Confira neste artigo tudo que você precisa saber sobre o sistema endocanabinoide e o potencial desse medicamento no mercado.
O sistema endocanabinóide é uma complexa rede de sinalização celular que desempenha um papel crucial na manutenção da homeostase no corpo humano.
Por muitos anos esses sistema tem sido objeto de intensa pesquisa devido à sua influência em uma variedade de processos fisiológicos e patológicos. O objetivo deste artigo é te orientar sobre o contexto histórico a atuação desse sistema.
História do Sistema Endocanabinoide
O sistema endocanabinoide é um sistema farmacológico relativamente novo. Foi descoberto da década de 60 e é um tema que ainda necessita de muitas descobertas e novos estudos para avaliar seu uso clínico. O uso da cannabis como ferramenta medicinal é muito antigo.
Na china, remota mais de 2500 anos a.c. Onde era utilizado para tratamento de cólicas, dor, obstipação e epilepsia (o seu uso de epilepsia ainda é feito atualmente). Na índia, é usada há mais de 1000 anos a.c. Como hipnótico, tranquilizante, tratamento ansiedade, mania e histeria. Assírios tem relatos de uso de cannabis em 2000 a.c. Para tratamento da depressão.
Era chamada de “the drug that takes away the mind’. Na europa, a cannabis chegou pelos soldados de napoleão a partir do egito. Além disso, médicos também trouxeram da índia. Um desses médicos é o Garcia de Orta, um espanhol que viveu muitos anos da índia e em 1563 lança um livro sobre a farmacologia indiana, falando sobre diversas plantas medicinais.
Endocanabinoide no Brasil
A maconha foi trazida para o brasil em 1549 pelos africanos de forma recreativa e tranquilizante. Os cigarros índios de maconha eram utilizados para bronquite crônica e como tranquilizantes em 1888. Até o século xx, no ocidente, a cannabis era usada para tratamento médico de insônia, melancolia, mania e delirium tremis.
Na década de 1930, ainda existiam registros de uso terapêutico da cannabis. Depois disso, houve um declínio (a partir de 1924) e o marco para esse declínio foi a III conferência de ópio em genebra, na qual dr. Pernambucano disse que a maconha é até mesmo mais perigosa que o ópio.
A partir de então, o seu uso caiu, sobretudo devido ao surgimento de restrições legais. Novas medicações surgiram, como hidrato de cloral, barbitúricos e paraldeído com ações semelhantes.
Com isso, na década de 1960, surgiram estudos feitos por um pesquisador israelite macholam que desvendam a estrutura da canabis. Ele descobriu a parte psicoativa da maconha, que é o delta-1-tetrahidrocanabidioil (thc).
Dessa forma, na década de 80, vários estudos foram publicados (inclusive no brasil) mostrando a segurança na maconha e o seu uso em crises epiléticas de difícil controle.
Sistema endocanabinoide
Formado por:
- Receptores endocanabinoides;
- Endocanabinoides: compostos que atuam nos receptores;
- Enzimas.
A maconha tem compostos químicos (canabinoides sintéticos), mas no organismo existem receptores endógenos endocanabinoides para esses compostos.
Endocanabinoides
Diferentemente de outros neurotransmissores (como a dopamina, acetilcolina e serotonina), eles não são armazenados em vesículas. Eles são sintetizados apenas sob demanda e não ficam armazenados sem que haja necessidade. Além disso, diferem dos demais nt por apresentarem uma ação como mensageiros pré-sinapticos e não pós-sinaptica.
Tipos de canabinoides
- Endocanabinoides:
- São roduzidos no organismo;
- São eles: anandamida e 2-ag.
- Anadamida: tem nome químico n-araquidonoil-etanolamina. É um agonista do receptor cb1r e praticamente inativo para o receptor cb2r
- 2-ag: nome químico 2-araquidonoglicerol. Ele é um agonista completo de ambos os receptores (cbr1 e cbr2). É o ligante endógeno primário para os receptores canabinoides no snc (sendo importante na epileopsia e uso psiquiátrico).
- Fitocanabinoides: presentes em brotos e folhas de cannabis.
