Transplante de rim de porco: conheça os desafios, benefícios e o impacto desse marco na medicina moderna.
A medicina acaba de alcançar um feito inédito na busca por alternativas à escassez de órgãos para transplante. Pela primeira vez, transplantou-se um rim de porco geneticamente modificado com sucesso em um paciente vivo, marcando um avanço histórico nos xenotransplantes.
O procedimento ocorreu no Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, e representa um novo horizonte para milhares de pessoas que aguardam na fila de transplantes.
O primeiro transplante em paciente vivo
Diferente dos experimentos anteriores, nos quais implantou-se os órgãos suínos em pacientes com morte cerebral, este procedimento inovador envolveu um homem vivo com insuficiência renal terminal. Obteve-se o rim de um porco geneticamente editado para eliminar fatores que desencadeiam a rejeição imunológica, tornando-o mais compatível com o organismo humano.
O paciente, Richard Slayman, de 62 anos, já havia passado por um transplante renal anteriormente, mas o órgão transplantado falhou após cinco anos, levando-o de volta à diálise. Com poucas opções terapêuticas, ele se tornou o primeiro ser humano a receber um rim de porco geneticamente editado. O procedimento foi realizado com sucesso e, até o momento, os médicos relatam funcionamento adequado do órgão.
Por que o rim de porco?
A escolha dos porcos como doadores de órgãos não é aleatória. Eles apresentam diversas vantagens sobre primatas e outras espécies, como:
- Crescimento rápido e maturação precoce, atingindo o tamanho adequado para transplante em poucos meses;
- Facilidade de criação e reprodução em larga escala;
- Compatibilidade anatômica e fisiológica com o organismo humano.
Além disso, já utiliza-se válvulas cardíacas suínas rotineiramente em cirurgias cardíacas, e células de pâncreas de porco têm sido implantadas em pacientes diabéticos.
A evolução dos xenotransplantes
Estuda-se o xenotransplante, ou transplante de órgãos entre espécies diferentes, há décadas. Nos anos 1960, transplantou-se rins de chimpanzés em humanos, mas os pacientes não sobreviveram por muito tempo. Na década de 1980, um coração de babuíno foi transplantado para a bebê conhecida como Baby Faye, que faleceu após 20 dias.
O grande desafio sempre foi a rejeição imunológica. O organismo humano identifica as células do órgão transplantado como invasoras e inicia um processo agressivo de rejeição. A engenharia genética, no entanto, trouxe soluções promissoras, como a edição do gene que remove a molécula alfa-gal, um glicano responsável por ativar a resposta imune.
Desafios e perspectivas futuras do transplante de rim de porco
Apesar do sucesso, a adoção dos xenotransplantes em larga escala ainda enfrenta desafios científicos, éticos e regulatórios. Entre as preocupações estão:
- Possíveis rejeições tardias do órgão transplantado;
- Riscos de transmissão de vírus suínos aos humanos;
- Questões éticas sobre o uso de animais para transplantes, conforme apontado por organizações como a PETA.
Mesmo com essas barreiras, a esperança é que esses avanços reduzam a fila de espera por órgãos. No Brasil, mais de 50 mil pessoas aguardam um transplante, e a taxa de doadores caiu 12,7% entre 2019 e 2020. Nos EUA, mais de 100 mil americanos estão na fila, e 17 morrem diariamente esperando por um órgão.
A ciência deu um grande passo, e o futuro dos transplantes pode estar mais próximo do que imaginamos. O que antes parecia ficção científica agora se torna uma realidade promissora para a saúde global.
Referências bibliográficas
- CNN Brasil. “Homem recebe rim de porco geneticamente editado em procedimento pioneiro”. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/homem-recebe-rim-de-porco-geneticamente-editado-em-procedimento-pioneiro/. Acesso em: 10 fev. 2025.
- New York Times. “First pig kidney transplant in living human offers new hope”. Disponível em: https://www.nytimes.com/2025/02/10/health/pig-kidney-transplant.html. Acesso em: 10 fev. 2025.
- Revista Nature. “Advances in xenotransplantation: overcoming immunological barriers”. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-025-00001. Acesso em: 10 fev. 2025.




