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SARS-CoV-2 e as doenças cardiovasculares: qual a relação?

SARS-CoV-2 e as doenças cardiovasculares: qual a relação?

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Primeiro, vou te mostrar alguns dados. Um estudo feito na China e cujos dados foram divulgados pela Our World in Data, apontou que a comorbidade mais frequente nos pacientes contaminados pelo vírus SARS-CoV-2 (responsável pela doença Covid-19) que evoluíram para óbito era doença cardiovascular (DCV), correspondendo a 10,5%, à frente de outras comorbidades, como diabetes (7,3%) e doença respiratória crônica (6,3%).²

Outro dado relevante foi apresentado pela Comissão Nacional de Saúde da China, que relatou que 35% dos pacientes diagnosticados com Covid-19 apresentavam hipertensão e 17% apresentavam doença cardíaca coronariana.²

Mas, o que pode explicar o agravamento da COVID-19 em indivíduos que possuem uma DCV?

Os efeitos exatos das doenças cardiovasculares na progressão da doença ainda estão sendo estudados. Uma hipótese seria o envolvimento do miocárdico direto mediado pela enzima conversora de angiotensina tipo 2 (ECA2). Notou-se que uma infecção miocárdica por ECA2 também foi desencadeada por infecção pulmonar por SARS-CoV desenvolvida em um modelo murino.²

A ECA2 tem um papel importantíssimo no sistema cardiovascular, ela é responsável por converter a angiotensina II em angiotensina 1-7, reduzindo, dessa forma, a vasoconstrição mediada pelo sistema renina – angiotensina.²

A fim de minimizar os efeitos das DCVs, são utilizados fármacos inibidores de ECA (IECA) e bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA). Há pesquisas que afirmam que estes medicamentos aumentam os níveis de ECA2, todavia, isso pode ter efeitos negativos ou positivos.²

Como SARS-CoV-2 se liga à ECA2 para adentrar as células, presume-se que o uso dos inibidores de ECA e bloqueadores de receptores de angiotensina facilitem a penetração do vírus. Por outro lado, a ECA2 tem um papel de proteção contra lesão pulmonar aguda. Estudos com pacientes com Covid-19 estão em andamento a fim de analisar o potencial de reduzir danos pulmonares com losartana, devido os indícios de que o tratamento com ECA2 recombinante e losartana reduziram o grau de lesão pulmonar.²

Decisão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)

Como os resultados dos estudos ainda são inconclusivos, em nota, a SBC recomenda uma avaliação individualizada do paciente em relação ao risco cardiovascular da suspensão dos fármacos em oposição ao risco potencial de complicações da doença.¹

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