- Sintéticos: produzidos a partir das plantas.
Receptores dos endocanabinoides
São 2: cbr1 e cbr2.
- Cb1r: predomina no snc. Relacionado com a regulação do apetite e dor;
- Cb2r: predomina no sistema imune e fígado.
- Outros:
- Acoplados a proteína g;
- Receptores nucleares.
Localização de receptores canabinoides: cérebro, pulmão, rins e sistema imunológico. Esses receptores regulam funções biológicas através de modulação bioquímica da regulação mediada por receptor de cálcio intracelular. Com isso, quando o canabinoide se liga ao receptor, ocorre uma modificação da atividade.
Enzimas:
- Há sintetização do 2-ag a partir do dag (diacilglicerol) pela enzina daglalfa.
- Anadamida é sintetizada a partir do nape pela enzina nape fosfolipase.
Transmissão sináptica mediada por sinalização ecd retrógrada
Os endonacabinoides (edc) são produzidos nos terminais pós-sinápticos por ativação neuronal (ou seja, sob demanda, como agressão cardíaca, hepática ou qualquer outra lesão). Dessa forma, eles são produzidos pelas enzinas que falamos acima.
Quando sintetizados, eles atravessam rapidamente a membrana celular (são lipofílicos) e ativam por via retrógrada os receptores 1 localizados no neurônio pré-sináptico. Com a ativação, os receptores 1 inibirão a liberação de neurotransmissores através da supressão do influxo de cálcio. Na sequência, o 2ag pode ativar os receptores 1 localizados os astrócitos, colimando na liberação de glutamato.

Localização e funções associadas aos receptores
Cérebro: aprendizagem, memória, cognição, controle motor, ansiedade, depressão, apetite, ingestão de alimentos, sistema de recompensa, neuroproteção, sono, desenvolvimento neural.
Dessa forma, existem unções associadas ainda em vários órgãos e sistemas, como no fígado, aparelho reprodutor, sistema cardiovascular, sistema musculoesquelético, trato gastrointestinal e na nocioceptação, imunomodulação, náuseas, vômitos, pressão ocular e mais.
Fitocanabinoides
Planta da maconha: hemp. Existem aproximadamente 80 alcaloides terpenofenólicos e deles apenas 1 tem efeito psicoativo que é o thc.
Efeitos emocionais: a inalação ou ingestão de doses mais baixas da maconha aumenta a sociabilidade e sociabilidade. Além disso, as ações ansiolíticas e euforizantes são o maior incentivo para o uso recreativo. Desse modo, em uma menor proporção de usuário, apresentam disforia, crises de ansiedade, fobia e sintomas paranoides. A chamada “bad trip”.
Efeitos colaterais: fatores que influenciam na resposta:
- Baixas doses: euforia, hilariedade, relaxamento, alterações na percepção, sobretudo de distancias, predispondo a acidentes;
- Doses altas: medo, agitação, manifestações psicóticas, problemas na atenção e memória. Porém, algumas pessoas com menor sensibilidade têm esses efeitos mesmo com doses baixas.
Thc: parte psicoativa da maconha. Tem uma atividade bifásica – efeitos em doses baixas podem ser opostos ao de doses elevadas (disfórico, psicótico).
Efeitos colaterais: assim, o mais grave são sintomas psicóticos, como a sensação de desrealização, despersonalização, paranoia e alucinações;
Assim, pode gerar 2 condições:
- Psicose tóxica (aguda): associado a sintomas no momento do uso – euforia, distorções perceptivas, rebaixamento da consciência, alterações cognitivas, sobretudo na atenção.
- Psicose funcional (crônica): a psicose tóxica pode ser duradoura e gerar psicose funcional. Sintomas de esquizofrenia, como ideação paranoide, mas sem rebaixamento de consciência e alteração cognitiva. Parece ocorrer em indivíduos predispostos. Relação com frequência e duração de uso, dose e associação com outras drogas.
Uso a longo prazo
Sobretudo em adolescentes pode levar a sequelas cognitivas e afetivas, a chamada síndrome avolicional. Dessa forma, essa sídrome ocorre quando o indivíduo que usa maconha durante um período prolongado desenvolve:
- uma falta de vontade;
- falta de pragmanistmo;
- embotamento;
- problemas no processamento de informações;
- vigilância, memória de trabalho;
- fluência verbal;
- problemas na atenção sustentada;
- tomada de decisões; e
- na função executiva. Desse modo, está associada a alterações no metabolismo cortical e hipocampal.
Uso clínico da canabis
Doença de parkinson
Estudos mostram que existe uma melhora nos sintomas não só nos psicóticos, como também motores, sem piora dos sintomas cognitivos (o que ocorreria no uso de antipsicóticos). A dose inicial é sempre baixa (150mg/dia).
Sono
Existem estudos com benefícios para insônia não associada a outros sintomas físicos ou psiquiátricos. A dose no estudo foi de 160mg.
Ansiedade
Sobre a ansiedade, sem dúvida, há estudos recentes e em andamento. Além disso, existe um estudo duplo-cego que mostrou efeito semelhante ao diazepam (10mg) e 300mg de cbd.
Autismo
Existem alguns estudos publicados que mostram o efeito na modulação do processo autoimune. Assim, há possibilidades de gerar efeitos positivos no tratamento de doenças que envolvem neuroinflamação (plausibilidade biológica).
Dessa forma, existe uma melhora em relação ao sono, ansiedade, hiperatividade, ataques de raiva, automutilação. O composto utilizado apresenta mais cbd em relação a dose de thc, semelhante a epilepsia. Houve piora de ansiedade em 23%.
Produtos no mercado ricos em thc e cdb (canabidiol)
As plantas das quais se extrai a cannabis medicinal é o cânhamo e a maconha.
O cânhamo tem um teor mais alto de cdb, enquanto a maconha apresenta alto teor de thc. Nas condições psiquiátricas, a maior quantidade de cdb é mais interessante.
Não descarbaxilado: existem formas ácidas, não descarboxiladas, justamente produzidos pelas plantas. São mais seguros não só para evitar psicose como também para melhorar a auto-imunidade. Há mais utilização para: dor, neuropatia, fibromialgia, insônia, enxaqueca.
Descarbaxilado: há conversão dos canabinoides em cbd. Indicação: demência de alzheimer, parkinson, autismo, depressão, ansiedade, transtorno alimentar, epilepsia, tept.
Doses
Começar em doses baixas, com aumento gradual a cada semana, observando os efeitos. Começar com 2mg/kg/dia, dividindo em 2 a 3 administrações. Aumentar 1m/kg/semana. A via de administração preferível é a sublingual, pois permite que os níveis sanguíneos sejam mais altos. Quando se usa o cbd isolado sem thc, são necessários doses mais altas.
Fármacos disponíveis no brasil
- Mevatyl: doses mais altas de thc. Utilizada para esclerose múltipla e distonias;
- Canabidiol: é o canabidiol puro, isento de thc. Com desenvolvimento em um laboratório brasileiro, possui utilização em tratamentos de condições psiquiátricas.
- Óleo esperança: é artesanal e não é sintético. Tem na forma carboxilada e descarboxilada.
Pós-Graduação em Medicina Endocanabinóide
A Pós-Graduação em Medicina Endocanabinóide possui contribuição não só na prática clínica voltada para terapia endocanabinóide, como também para as práticas nas aréas gerais.
O curso ensina e exemplifica como realizar aplicações e prescrições dos compostos canabinóides. Além disso, também existem abordagens sobre questões jurídicas para melhor compreensão do médico atuante.
Pós-Graduação na Sanar
A Pós-Graduação em Medicina Endocanabinóide na Sanar possui diferenciais que serão fundamentais no currículo e confiança do paciente com o médico. Um dos principais diferenciais do curso realizado na Sanar é o reconhecimento do MEC (Ministério da Educação).
Além disso, o curso é 100% EAD. Dessa forma, você poderá adequar seus horários para conseguir concluir o curso, agregar valor aos seus pacientes e ao seu currículo.