Tudo que você precisa saber sobre sumário de urina: forma de realizar o exame, como avaliar um resultado e mais. Acesse e confira!
O sumário de urina é o exame indicado para avaliar alterações no sistema urinário, tanto no trato urinário alto quanto trato urinário baixo.
Logo, é um excelente exame para determinar anormalidades em órgãos como bexiga e rins. Além disso, pode determinar alterações importantes em órgãos como fígado, pâncreas e outros.
Mesmo sendo um exame com muitas indicações, estas devem ocorrer de maneira direcionada e não indiscriminada. Mantem o objetivo de esclarecer dúvidas diagnósticas e confirmação etiológica, se possível.
Nomenclaturas para o Sumário de Urina
O exame de urina pode ser conhecido por diversos nomes, a saber:
- Urina tipo 1
- Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS)
- Sumário de urina
- Urina Simples
- Exame Qualitativo de Urina (EQU)
- Exame Comum de Urina (ECU)

Formação da Urina
O entendimento sobre a formação da urina perpassa por conhecimentos anatômicos e fisiológicos dos rins e vias urinárias.
Diariamente, os rins filtram em média de 170 a 180 litros de sangue e produzem de 1,5 a 2 litros de urina, dependendo para isso de condições orgânicas favoráveis.
Em caso de anormalidades, patologias renais ou em outros órgãos, mas com ação interligada, estes valores podem sofrer alterações mínimas a drásticas e ter repercussões hemodinâmicas variadas.
Sendo assim, quantificar a quantidade de urina excretada emerge como uma boa avaliação prognóstica em muitos casos como, por exemplo, suspeita de desidratação.
Anatomia e fisiologia renal
Os rins são estruturas bilaterais com peso aproximado de 150 gramas no adulto, em forma de “grão de feijão”. Localizam-se no retroperitônio, sobre a parede posterior do abdome e tem contato íntimo com estruturas peritoneais como glândulas suprarrenais, diafragma e ureteres. Estão ao nível das vértebras T XII a LIII.

Imagem: Vista posterior dos rins. Fonte: Netter, Atlas de Anatomia Humana.
Os rins possuem uma estrutura denominada hilo renal, local de entrada e saída dos vasos, nervos e ureteres. É por onde entra o sangue a ser filtrado e saem os resíduos para excreção.
Tem revestimento pela fáscia renal, cápsula adiposa e cápsula fibrosa e na sua composição é subdividido em duas porções: o córtex renal e a medula renal.

Imagem: O rim seccionado em vários planos. Fonte: Netter, Atlas de Anatomia Humana.
Córtex
O córtex representa a porção externa, com coloração avermelhada e estrutura lisa, nele está a unidade funcional dos rins: os néfrons, local onde há produção da urina.
O néfron é formado pelo corpúsculo renal e um sistema de túbulos composto por:
- Túbulo contorcido proximal;
- Alça de Henle
- Túbulo contorcido distal;
- Túbulo coletor.
Medula
A medula renal esta situada na porção mais interna dos rins, com coloração marrom-avermelhada, formada por pirâmides renais. Nas pirâmides renais o sistema de ductos coleta a urina produzida nos néfrons e a direciona para excreção pelos ureteres.

Imagem: Representação do néfron com as seguintes porções: cápsula glomerular, glomérulo renal, túbulo contorcido proximal, túbulo contorcido distal, alça de Henle e túbulo coletor. Fonte: https://bit.ly/3eCHIA7.
Funções dos rins
Os rins tem diversas funções homeostáticas:
- Eliminação dos resíduos metabólicos;
- Regulação do balanço hidroeletrolítico;
- Regulação do equilíbrio ácido básico;
- Produção hormonal.
A formação da urina perpassa por inúmeras etapas, começando pela entrada do sangue através da arteríola aferente aos rins, artéria única, ramo da artéria aorta.
O sangue segue o trajeto do capilar glomerular ao túbulo proximal, sendo iniciado o processo de absorção e secreção de alguns elementos, dentre eles aminoácidos, ácido úrico, ureia e creatinina.
Ao longo da alça de Henle e túbulo distal, outros processos de absorção são realizados até a eliminação da urina. Veja com mais detalhes adiante as etapas de filtração, reabsorção e secreção.
Filtração
É a etapa inicial de formação da urina que ocorre ainda no corpúsculo renal pela alta pressão sanguínea que chega a essa região. O que ocorre é basicamente o extravasamento de substâncias para o interior da cápsula renal e o filtrado segue em direção ao túbulo contorcido proximal.
Reabsorção
Em torno de 65% do sódio e água presentes no fluido são reabsorvidos no túbulo proximal. Há também absorção de glicose e aminoácidos. E como ocorre a regulação deste processo? Através da secreção do hormônio antidiurético (ADH) pela neuro-hipófise.
A ação desse hormônio tem efeito no aumento de permeabilidade dos túbulos distais e túbulos coletores, realizando maior reabsorção de água e, quando o mesmo é inibido, ocorre maior secreção. Um exemplo bastante conhecido dessa inibição é pela ação do álcool no organismo.
Quem nunca passou pela situação de estar em uma festa, se divertindo com amigos e bebendo bastante, quando percebe que está indo diversas vezes ao banheiro? Então, isso ocorre tanto pelo maior consumo de líquido quanto pela inibição do ADH.
Secreção
O processo de reabsorção é muito importante para evitar perdas excessivas de água e íons. Porém, muitas substâncias precisam ser excretadas para garantir a homeostase corporal, evitar toxicidade e repercussões adversas ao organismo.
Nesse processo de secreção, que ocorre principalmente no túbulo contorcido distal, que substâncias são eliminadas. Como exemplo, estão o ácido úrico e amônia que são componentes importantes na formação final da urina.

Imagem: Processo de formação da urina. Fonte: https://bit.ly/2Zda4u1.
Após finalizado todo processo de filtração, reabsorção e secreção, a urina, já com sua composição final, irá em direção aos ureteres.
Os ureteres são estruturas que saem dos rins, pelo hilo renal, sendo ductos musculares em torno de 25cm a 30cm de comprimento. Eles possuem lúmens estreitos que conduzem a urina para a bexiga.
Composição da urina
A urina composta de água e elementos sólidos, além de partículas microscópicas e insolúveis em suspensão, como exemplos:
- Glóbulos vermelhos;
- Glóbulos brancos;
- Células epiteliais;
- Cristais;
- Bactérias ou parasitas.
O exame
O sumário de urina é um exame muito utilizado na prática médica, sendo solicitado para avaliar o sistema urinário e renal.
Com ele, podemos identificar, por exemplo uma infecção urinária, uma hiperglicemia, indicativo de insuficiência renal, entre outros.
O sumário de urina possui baixo custo e resultados em curto período de tempo, o que é uma vantagem de solicitação.
Além disso, não tem riscos, como efeitos adversos ao paciente, desde que a amostra seja coletada de forma correta pelo paciente ou profissional de saúde.
Parâmetros analisados no sumário de urina
No exame sumário de urina, avaliamos alguns parâmetros. Confira:
Físico
No aspecto físico, vamos avaliar os seguintes aspectos da utina:
- Cor
- Odor
- Aspecto
- Densidade urinária
Químico
- pH
- Proteínas
- Glicose
- Hemoglobina e mioglobina
- Bilirrubina e urobilinogênio
- Corpos cetônicos
- Esterase leucocitária e nitrito
Sedimentoscopia
- Células
- Cilíndros
- Cristais
Cuidados com a coleta no Sumário de Urina
A coleta da urina pode ser realizada tanto a domicílio, pelo próprio paciente, quanto por profissionais de saúde.
A indicação formal é coletar a primeira urina do dia, lembrando sempre de descartar o primeiro jato e coletar o jato médio. É essencial a higienização correta dos órgãos genitais, tanto masculino quanto feminino, para evitar contaminação do jato, com lavagem simples.
Deve-se levar a amostra coletada para o laboratório o mais rápido possível para evitar, por exemplo, muita movimentação e contaminação da amostra.
Outra opção de coleta, além do jato médio, é a coleta por sonda vesical. Neste caso, ocorre principalmente em pacientes hospitalizados já com sonda ou doenças crônicas que dificultem a coleta do jato médio. Outra opção, mas em condições extremas, é a punção suprapúbica.
Como analisar um resultado de sumário de urina
Os exames com o reultado do sumário de urina vez descritos de acordo com o laboratório que foi realizado. Nem sempre contém todas as variáveis citadas acima. Um exemplo de como encontramos na prática é a foto abaixo.

Para analisar, de forma didática, iremos separar por partes.
OBS.: é importante lembrar que todo exame precisa ser analisado de acordo com a clínica do paciente. Além disso, que devido ao fato do exame ser coletado em domicílio, erros podem ocorrer e interferir no resultado.
Exame físico do sumário de urina
Confira os aspectos normais e os anormais e que eles podem indicar:
Cor
Inicialmente vamos analiar a coloração da urina. Sabemos que normalmente ela varia de amarelo claro ao escuro. Alguns medicamentos e alimentos podem provocar variação dessas cores, o que deve ser questionado no momento da consulta.
Algumas patologias e ou substâncias também podem alterar essa cor. É preciso estar atento e sempre fazer associação com a clínica do paciente:
- Urina vermelha/amarelo muito escuro: presença de pigmentos como a hemoglobina, mioglobina;
- Alaranjada: pode indicar presença de bilirrubina;
- Esverdeada: pode estar associada à infecção por bactéria;
- Preta: pode estar associada à rabdomiólise ou porfiria aguda intermitente.
Aspecto
Normalmente a urina é translúcida. Caso ela se aparesente turva, deve-se atentar porque pode ter alta concentração de elementos e cristais.
Odor
Assim como a cor, o odor terá muita associação com a alimentação do paciente. Entretanto, algumas infecções bacterianas e concentrações de cetonas tem cheio característico.
Densidade urinária
Utilizamos para avaliar o grau de hidratação e a função renal. O seu teste é feito através do teste de tira reagente.
Exame químico
Confira os aspectos normais e os anormais e que eles podem indicar:
pH
O pH costuma a ter como valor de referência de 4,5 a 8. A urina, em específico, geralmente varia de 5 e 6. Entretanto, nem sempre valores acima ou abaixo são indicativos de alguma patologia, mas ajudam a sugerir a depender da clínica do paciente.
- pH > 7: pode indicar infecção urinária ou proliferação de bactéria;
- pH < 7: pode indicar acidose metabólica e dieta rica em carnes.
Proteínas e glicose
As proteínas de alto peso molecular e a glicose, fisiologicamente, não deveriam ser encontradas na urina. Quando achamos alguma delas no resultado do exame, podem indicar algumas patologias:
- Hiperglicemia (principalmente em pacientes que já tem diagnóstico de diabetes);
- Glicosúria indicado alguma distúrbio tubulares;
- A proteinúria pode indicar lesão glomerular – a depender da clínica (paaciente com doença renal, diabetes, insuficiência cardíaca, hipertensão), importante pedir o exame de urina de 24h;
- Proteinúria transitória: pode indicar infecção urinária, febre, estresse térmico, exercício intenso, por exemplo.
Hemoglobina e mioglobina
Quando é hemoglobina livre, a principal causa pensada é que está ocorrendo uma hemólise.
No caso da mioglobuminúria, geralmente está associada à quadros de rabdomiólise.
Corpos cetônicos, esterase leucocitária e nitrito
Os corpos cetônicos quando aparecem no exame podem estar associados à casos de cetoacitose alcoólica ou diabética.
A esterase leucocitária podem ser encontradas indicando que ocorreu alguma lise no granulócitos urinários. Já o nitrito, indica presença de bactéricas, uma vez que ele é o produto de conversa do nitrato no trato urinário por esses organismos.
Bilirrubina e Urobilinogênio
Esses dois elementos também não são fisiologicamente encontrados na urina. Caso esteja presente no resultado do exame, podem indicar doença hepática ou hemólise.
Sedimentoscopia no sumário de urina
Confira os aspectos normais e os anormais e que eles podem indicar:
Células
Elementos celulares que podem ser encontrados no sedimento urinário são
- Glóbulos vermelhos (hemácias): a hematúria é considerada com a presença de 2 cruzes. Ela pode ser transitória (após exercícios, relação sexual, menstruação, infecção urinária, prostatite) ou persistente (cálculos renais, malignidade e doença glomerular);
- Glóbulos brancos (leucócitos): o foco maior deve ser nos neutrófilos (associados à bacteriúria) e eosinófilos (associado à nefrite intesticial aguda);
- Células epiteliais: podem ser que qualquer parte do trato geniturinário.
Cilíndros
Os cilindros são estruturas cilíndricas formadas no lúmen tubular. Sua presença pode decorrer de alguns fatores, como:
- Estase de urina;
- Baixo pH;
- Maior concentração urinária.
Esses cilíndros podem ser de:
- Hemácia: sugere uma glomerulonefrite proliferativa subjacente;
- Leucócitos (piócitos): sugere inflamação intesticial ou glomerular. O número de piócitos na urina é de até 5 por campo ou até 10.000/ml. Acima disso consideradera-se piúria (inflamação ou infecção);
- De células epiteliais tubulares renais: quando estão presentes, indica que houve descamação em alguma parte do epitélio tubular. Pode indicar assim, necrose tubular aguda, nefrite intesticional aguda e glomerulonefrite proliferativa.
- Hialinos e cerosos: inespecíficos
- Cilíndros largos: associada à doença renal crônica (DRC) avançada.
Cristais
Os cristais encontrados são:
- Oxalato de cálcio ou fosfato de cálcio;
- Fosfato de amônio e magnésio:
- Cristais de ácido úrico;
- Cristais de cistina.
A presença deles vai depender de alguns fatores como pH, uso de medicamentos, entre outros.
Microorganismos
É possível encontrar bactérias no sumário de urina. Para ser considerado bacteriúria, preciso associar aos sintomas clínicos.
Lipídios urinários
Gotículas lipídicas, compostas principalmente de ésteres de colesterol e, em menor grau, colesterol, são comumente observadas no exame de urina em pacientes com condições associadas à síndrome nefrótica.
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Referências
- JOHNSON, Richard J. Nefrologia Clínica. São Paulo: Elsevier, 2016. 3660 páginas, Volume único.
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- RIELLA, M.C. Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.; SILVA, D.M.G.V. et al.
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