Carreira em Medicina

ULTRASSONOGRAFIA OBSTÉTRICA: UM MINI-GUIA | Colunistas

ULTRASSONOGRAFIA OBSTÉTRICA: UM MINI-GUIA | Colunistas

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Devido aos avanços tecnológicos, o exame ultrassonográfico vem sendo utilizado, cada vez mais, nas diversas especialidades médicas. A ultrassonografia é consolidada como importante ferramenta na Ginecologia e Obstetrícia. Dessa forma, é importante que fique por dentro da sua utilização na Obstetrícia, principalmente, como peça fundamental à assistência pré-natal.

QUANDO DEVO SOLICITAR?

A ultrassonografia (US) obstétrica é uma aliada quando se trata de assistência pré-natal. Então, pense nas suas indicações, sendo as principais:

§   Confirmação, datação e localização da gestação;

§   Determinação do número de fetos, batimentos cardíacos fetais (BCF) e situação, apresentação e posição fetal;

§   Avaliação do volume de líquido amniótico e da placenta;

§   Acompanhamento de crescimento e vitalidade fetal;

§   Rastreamento de cromossomopatias e pré-eclâmpsia;

§   Diagnóstico de malformações estruturais fetais;

§   Investigação de hemorragias da gestação;

§   Orientação de procedimentos invasivos.

QUAL O PERÍODO ADEQUADO?

Caso a sua intenção seja confirmar ou datar a gestação daquela paciente que chegou com a queixa de menstruação atrasada e um beta-hcg positivo, o exame deve ser solicitado o quanto antes e pela via transvaginal.

Já as ultrassonografias morfológicas de 1º e 2 º trimestres devem ser realizadas entre 11 a 13 semanas + 6 dias e 18 a 22 semanas, respectivamente.

POR QUE DEVO SOLICITAR?

– ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL:  A idade gestacional (IG) pode ser estabelecida a partir da visualização do saco gestacional intra-uterino e com a presença do embrião em seu interior.  O cálculo da IG pode ser realizado através da medida do Diâmetro Médio do Saco Gestacional (DMG) e/ou do Comprimento Cabeça-Nádega (CCN). (Figura 1)

Caso a medida do CCN ultrapasse 84mm, deve-se estimar a idade gestacional a partir de outros fatores como o DBP (diâmetro biparietal) e CC (circunferência cefálica), principalmente.

Figura 1. 
Fonte: ISUOG

– CRESCIMENTO E VITALIDADE FETAL: Se partir do princípio da existência de fatores de risco ameaçadores à gestação, deve ser realizado acompanhamento específico da evolução gestacional.

O Crescimento Fetal é mensurado, principalmente, pelo Peso Fetal, estimado pela Biometria Fetal, que inclui Diâmetro Biparietal (DBP), Comprimento do Fêmur (CF) e Circunferências Cefálica (CC) e Abdominal (CA).

A Vitalidade Fetal leva em consideração o crescimento fetal, a morfologia e o Perfil Biofísico Fetal (PBF), que engloba o comportamento fetal e avaliação do líquido amniótico (LA). Na avaliação semiquantitativa do LA, deve ser considerada dentro dos limites de normalidade a medida do maior bolsão entre 2 e 8cm.

A estimativa do PFB engloba as seguintes variantes biofísicas: movimentos corporais e respiratórios fetais, reatividade cardíaca, tônus fetal e valor quantitativo do volume do líquido amniótico.

Integra-se a essa avaliação, o Doppler!!

O Doppler auxilia na avaliação da artéria umbilical, cerebral média e ducto venoso. A partir da medida de resistência desses vasos é possível detectar alterações da circulação útero-placentária e possíveis repercussões hemodinâmicas no feto.

– MALFORMAÇÕES FETAIS:  A US morfológica detecta cerca de 85% das malformações, como mielomeningocele, anencefalia, fendas faciais, onfalocele, entre outras.

– ANEUPLODIAS FETAIS: O rastreamento tem como objetivo informar os riscos e auxiliar nas tomadas de decisões.

–  RASTREAMENTO DE PRÉ-ECLÂMPSIA:  A doença hipertensiva gestacional afeta 10% das gestantes, e a incidência global fica em torno de 3%, aproximadamente. Aqui, o Doppler auxilia na avaliação das artérias uterinas utilizando o Índice de Pulsatilidade (IP) como principal preditor da condição clínica (Figura 2). Porém, por se tratar de uma condição multifatorial, se torna importante apresentar uma estratégia combinada: uma boa anamnese e exame físico (para investigação de fatores maternos) aliados à avaliação de marcadores bioquímicos séricos, como PAPP-A (proteína plasmática A associada à gravidez) e PIGF (fator de crescimento placentário).

Figura 2.
Fonte: ISUOG

Importante salientar que, mesmo se tratando de um exame obstétrico, alterações anatômicas ou patologias vaginais podem ser visualizadas ou pressupostas durante o exame.

CONCLUSÃO

Após esse breve mergulho no mundo de possibilidades do exame ecográfico fetal, tenho certeza de que você se tornará um expert nas solicitações das ultrassonografias obstétricas. Os métodos de avaliação fetal anteriores eram bem limitados, mas se torna nítida a evolução tecnológica e prognóstica que a Ultrassonografia consolidou. Se tornando, dessa forma, uma ferramenta complementar importante na Medicina.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

– KYPROS H. NICOLAIDES. Some thoughts on the true value of ultrasound. Ultrasound Obstet Gynecol 2007; 30: 671–674 Published online in Wiley InterScience (www.interscience.wiley.com). DOI: 10.1002/uog.5156 Editorial

– ISUOG Practice Guidelines: performance of first-trimester fetal ultrasound scan. Ultrasound Obstet Gynecol 2013; 41: 102–113 . Disponível em https://www.isuog.org/uploads/assets/uploaded/4daa1ea7-bc64-4c24-b81b17df5a684a38.pdf;

– ISUOG Practice Guidelines: role of ultrasound in screening for and follow-up of pre-eclampsia. Ultrasound Obstet Gynecol 2018 Published online in Wiley Online Library (wileyonlinelibrary.com). DOI: 10.1002/uog.20105. Disponível em < https://www.isuog.org/uploads/assets/uploaded/14e78edc-7c46-4e3f-a13d6f563be6a9cb.pdf>;

– L. J. SALOMON, Z. ALFIREVIC, V. BERGHELLA,. Practice guidelines for performance of the routine mid-trimester fetal ultrasound scan. Ultrasound Obstet Gynecol (2010) Published online in Wiley Online Library (wileyonlinelibrary.com). DOI: 10.1002/uog.8831. Disponível em < https://www.isuog.org/uploads/assets/uploaded/fdae60c8-4825-46d3-924df9b8d39d5582.pdf>;

– ISUOG Practice Guidelines: ultrasound assessment of fetal biometry and growth. Ultrasound Obstet Gynecol 2019; 53: 715–723 Published online in Wiley Online Library (wileyonlinelibrary.com). DOI: 10.1002/uog.20272. Disponivel em < https://www.isuog.org/uploads/assets/uploaded/74ebbe42-863b-4d8f-a6b0e06a416c5f2e.pdf>;