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A fluoxetina é um dos medicamentos representantes da classe dos Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), os quais atuam na inibição da recaptura da serotonina, um dos neurotransmissores relacionados ao humor.
Mecanismo de ação da fluoxetina
Antes de começarmos a falar sobre o mecanismo de ação da Fluoxetina, é importante relembrarmos qual é o papel da serotonina no nosso organismo.
Assim, a serotonina é uma monoamina transmissora responsável pela modulação geral da atividade psíquica, influenciando em quase todas as atividades cerebrais. Além do humor, a serotonina também regula:
- o sono
- a atividade sexual
- o apetite
- a temperatura corporal
- o ritmo cardíaco
- a percepção da dor
- funções neuroendócrinas
- funções cognitivas
- atividade motora.
Dessa forma, como a própria classificação da Fluoxetina diz, esse medicamento inibe, de forma seletiva e potente, a recaptação da serotonina por meio da inibição do transportador de serotonina ou SERT. Intensifica a ação do neurotransmissor no terminal axônico pré-sináptico e, possivelmente, na extremidade somatodendrítica do neurônio serotoninérgico (próximo ao corpo celular).
Embora o mecanismo de ação mencionado seja comum a todos os seis representantes dos ISRS, cada um possui suas particularidades que devem ser levadas em consideração na hora da prescrição médica.
Dessa forma, no caso da Fluoxetina, além da inibição do SERT, o medicamento promove ações antagonistas nos receptores de 5HT2C. O bloqueio da ação da serotonina nesses receptores intensifica a liberação de noradrenalina (NA) e dopamina (DA). O antagonismo de 5HT2C pode contribuir não apenas para as ações terapêuticas da fluoxetina, mas também para o seu perfil de tolerabilidade.
A ação dos ISRS está resumida na Figura 1.
Farmacocinética da fluoxetina
A fluoxetina possui um tempo de meia-vida longo, que varia de 1 a 4 dias, já seu metabólito ativo possui um tempo de meia-vida ainda maior, que varia de 7 a 15 dias.
Assim, como a cinética da fluoxetina não é linear, pode ocorrer um aumento desproporcional em sua concentração na corrente sanguínea quando administrada em doses elevadas, o que pode levar ao aparecimento dos efeitos colaterais comuns dos ISRS.
No entanto, a meia-vida prolongada do medicamento também pode ser vantajosa, pois, geralmente, o medicamento pode ser administrado apenas uma vez ao dia e, caso o paciente, por algum motivo, fique alguns dias sem tomar a medicação, a eficiência da fluoxetina não será afetada, já que parte dela ainda não foi eliminada do organismo.
Além disso, a meia-vida aumentada parece reduzir as reações de retirada características da suspensão súbita de alguns ISRS, porém também significa que é necessário um tempo prolongado para a depuração do fármaco e de seu metabólito ativo após a interrupção da fluoxetina e antes de iniciar outro agente, como um inibidor da monoamina oxidase (IMAO).
Em relação à metabolização, no organismo, a fluoxetina pode ser metabolizada em norfluoxetina (NFLU) por isoenzimas do citocromo P450 (CYP).
Indicações de uso da fluoxetina
Comparativamente, dentre os ISRS, a fluoxetina é a que obteve maior sucesso no tratamento da depressão, associada ou não com ansiedade, tornando-se o antidepressivo mais prescrito para esse tipo de transtorno. Além disso, a fluoxetina é indicada no tratamento da bulimia, do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), incluindo tensão pré-menstrual (TPM), irritabilidade e disforia.
O antagonismo de 5HT2C exercido pela fluoxetina, como comentado acima, faz com que geralmente ele seja ativador. Assim, muitos pacientes, mesmo com a primeira dose, percebem que a fluoxetina produz um efeito energizante e de redução da fadiga, havendo também melhora na concentração e na atenção. Esse mecanismo talvez seja mais apropriado para pacientes deprimidos que apresentam redução do afeto positivo, hipersonia, retardo psicomotor, apatia e fadiga.
Portanto, o antagonismo de 5HT2C também contribui para o efeito antibulimia de doses mais altas de fluoxetina, o único ISRS aprovado para o tratamento desse transtorno alimentar.
O quadro abaixo resume as indicações terapêuticas da fluoxetina.
| Depressão maior- associada ou não com ansiedade |
| Bulimia |
| Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) |
| Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) |
Reações adversas da fluoxetina
Os efeitos adversos associados à fluoxetina correspondem à:
- Diarreia
- Náusea
- Fadiga (incluindo astenia)
- Vômitos
- Dor de cabeça
- Insônia
- Síndrome gripal, faringite e sinusite
- Palpitações
- Visão turva
- Boca seca
- Dispepsia
- Calafrios, sensações de tremor
- Diminuição de peso
- Prolongamento do intervalo QT
- Diminuição do apetite
- Distúrbios de atenção
- Vertigem
- Disgeusia
- Letargia, sonolência
- Ansiedade
- Inquietação
- Irritabilidade
- Micções frequentes
- Diminuição da libido, distúrbios de ejaculação, anorgasmia, sangramento ginecológico
- Erupção cutânea
- Labilidade emocional.
Contraindicações da fluoxetina
As principais contraindicações do uso da fluoxetina são:
- Hipersensibilidade aos seus componentes;
- Pacientes em uso de IMAO;
- Em combinação com Tioridazina;
- Pacientes em uso de Pimozida;
- Menores de 18 anos de idade.
Autoria
Carolina Dusi Mendes.
Instagram: @caroldusim

Autor do mapa mental: Pedro Henrique Sobral Neves.
Revisora do mapa mental: Maria Beatriz Neves de Souza Costa.
Instagram da liga: @laephbahiana
Referências bibliográficas
- GOLAN, D. E. et. al. Princípios de Farmacologia – A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2ª ed. Guanabara Koogan, 2009.
- NETO, L. G. “Pílula da felicidade”: síntese e legado da Fluoxetina. Monografia (Bacharelado em Química) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araraquara, p. 48, 2021.
- PAULINO, P. H. S. Estudo teórico da fluoxetina. Monografia (Bacharelado em Química) – Universidade Federal de São João del-Rei. São João del-Rei, p. 30, 2018.
- STAHL, S. Psicofarmacologia – Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 4ªed.; São Paulo: Medsi, 2014.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.
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