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Você sabe o que fazer na sala de parto?

Você sabe o que fazer na sala de parto?

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O sucesso de uma sala de parto começa com um pré-natal bem realizado. O ministério da saúde preconiza pelo menos seis consultas de pré-natal e realização de exames maternos, incluindo sorologias, no primeiro e terceiro trimestre da gestação.

Genitora que realiza pré-natal adequado aumenta a chance de o recém-nascido nascer A TERMO, isto é, maior ou igual a 38 semanas de vida, CHORANDO OU RESPIRANDO e COM TÔNUS MUSCULAR NORMAL, OU SEJA, EM FLEXÃO. E porque citamos especificamente esses três parâmetros? Porque além da idade gestacional, eles são os parâmetros que usamos para determinar se o RN precisará de reanimação neonatal ou não.

A necessidade de reanimação neonatal é maior quanto menor for a idade gestacional/peso ao nascer. Por conta disso, os cuidados na sala de parto diferem um pouco se o RN for menor ou maior que 34 semanas. Além disso, o parto cesáreo entre 27 e 39 semanas de gestação, mesmo sem fatores de risco antenatais para asfixia, aumenta o risco de que a ventilação seja necessária ao nascer.  Existem alguns fatores antenatais e relacionados ao parto que elevam a necessidade de reanimação neonatal mostrados no quadro abaixo.

Antenatais

Momentos antes do parto, o neonatologista  deve se apresentar a mãe e realizar uma anamnese materna. Nesta anamnese devemos investigar idade materna; tipagem sanguínea da genitora (ABO e Rh); idade gestacional; se realizou pré-natal e quantas consultas; se a genitora tem DM, DHEG ou outras morbidades; se teve ITU ou corrimento vaginal durante a gestação e se tratou; se cria animais; olhar e anotar ultrassonografias realizadas e sorologias do primeiro e terceiro trimestre; se a bolsa está rota e há quanto tempo e se precisou usar corticoide ou sulfato de magnésio na gestação.

Após o parto, também usaremos esta ficha de anamnese para descrever o dia e a hora do parto, o tipo de parto, a posição do RN ao nascimento (Ex: cefálico), a quantidade de RN (se único ou múltiplo), característica do líquido amniótico, presença ou não de circular de cordão, se o coto umbilical tem 2 artérias e 1 veia (que é o normal), quanto tempo de clampeamento do cordão, se teve contato pele a pele com a mãe após o parto, se amamentou na 1ª hora de vida, exame físico do recém-nascido, diagnósticos/lista de problemas e prescrição.

É recomendado que a temperatura ambiente da sala de parto esteja entre 23-26°C.

RN que nasce a termo, chorando ou respirando e com tônus muscular em flexão, sem intercorrências, independente do aspecto do líquido amniótico meconial, não necessitará de qualquer manobra de reanimação, podendo ir para o alojamento conjunto com a genitora e receber alta hospitalar 48/72h após o nascimento.

O boletim de Apgar não é usado para determinar o início das manobras de reanimação neonatal, mas é útil para avaliar a resposta e a eficácia das manobras. Portanto, devemos continuar realizando o boletim de Apgar no primeiro e quinto minuto de vida.

O clampeamento do cordão umbilical deve ser efetuado 1 a 3 minutos depois do nascimento de um RN a termo, chorando ou respirando e com tônus muscular em flexão, independente do aspecto do líquido amniótico, e se a circulação placentária estiver intacta, isto é, ausência de descolamento prematuro da placenta (DPP), de placenta prévia ou de rotura ou prolapso ou nó verdadeiro do cordão.

Enquanto espera o clampeamento tardio do cordão, o neonato pode ser posicionado no abdome ou tórax da genitora. Estudos mostram que há benefício com esta conduta em relação aos índices hematológicos na idade de 3 a 6 meses, embora possa elevar a necessidade de fototerapia na primeira semana de vida.

