A candidíase é uma das principais causas de corrimento vaginal, que por sua vez é uma queixa ginecológica muito frequente na atenção básica. Nesse sentido, precisa-se estar preparado e, quando atendemos uma mulher com esse sintoma devemos iniciar a nossa investigação pensando primeiramente em um quadro de vulvovaginite.
Para facilitar a nossa abordagem, iremos organizar a sua linha de raciocínio com base em 5 perguntas:
- O que é candidíase vulvovaginal?
- Como podemos classificá-la?
- Quais são seus fatores de risco?
- Diagnóstico e quais seus diagnósticos diferenciais
- Qual o tratamento possível?
Definição da candidíase
Podemos definir a candidíase vulvovaginal como uma infecção vaginal e da vulva por espécies de Cândida. Dessa forma, a cândida é um gênero de fungo que sua colonização e transmissão podem se dar de maneira assintomática. Segundo alguns estudos, cerca de 75% das mulheres irão apresentar pelo menos um episódio de candidíase na sua vida, sendo importante salientar que essa infecção na grande maioria das vezes se dá durante a menacme.
Cerca de 85% das espécies de Candida presentes na flora vaginal são da espécie C. albicans, sendo essa, a responsável pela maioria das infecções não complicada. As espécies C. glabrata e C. tropicalis são menos comuns e responsáveis pela maioria das infecções complicadas.
Classificação da Candidíase
Podemos classificar a candidíase vulvovaginal como complicada ou não complicada, e, como sintomática ou assintomática. Dessa maneira, definimos candidíase não complicada quando há:
- Menos 4 episódios no ano
- Sintomas leves a moderados, provavelmente causada por C. albicans
- Mulheres imunocompetentes.
Quando os sintomas são:
- Intensos
- Ou, há mais de 4 episódios ao ano
- Ou, a colonização provavelmente é por uma espécie não-albicans
- Em mulheres imunocomprometidas, podemos classificar como complicada.
Fatores de risco
Com o uso de hormônios (como anticoncepcionais orais) a imunidade vaginal fica diminuída. Além disso, o uso de antibiótico proporciona a alteração da flora vaginal e a diminuição do efeito protetor deste para com a vagina e a vulva. Há também maior predisposição genética em mulheres negras para infecções pela Candida sp, por conta de polimorfismos genéticos. A gestação também passa a ser um grande fator de risco, pois há um aumento da adesão da Candida na parede vaginal.
Por fim, o tipo de vestuário (como roupas apertadas, de tecidos sintéticos) proporcionam maior probabilidade de reações alérgicas, além do aumento da temperatura perineal, tornando a região intima um lugar favorável para a infecção.
Diagnóstico de Candidíase
Quadro clínico
Apesar de a maioria dos casos serem assintomáticos, o quadro clínico clássico acontece da seguinte forma:
- Prurido intenso, hiperemia e edema vulvar, dispareunia, disúria, fissuras vulvares
- Corrimento: pastoso ou grumoso aderido às paredes vaginais, de coloração branca, amarela ou esverdeada
- Odor: normalmente, sem odor característico, mas pode estar presente e ser desagradável
- No exame físico: vulvite com fissuras, irritação, escoriações e exame especular evidenciando o corrimento brando, grumoso, aderido as paredes vaginais e do colo (aspecto de leite coalhado).
Exames complementares
Como citamos acima, o diagnóstico de candidíase vaginal é eminentimente clínico! Porém alguns exames auxiliam em casos de dúvida, já que ela pode vim acompanhada de outra vulvovaginite (40% das vaginoses bacterianas vêm com candidíase associada).
Deste modo, em alguns casos reservados podemos realizar:
- Análise pH vaginal: normalmente o pH vaginal é ÁCIDO! E são a cândida e os lactobacilos que mantém o pH abaixo de 4,5. Ou seja, se a doença vier isolada, o pH vai estar nesse nível
- Teste de Whiff ou teste das aminas: negativo
- Exame a fresco do fluxo e gram: visualização de hifas e esporos
- Cultura: realizada apenas em casos de recidiva ou resistência, para se investigar infecção por outras cepas como a glabrata.
Diagnóstico diferencial
É importante fazer o diagnóstico diferencial da candidíase vulvovaginal com a tricomoníase e a vaginose bacteriana, pois, possuem sintomas semelhantes.
Confira nosso post sobre vulvovaginites!
Tratamento da Candidíase
Primariamente, a escolha do tipo de tratamento basea-se no quadro clínico da candidíase vulvovaginal, sendo que o objetivo é o alivio dos sintomas das pacientes sintomáticas. Em caso de pacientes assintomáticas, não realiza-se tratamento. Caso a paciente possua candidíase recorrente, é recomendado que se faça uma cultura para a identificação do tipo de Candida colonizada, pois, Candida não-albicans são resistentes ao tratamento habitual.
Farmacológico
O tratamento pode ser feito com fármacos via oral ou tópica, preferindo apresentação tópica para casos não recorrentes e via oral para candidíase resistente ao tratamento tópico. Assim, o tratamento de curta duração (até 7 dias) são reservados para casos não complicados, e, esquema com duração maior de 7 dias, deverão ser utilizados para casos complicados.
Um exemplo de medicamento que pode ser utilizado no tratamento tópico é o:
- Miconazol creme a 2% – um aplicador (5 g) à noite, ao deitar-se, por 7 dias.
Sobre o tratamento oral, pode ser utilizado o:
- Fluconazol, 150 mg, VO, dose única.
Não-farmacológico
Como tratamento não-farmacológico, é importante:
- A diminuição do consumo de leite e derivados (já que o fungo se alimenta de glicose)
- Maior cuidado com a higiene íntima
- Uso de roupas intimas de algodão
- Evitar calças apertadas
- Retirar a roupa intima para dormir
- Reduzir o uso de protetores diários (todas essas medidas aumentam a ventilação no local). Também podem ser utilizados banhos de assento com infusões de maleleuca, camomila e bicarbonato de sódio.
A candidíase vulvovaginal não é uma doença sexualmente transmissível, assim, o tratamento do parceiro(a) só deverá ser realizado caso seja sintomático(a). No caso do parceiro sexual ser homem, o mesmo pode apresentar balanite (áreas avermelhadas na glande associada a prurido ou irritação).
Sugestão de leitura complementar
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