A convulsão febril (CF) é a desordem convulsiva mais comum entre crianças, ocorrendo frequentemente durante infecções febris com temperatura corporal superior a 38°C. Provocada por uma variedade de doenças infecciosas, mas é fundamental diferenciar essas convulsões das causadas por outras condições neurológicas, como meningites ou encefalites.
Além disso, o tratamento e o prognóstico das convulsões febris variam de acordo com diversos fatores, como a idade da criança, a presença de fatores de risco e a história familiar.
O que é a convulsão febril?
Define-se a convulsão febril como uma convulsão que ocorre durante uma infecção febril, com temperatura ≥ 38°C, e sem a presença de doenças do sistema nervoso central (SNC), como meningites ou encefalites. É a forma mais comum de convulsão em crianças, com uma incidência que varia entre 2% e 5% entre lactentes e pré-escolares. Embora seja uma condição relativamente frequente, a convulsão febril é um evento que gera bastante preocupação nos pais e na equipe médica.
Em relação ao risco de recorrência das crises febris, estima-se que 30% das crianças que apresentaram uma CF terão crises em infecções subsequentes. O risco de recorrência depende de uma série de fatores, como a idade da criança, histórico familiar e características da crise. Quando não há fatores de risco, a chance de novas crises é de cerca de 12%, mas essa probabilidade aumenta significativamente com a presença de fatores de risco.
Fatores de risco para convulsão febril
Existem dois tipos principais de fatores de risco associados à convulsão febril: os maiores e os menores. Os fatores maiores incluem:
- Primeira crise febril antes de 12 meses de idade
- Duração da febre inferior a 24 horas antes da crise
- Temperatura febril entre 38°C e 39°C.
Por outro lado, os fatores menores são:
- História familiar positiva de crises febris
- História familiar de epilepsia
- Crises febris complexas (com convulsões focais ou prolongadas)
- Sexo masculino
- Sódio sérico baixo no início da crise.
O pico de incidência de convulsões febris ocorre entre 9 e 18 meses de idade, e raramente ocorre antes dos 3 meses ou após os 5 anos. Esses dados ajudam os profissionais de saúde a avaliar o risco de recorrência e a planejar o manejo adequado para cada paciente.
Como a convulsão febril ocorre?
Não compreende-se a causa exata da convulsão febril, mas sabe-se que vários fatores estão envolvidos. A febre, a idade da criança e a predisposição genética são os principais determinantes da ocorrência dessa condição.
Infecções virais, como a infecção pelo vírus respiratório sincicial (VSR), e outras doenças febris são comumente associadas à convulsão febril. Embora a temperatura corporal superior a 39°C seja um fator importante, é possível que a crise ocorra em temperaturas inferiores. A persistência da crise febril após os 6 anos, associada ou não a crises afebris, é conhecida como “convulsão febril plus” e possui um forte componente genético.
Em algumas famílias, foi identificada uma maior predisposição para a ocorrência de crises febris, com a presença de loci cromossômicos específicos. A maioria dos estudos sugere que a CF segue um padrão de herança autossômica dominante com baixa penetrância e expressão variável, ou herança poligênica.
Características clínicas da convulsão febril
A convulsão febril geralmente se manifesta como uma crise tônico-clônica generalizada, com duração que varia de alguns segundos até 15 minutos. O período pós-ictal é caracterizado por sonolência temporária, mas o exame neurológico da criança geralmente é normal após a crise.
Existem duas formas principais de crises febris: as típicas e as atípicas. As crises febris típicas são tônico-clônicas generalizadas, de curta duração e ocorrem uma única vez em um episódio febril. Essas crises não estão associadas a fenómenos neurológicos pós-críticos.
Por outro lado, as crises febris atípicas, ou complexas, possuem características distintas. Elas têm duração superior a 10 minutos, podem ser parciais e se repetem durante o mesmo episódio febril. Além disso, podem ser acompanhadas de sinais neurológicos transitórios, como a paralisia de Todd. Essas crises apresentam um maior risco de recorrência e estão associadas a um maior risco de epilepsia no futuro.
Diagnóstico da convulsão febril
O diagnóstico de convulsão febril é predominantemente clínico, baseado na história da criança e na observação da crise. A presença de uma crise tônico-clônica generalizada, sem outros sinais neurológicos, e a história de febre antes do início da crise são indicativos de uma convulsão febril simples.
Contudo, é essencial excluir outras causas de convulsões, como meningite, encefalite ou distúrbios eletrolíticos. Deve-se realizar uma investigação minuciosa, especialmente em crianças menores de 6 meses, para as quais realiza-se a punção lombar para excluir meningite.
Exames complementares, como hemograma, dosagem de eletrólitos e glicemia, podem ser solicitados para ajudar a identificar a causa da febre. No entanto, em casos típicos de convulsão febril, exames como EEG ou neuroimagem não são necessários. O EEG pode ser útil apenas em casos de crises prolongadas ou repetidas, mas não tem valor prognóstico.
Tratamento da convulsão febril
O tratamento da convulsão febril foca principalmente no controle da crise aguda e na prevenção de novas crises. Durante a crise, os antitérmicos são indicados para controlar a febre e minimizar o desconforto da criança. No entanto, os antitérmicos não impedem a ocorrência da convulsão, uma vez que a febre durante a ascensão ou queda da temperatura corporal é um fator desencadeante.
Em casos de crises prolongadas, com duração superior a cinco minutos, o tratamento anticonvulsivante é necessário. Os benzodiazepínicos, como diazepam, midazolam ou lorazepam, são os medicamentos de escolha. Pode-se administrar o diazepam por via retal ou intravenosa, dependendo da situação clínica da criança.
Deve-se considerar a profilaxia para crises febris recorrentes em casos de alto risco, mas não recomenda-se a profilaxia contínua com anticonvulsivantes devido aos efeitos colaterais potenciais, como distúrbios cognitivos e hepatotoxicidade.
Resumo
Embora a convulsão febril seja uma condição frequentemente benigna e com bom prognóstico, ela pode gerar grande apreensão nos pais e profissionais de saúde. O diagnóstico e o manejo adequados são essenciais para garantir a segurança da criança e a minimização do risco de complicações futuras, como epilepsia. Em muitos casos, a abordagem conservadora, com controle da febre e orientações sobre o manejo domiciliar, é suficiente para a resolução do problema.
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Referências bibliográficas
- LOPEZ, Fábio Ancona; CAMPOS JÚNIOR, Dioclécio. Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. Disponível em: https://www.atheneu.com.br.
- SCHETTINO, Carlos Eduardo. Bases da Pediatria. 1. ed. São Paulo: Editora Manole, 2013. Disponível em: https://www.manole.com.br.