Transtorno conversivo: confira um artigo do Dr. Saulo Ciasca, médico psiquiatra, com as principais informações sobre esse quadro.
Uma paciente de 28 anos de idade, previamente saudável, chega ao pronto-socorro acompanhada pelo esposo, relatando início súbito de fraqueza e paralisia do lado direito do corpo. O episódio iniciou-se há cerca de duas horas, sem relato de trauma, febre ou outros sintomas associados. Durante a entrevista, a paciente aparenta estar ansiosa e demonstra dificuldade em verbalizar suas preocupações. O esposo comenta que isso ocorreu após terem tido uma discussão.
A avaliação inicial revela sinais vitais normais, sem alterações significativas. O exame neurológico demonstra uma aparente perda de força muscular no membro superior e inferior direitos, sem padrões consistentes com uma distribuição anatômica específica. Reflexos tendíneos estão presentes e simétricos, sem sinais de Babinski ou clônus. A sensibilidade parece reduzida no lado afetado, mas sem um padrão dermatômico claro.
Quando médicos atendem pacientes com sintomas neurológicos inexplicáveis ou sem sentido, sem uma base orgânica identificável, são comuns algumas reações emocionais como frustração, impotência, raiva, ceticismo, suspeita e até diversão/jocosidade. Além disso, quando isso ocorre, podem dizer aos pacientes com transtorno conversivo, como no caso acima, que não há nada de alterado e liberar do atendimento sem uma abordagem empática, ou apenas encaminhar ao psiquiatra sem qualquer contexto (o que aumenta a chance da pessoa não procurar o especialista).
O que é transtorno conversivo?
O transtorno conversivo é caracterizado pela presença de sintomas neurológicos que não podem ser explicados por uma condição médica ou neurológica reconhecível. Estes sintomas frequentemente incluem:
- Fraqueza
- Paralisia
- Tremores
- Crises não epilépticas
- Perda sensorial
- Ou alterações na marcha.
Como é feito o diagnóstico do transtorno conversivo?
O diagnóstico é clínico e baseado na exclusão de outras causas, bem como na identificação de fatores psicossociais subjacentes.
De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição), os critérios diagnósticos para transtorno conversivo incluem:
- Um ou mais sintomas função motora voluntária ou sensorial alterada.
- Achados físicos evidenciam incompatibilidade entre o sintoma e as condições médicas ou neurológicas encontradas.
- O sintoma ou déficit não é mais bem explicado por outro transtorno mental ou médico.
- O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo ou requer avaliação médica.
Diagnóstico diferencial do transtorno conversivo?
O diagnóstico diferencial do transtorno conversivo é amplo e inclui:
- Condições neurológicas (como acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, miastenia grave)
- Transtornos psiquiátricos (como transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático)
- E simulação.
Exames laboratoriais e de imagem, como ressonância magnética e eletroencefalograma, podem ser necessários para excluir outras causas orgânicas.
Tratamento
O manejo do transtorno conversivo envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo:
Comunicação terapêutica do diagnóstico
É importante fornecer uma explicação clara e compreensível sobre o diagnóstico à paciente e à família, enfatizando que os sintomas são reais, mas não são causados por uma doença neurológica estrutural. Durante a comunicação realiza-se um convite para o tratamento, com elementos que sugestionem a melhora ou remissão na medida em que o paciente volte a ter controle sobre o que faz ela ter determinado sintoma.
Assim, indica-se uma abordagem que enfatize os aspectos positivos do quadro, como não ser algo grave ou com prognóstico ruim (como outras doenças possíveis).
Psicoterapia
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é frequentemente eficaz no tratamento de transtornos conversivos, ajudando os pacientes a entender e modificar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para os sintomas.
Tratamento farmacológico
Em alguns casos, o uso de medicação ansiolítica ou antidepressiva pode ser necessário para tratar sintomas comórbidos de ansiedade ou depressão, que podem piorar o quadro.
Assim, o transtorno conversivo é uma condição complexa que requer uma abordagem cuidadosa e compreensiva. Portanto, o reconhecimento precoce e o manejo adequado, incluindo as reações contratransferenciais e encaminhamentos de médicos no pronto-atendimento podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Uma boa comunicação diagnóstica é a peça-chave para oferecer uma ‘saída honrosa” para os conflitos intrapsíquicos que produzem o sintoma conversivo.
Autoria
Dr. Saulo Ciasca
125035 CRM/SP
RQE 57364
Quer se preparar para prática médica em psiquiatria?
Para quem deseja aprofundar os conhecimentos e habilidades na prática clínica da psiquiatria, fazer uma pós-graduação lato sensu médica pode ser uma ótima alternativa.
Esse tipo de curso é totalmente voltado no aprendizado para a prática médica. Dessa forma, ao cursar, o profissional de medicina ganha mais segurança e aptidão para oferecer atendimentos de excelência aos seus pacientes.
Ficou interessado(a)? Você precisa conhecer a pós-graduação em psiquiatria da Sanar, que é coordenada pelo Dr. Saulo Ciasca, psiquiatra renomado e referência médica no Brasil.
Referência bibliográfica
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5ª ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing, 2013.
Sugestão de leitura complementar
Esses artigos também podem ser do seu interesse:



