainda está em estudo, mas acredita-se que melhora relatada decorre da interrupção da liberação de acetilcolina nos nervos autônomos periféricos do sistema vasodilatador cutâneo, juntamente com a inibição da liberação de mediadores inflamatórios.

Na teoria a toxina inibe a liberação de neuropeptídeos associados à vasodilatação e inflamação (acetilcolina e peptídeo intestinal vasoativo). Além disso, sugere-se que ela também bloqueie a liberação de neuropeptídeos envolvidos na atividade sebácea, na homeostase vascular e na inflamação (substância P, calcitonina e glutamato).

A técnica de aplicação ainda não foi padronizada, existem diversos relatos na literatura, porém não há consenso ou revisão. A aplicação é intradérmica para prevenir disfunções musculares e deve ser realizada uma diluição da toxina maior do que a convencionall

Rosácea papulopustulosa

Agentes tópicos anti-inflamatórios

Reduzem a inflamação e o número de lesões.

Metronidazol

Apresenta propriedades anti-inflamatórias, atividade antibacteriana, bem como capacidade de modular o sistema imunológico cutâneo. Não possui atividade sob o Demodex.

Pode ser usado em gel, creme ou loção de 7,5mg.

Ivermectina

Atividade antiparasitária, capacidade de modular o sistema imunológico cutâneo, assim como propriedades anti-inflamatórias reduzindo a expressão de TNF-α e IL-1 beta.

É utilizada em creme a 1%. Em estudos recentes apresentou melhores resultados que o Metronidazol. 

Ácido azelaico

Na prática, é mais utilizado para manutenção após melhora do quadro ou então em gestantes. Possui propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e reguladoras da queratinização.

Além disso, reduz a expressão da catelicidina e calicreína 5. É utilizado em Gel a 15% e creme a 20%.

Antibiótico sistêmico

Indicado em quadros moderados a graves. Portanto, podem ser associados às terapias tópicas. As ciclinas ajudam a controlar à inflamação e a proliferação bacteriana. Além disso, dentre as ciclinas, a doxicilina apresenta os melhores resultados em estudos, em caso de ausência de melhora em até 3 meses de uso, avaliar introdução de Isotretinoína.

Isotretinoína oral

Reservada para casos refratários. Costuma ter boa resposta para rosácea ocular. 

Assim, a Isotretinoína atua inibindo a expressão de mediadores inflamatórios, como interleucinas pró-inflamatórias e TNF-α; regula a diferenciação celular e a proliferação dos queratinócitos, reduzindo a hiperproliferação epidérmica. 

Parece também auxiliar na modulação do microbioma cutâneo, reduzindo assim a inflamação e a resposta imune anormal. Utiliza-se na dose de 0,3mg/kg/dia até o clear.

Rosácea fimatosa

Cirurgia ou procedimentos a laser

Para melhorar a textura da pele, principalmente na região nasal. As principais técnicas utilizadas são a ressecção cirúrgica, dermoabrasão e tratamentos à laser. 

Rosácea ocular

Pode mimetizar quadros reumatológicos. Assim, é muito importante o paciente passar por avaliação com oftalmologista.

Além disso, há uma variedade extensa de tratamentos disponíveis para a rosácea. No entanto, não há um único tratamento considerado o melhor em geral, uma vez que a escolha varia de acordo com a classificação específica do quadro em determinado momento.

Autoria

  • Dra. Gabriela Noronha, médica dermatologista
  • CRM/SP 177979 
  • RQE 80095

Referências bibliográficas

  • Oliveira CMM, Almeida LMC, Bonamigo RR, Lima CWG, Bagatin E. Consensus on the therapeutic management of rosacea – Brazilian Society of Dermatology. An Bras Dermatol. 2020 Nov-Dec;95 Suppl 1(Suppl 1):53-69.
  • Sharma A, Kroumpouzos G, Kassir M, Galadari H, Goren A, Grabbe S, Goldust M. Rosacea management: A comprehensive review. J Cosmet Dermatol. 2022 May;21(5):1895-1904.
  • Searle T, Al-Niaimi F, Ali FR. Rosacea. Br J Hosp Med (Lond). 2021 Feb 2;82(2):1-8. doi: 10.12968/hmed.2020.0417. Epub 2021 Feb 27.
  • Van Zuuren EJ, Arents BWM, van der Linden MMD, Vermeulen S, Fedorowicz Z, Tan J. Rosacea: New Concepts in Classification and Treatment. Am J Clin Dermatol. 2021 Jul;22(4):457-465.

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