Além disso, a OMS recomenda contato pele a pele com a mãe imediatamente após o nascimento do RN a termo que nasce com boa vitalidade, pois reduz o risco de hipotermia, e amamentação na primeira hora de vida.

SALA DE PARTO DO RN > 34 SEMANAS

Informações técnicas:

Para fazer a aspiração, se necessário, devemos usar sondas orogástricas curtas números 6 e 8.

A massagem cardíaca deve ser realizada com os polegares comprimindo o terço inferior do esterno e o restante dos dedos abraçando o tórax (técnica dos polegares) ou usando o dedo indicador e o dedo médio no terço inferior do esterno (técnica dos dois dedos). Deve deprimir um terço do diâmetro anteroposterior do tórax na relação 3:1 (3 compressões: 1 ventilação).

A adrenalina deve ser aplicada diluída, 1 mL de adrenalina + 9 mL de soro fisiológico (SF) = solução de 1:10000 e usar 0,1-0,3 ml/kg EV a cada 3-5 minutos junto com SF 0,9% (10ml/kg), lentamente em 5-10 minutos.

Embora a presença de líquido amniótico meconial possa indicar sofrimento fetal, ele não é sinônimo de reanimação neonatal.

O que vai determinar se o RN deverá ser levado à mesa de reanimação logo após o clampeamento do cordão são as perguntinhas de sempre: É TERMO? CHORA OU RESPIRA? TÔNUS MUSCULAR EM FLEXÃO?

Se a resposta for sim para todas, isto é, se logo após o nascimento, o RN é de termo, está chorando ou respirando e apresenta tônus muscular em flexão, ele pode ser mantido junto à mãe após clampeamento do cordão.

Caso a resposta seja não para uma dessas perguntas, o RN deve ser levado para a mesa de reanimação, prover calor, posicionar o pescoço em leve extensão, secar e é prudente incluir aspiração de boca e narinas suavemente com sonda traqueal nº 10.

Sempre que iniciar a VPP, o ideal é que coloque também oximetria de pulso.  Devemos colocar o sensor no membro superior direito para avaliar a saturação pré-ductal. O recém-nascido só atinge saturação maior que 90% após o quinto minuto de vida. Portanto, não se assuste se vir saturações entre 70-80% nos primeiros minutos de vida.

Fluxograma 1

Fluxograma 2

Fluxograma 3

SALA DE PARTO DO RN < 34 semanas

As perguntinhas-chave para definir se o  clampeamento do cordão será tardio ou não são as mesmas que já conhecemos: A TERMO? CHORANDO OU RESPIRANDO? TÔNUS MUSCULAR EM FLEXÃO?

Entretanto, após o clampeamento do cordão TODO RN < 34 semanas deve ser direcionado a mesa de reanimação e iniciados as medidas básicas: secar, nesse caso, envolver em saco plástico transparente para diminuir a perda de calor; prover calor; posicionar o pescoço em leve extensão e avaliar necessidade de aspiração de boca e narinas.

Além disso, simultaneamente, devemos colocar o sensor do oxímetro de pulso no membro superior direito para avaliar saturação de oxigênio pré-ductal.

Fluxograma 4

Fluxograma 5

Referências

  1.  SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de pediatria. 4 ed. São Paulo: Manole, 2017.
  2.  DE ALMEIDA, Maria Fernanda Branco, GUINSBURG, Ruth. Reanimação do recém-nascido ≥34 semanas em sala de parto: Diretrizes 2016 da Sociedade Brasileira de Pediatria. São Paulo. 2016. Disponível em: reanimação. Acesso em: 26 jan. 2016.
  3.  GUINSBURG, Ruth, DE ALMEIDA, Maria Fernanda Branco. Reanimação do recém-nascido <34 semanas em sala de parto: Diretrizes 2016 da Sociedade Brasileira de Pediatria. São Paulo. 2016. Disponível em: reanimação. Acesso em: 26 jan. 2016.