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Tricotilomania: etiologia, tratamento e mais

Mulher observando atentamente seu couro cabeludo em um espelho, com foco na área afetada pela tricotilomania.

Índice

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A tricotilomania (TTM) caracteriza-se como um comportamento compulsivo de arrancar fios de cabelo ou pelos do próprio corpo. Frequentemente, o indivíduo sente uma necessidade incontrolável de realizar esse ato, que pode atingir diferentes áreas corporais, como cabelos, sobrancelhas, pelos pubianos, entre outras. Em alguns casos, esse comportamento associa-se a ingestão dos fios arrancados, comportamento conhecido como tricofagia.

A TTM foi alocada pelo manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais em sua 5º edição (DSM-5), dentro do capítulo de transtornos relacionados ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), juntamente com o transtorno dimórfico corporal (TDC), transtorno de acumulação e transtorno de esfolamento.

Epidemiologia da tricotilomania

Estima-se que tricotilomania apresenta uma prevalência estimada entre 0,6% e 3,4% na população geral, sem distinção significativa entre os gêneros durante a infância.

No entanto, na idade adulta, a condição é consideravelmente mais comum nas mulheres do que nos homens, alcançando uma proporção de até 10:1, com alguns estudos demonstrando uma relação ainda maior, chegando a 14:1.

Em relação à faixa etária, a tricotilomania é mais frequente na infância e adolescência, atingindo seu pico em torno dos 13 anos, coincidente com o início da puberdade.

Etiologia da tricotilomania

A etiologia da tricotilomania parece ser multifatorial, com fatores genéticos, neurobiológicos e psicossociais envolvidos.

Enquanto as abordagens biológicas buscam identificar os mecanismos fisiopatológicos envolvidos no ato de arrancar cabelos, as teorias comportamentais fornecem um contexto para compreender a manifestação e os mecanismos de funcionamento. Essas perspectivas não são conflitantes, mas complementam-se, proporcionando uma visão mais ampla sobre o tema.

Embora os avanços na compreensão sobre a origem da tricotilomania tenham sido significativos, ainda não há um consenso claro sobre os fatores causadores dessa condição. Entretanto, várias hipóteses são consideradas relevantes do ponto de vista etiológico e, dessa forma, merecem investigações mais aprofundadas para confirmação.

Fatores genéticos

Vários estudos familiares mostraram maior taxa de transtorno em parentes de 1º grau de pacientes com tricotilomania, além de maior histórico familiar de transtornos ansiosos e de humor.

Fatores psicossociais

Existem teorias neuropsicológicas e comportamentais que evidenciam que boa parte dos pacientes relatam breve alívio de sentimentos aversivos (tristeza, ansiedade, tédio ou raiva) ao arrancar o cabelo, criando assim um reforço para tal comportamento.

Modelos comportamentais

Alguns autores associam o ato de arrancar cabelos com comportamentos animais, como lamber o pelo ou bicar as pernas, por exemplo. Para os autores, tais comportamento surgem como uma resposta a situações estressantes ou ambientes empobrecidos.

Há ainda a proposição de que o ato de arrancar cabelos faça parte de um grupo de comportamentos, como chupar dedos ou roer unhas. Considera-se tais comportamentos como tentativas de redução de tensão.

Outro modelo proposto consiste no Modelo de Regulação de Estímulos, indicando que a TTM pode ocorrer devido a disfunção dos mecanismos que equilibram os níveis de tensão no sistema nervoso, possivelmente relacionados a predisposições genéticas que afetam os sistemas serotoninérgico e dopaminérgico. Nesse contexto, a tricotilomania seria, portanto, um comportamento autodestrutivo utilizado para regular esse estado de desequilíbrio sensório.

Modelos psicodinâmicos

Teorias psicanalíticas sugerem que o ato de arrancar cabelos caracteriza-se como uma manifestação simbólica de conflitos inconscientes ou um reflexo de relações interpessoais fragilizadas.

Além disso, algumas hipóteses apontam que esse comportamento pode ser uma forma de lidar com a realidade ou de reagir a ameaças relacionadas à perda de vínculos afetivos.

Modelos neurobiológicos

Estudos utilizando neuroimagem, como tomografia por emissão de pósitrons (PET-scan) e ressonância magnética (RM), indicaram alterações no sistema nervoso de indivíduos com tricotilomania. As regiões com alterações incluíam cerebelo, regiões parietais e putâmen esquerdo.

Além disso, identificou-se maior densidade de substância cinzenta no corpo estriado esquerdo, na formação amígdalo-hipocampal esquerda e na região cortical bilateralmente, implicando disfunções na aprendizagem de hábitos, regulação emocional e cognição.

Manifestações clínicas da tricotilomania

Qualquer área corporal que tenha pilificação pode ser alvo do paciente. Porém, as áreas mais afetadas são couro cabeludo, sobrancelhas e cílios.

O paciente pode descrever gatilhos para tal ação, como sensações de prurido no couro cabeludo, incômodo com a espessura ou comprimento do fio. Além disso, também pode ocorrer gatilhos emocionais como sentir-se ansioso ou tenso, estar com raiva ou tédio.

Ademais, a tricotilomania pode vir seguida de vários rituais como tentar retirar a raiz capilar intacta, manipular o pelo tanto com as mãos como de forma oral, chegando até a sua ingestão.

Outro ponto importante nos pacientes com tricotilomania é a relutância em buscar atendimento especializado. Por fim, esse transtorno apresenta-se com um curso crônico com remissões e recidivas se não tratado.

Classificação

Cada tipo de agressão aos cabelos possui uma denominação específica, sendo essencial essa diferenciação para o manejo adequado do paciente. Portanto, classifica-se a agressão aos cabelos em:

  • Tricotilomania: arrancar compulsivamente os cabelos
  • Tricotemnomania: cortar os cabelos rente ao couro cabeludo com objetos cortantes
  • Tricofagia: hábito de ingerir cabelos
  • Tricoteiromania: esfregar ou friccionar o couro cabeludo
  • Pseudoalopecia do couro cabeludo: coçar compulsivamente o couro cabeludo
  • Tricoptomania: cortar os cabelos com as unhas de forma compulsiva
  • Plica neuropática: formação de massas de cabelos emaranhados.

Além disso, há a Síndrome de Rapunzel, que caracteriza-se pela combinação de uma dessas condições com tricofagia, resultando na formação de tricobezoar que acumula-se no sistema digestivo, podendo causar obstrução intestinal.

Diagnóstico da tricotilomania

Alguns validadores diagnósticos da tricotilomania incluem:

  • Ato recorrente de arrancar o próprio cabelo ou pelos;
  • Tentativas repetidas de reduzir ou parar essa ação;
  • O comportamento traz sofrimento e prejuízo significativo em várias áreas para o paciente, seja social, acadêmica, familiar e até estética;
  • Esse comportamento não é mais bem explicado por doença dermatológica ou outro transtorno mental como, por exemplo, o transtorno dismórfico corporal.

Comorbidades associadas a tricotilomania

Alguns transtornos associam-se à presença de tricotilomania, sendo os mais comuns:

  • Transtorno depressivo maior
  • Transtorno de ansiedade generalizada
  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
  • Transtorno pelo uso de substâncias (drogas ilícitas, tabaco e álcool)
  • Fobia social e fobia específica
  • Transtorno de escoriação
  • Roer unhas patológico
  • Transtorno distímico.

Diagnóstico diferencial

Frequentemente, confunde-se a tricotilomania com outros transtornos. Diante disso, os principais diagnósticos diferenciais serão revisados abaixo.

Remoção/manuseio normal dos cabelos

O diagnóstico de tricotilomania não deve ser feito se a remoção dos cabelos for realizada por uma questão estética (tipos de cortes de cabelo).

Indivíduos podem enrolar ou brincar com o cabelo utilizando a mão, ou podem também apenas mordê-los, sendo que esses comportamentos não são critérios diagnósticos.

TOC e transtornos relacionados

O TOC caracteriza-se por pensamentos obsessivos intrusivos seguidos de compulsões que podem envolver rituais como de simetria, fazendo o paciente acabar arrancando o cabelo pela questão simétrica.

A tricotilomania é frequentemente confundida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), sendo que ambas as condições podem coexistir em até 13% a 27% dos casos. Essa confusão ocorre devido à semelhança entre o ato repetitivo de arrancar cabelos e os rituais compulsivos característicos do TOC, o que levou ambas as condições a serem incluídas no mesmo capítulo do DSM-5.

Transtornos do neurodesenvolvimento

Arrancar o cabelo pode ser estereotipias de transtornos do neurodesenvolvimento, como Tourette, Prader-Willi, sendo mais observados em crianças.

Transtornos psicóticos

O ato de arrancar o cabelo pode ocorrer por causa de alucinações ou delírios.

Tratamento da tricotilomania

O tratamento da tricotilomania inclui estratégias farmacológicas e não farmacológicas, que serão revisadas nos blocos a seguir.

Farmacológico

Para a tricotilomania, não há muitos ensaios clínicos com medicações, e mesmo os existentes mostraram poucas evidências de eficácia de qualquer classe medicamentosa, ficando o uso da farmacoterapia mais indicada para o tratamento de comorbidades psiquiátricas.

As medicações mais utilizadas até o momento são:

Os antidepressivos que apresentam propriedades serotoninérgicas são bem descritos na literatura. Clomipramina, por exemplo, apresenta um efeito “antitricotilomaníaco”, mas a resposta a longo prazo varia entre os indivíduos.

Além disso, antipsicóticos atípicos (olanzapina, aripiprazol e quetiapina) também podem ser utilizados. No caso do aripiprazol, há um maior risco de acatisia e no caso da olanzapina e quetiapina, pode haver piora do perfil glicêmico e lipídico.

Não farmacológico

Além da psicoeducação, a psicoterapia caracteriza-se por ser um dos pilares no tratamento dos pacientes com tricotilomania, com maiores evidências de eficácia quando há associação com a farmacoterapia.

Recomenda-se, portanto, como medidas não farmacológicas a realização de terapia cognitivo comportamental e reversão de hábitos.

Terapia cognitivo comportamental

A terapia cognitivo comportamental corresponde a técnica com mais evidências científicas de eficácia.

Consiste em modificar cognições e comportamentos inadequados, que podem estar levando à manutenção de um determinado transtorno psiquiátrico, para comportamentos mais adaptados que causem menos sofrimento.

Reversão de hábitos

A reversão de hábitos compartilha princípios essenciais da TCC e tem como objetivo reverter o reforço positivo (arrancar o cabelo ou beliscar a pele para amenizar condições emocionais desagradáveis).

Ao concluir a terapia, os pacientes aprendem a monitorar e aumentar efetivamente a consistência de seu comportamento disfuncional.

Suporte social

O suporte social pode melhorar o prognóstico quando associado a outras modalidades de tratamento discutidas. É importante a elucidação do quadro para as pessoas que convivem com a paciente, visto que elas podendo oferecer uma rede de apoio maior e deixar a convivência menos estressante.

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Referências

  • AGUIAR, A. F. et al. Transtornos psiquiátricos que causam tricotilomania. Research, Society and Development, v. 11, n. 15, 2022.
  • SIDDAPPA, K. Trichotillomania. Indian Journal of Dermatology, Venereology and Leprology, v. 69, n. 2, p. 63‑68, 2003. Disponível em: https://ijdvl.com/trichotillomania/. Acesso em: 12 nov. 2025.

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