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Policondrite recidivante: diagnóstico diferencial e manejo multidisciplinar

Médico usando máscara e jaleco, segurando documentos enquanto olha para o lado, dentro de um ambiente clínico.

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A policondrite recidivante se apresenta como uma doença inflamatória multissistêmica que compromete estruturas cartilaginosas e tecidos ricos em proteoglicanos. Embora sua prevalência seja baixa, o impacto clínico é significativo, sobretudo porque o curso da enfermidade costuma oscilar entre períodos de exacerbação e intervalos de aparente remissão.

Desde o primeiro contato clínico, a RPC chama atenção por sua heterogeneidade. Muitos pacientes procuram atendimento devido a dor auricular, alterações respiratórias ou inflamação ocular. Entretanto, outros chegam por manifestações articulares, cutâneas ou sistêmicas. Por isso, o raciocínio clínico precisa integrar diferentes sistemas orgânicos, especialmente quando o quadro não se encaixa em diagnósticos mais comuns. Além disso, o manejo exige envolvimento de várias especialidades, já que o comprometimento pode incluir vias aéreas, coração, articulações, olhos e sistema auditivo.

À medida que o estudo da doença avança, cresce a compreensão de que a RPC resulta de um processo autoimune direcionado contra componentes da cartilagem, incluindo colágeno tipo II e matrilina. Portanto, o reconhecimento precoce e o tratamento adequado não apenas controlam inflamação como também evitam destruição estrutural irreversível.

Manifestações clínicas da policondrite recidivante

O médico precisa iniciar sempre pela avaliação das estruturas mais frequentemente envolvidas. Nesse sentido, a inflamação auricular aparece como a manifestação mais característica. O paciente relata:

  • Dor intensa
  • Hiperemia
  • Edema na orelha, principalmente na cartilagem externa.

Além disso, a preservação do lóbulo ajuda o médico a diferenciar essa inflamação de infecções como celulite ou pericondrite bacteriana. Com a evolução dos surtos, a cartilagem pode deformar, motivo pelo qual muitos pacientes desenvolvem a clássica aparência de orelha em couve-flor.

Na imagem abaixo observa-se:

  • (A) Orelha normal (contralateral) em um paciente com policondrite recidivante.
  • (B) Orelha afetada no mesmo paciente.
Fonte: UpToDate, 2025.

Nariz

Do mesmo modo, o nariz pode inflamar. O paciente relata obstrução, dor ou rinorreia persistente. Em estágios mais avançados, a inflamação repetida do septo contribui para o aparecimento do nariz em sela.

Nesse ponto, a doença já indica atividade mais agressiva, razão pela qual é necessário investigar comprometimento de outros sistemas.

Abaixo observa-se uma deformidade em “nariz em sela” (seta), causada por dano à cartilagem em paciente com policondrite recidivante.

Fonte: UpToDate, 2025.

Laringe, a traqueia e os brônquios

Além das estruturas cartilaginosas externas, a laringe, a traqueia e os brônquios frequentemente sofrem inflamação. Esse fato se torna especialmente relevante porque o acometimento das vias aéreas superiores e inferiores representa uma das complicações mais graves da RPC. O paciente descreve rouquidão, tosse, estridor, dispneia ou sensação de colapso da via aérea.

Embora esses sintomas possam sugerir patologias respiratórias comuns, a associação com sinais auriculares ou nasais deve elevar a suspeita diagnóstica. Com o passar do tempo, a inflamação repetida leva ao enfraquecimento da cartilagem traqueal, o que pode gerar malácia e risco de insuficiência respiratória.

Articulações

Por outro lado, as articulações também podem inflamar. A artrite costuma ser não erosiva, migratória e assimétrica. Muitos pacientes chegam ao reumatologista com sintomas poliarticulares que lembram artrite reumatoide ou espondiloartrites. Entretanto, quando coexistem inflamações de orelha ou nariz, o diagnóstico começa a se esclarecer.

Ainda assim, é fundamental considerar que a artrite isolada nunca deve levar à confirmação diagnóstica.

Olhos

Além disso, os olhos frequentemente participam do quadro. A RPC pode causar esclerite, episclerite, uveíte e ceratite. Quando o paciente apresenta dor ocular, hiperemia ou fotofobia, a avaliação oftalmológica precisa acontecer precocemente, já que inflamações oculares repetidas aumentam o risco de perda visual.

Na imagem abaixo a área escurecida na esclera é típica da escleromalácia que pode ocorrer em pacientes com policondrite recidivante. Esse escurecimento resulta do afinamento escleral, que permite a visualização do pigmento da coróide subjacente. Manifestações inflamatórias como episclerite, esclerite, conjuntivite e irite podem preceder a escleromalácia.

Fonte: UpToDate, 2025.

Cardiovascular

Por fim, o envolvimento cardiovascular merece atenção especial. A inflamação pode comprometer válvulas cardíacas, vasos de grande calibre e aorta. Assim, o paciente pode evoluir com insuficiência valvar, aneurismas ou vasculite sistêmica.

Esse tipo de complicação modifica completamente a condução do caso, pois eleva risco de mortalidade e demanda seguimento intensivo.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial da policondrite recidivante exige abordagem sistemática, principalmente pela ausência de marcadores laboratoriais específicos. A confirmação costuma ser clínica, de modo que o médico precisa excluir patologias que simulam o quadro.

Entre as primeiras possibilidades, infecções bacterianas da cartilagem auricular surgem como hipóteses frequentes, sobretudo pericondrite ou celulite. Entretanto, essas infecções geralmente não poupam o lóbulo e costumam surgir após trauma local, o que facilita a distinção.

Além disso, granulomatose com poliangiite representa um diagnóstico diferencial importante. Esse tipo de vasculite também compromete vias aéreas superiores, olhos e pulmões. Entretanto, o acometimento renal e a presença de ANCA positivos costumam direcionar o diagnóstico. Outra condição a ser considerada é o lúpus eritematoso sistêmico, que pode causar artrite, inflamação ocular e manifestações cutâneas. Entretanto, o lócus auricular tipicamente não inflama no lúpus, o que ajuda a diferenciar.

Ao mesmo tempo, as espondiloartrites podem lembram a RPC devido à dor articular, inflamação ocular e envolvimento axial, porém não promovem inflamação recorrente de orelha ou nariz. Além dessas hipóteses, sarcoidose, amiloidose, sífilis e trauma repetitivo também enriquecem a lista de diagnósticos diferenciais, especialmente quando os achados clínicos são isolados.

Assim, o diagnóstico final depende da integração entre história clínica, exame físico, exames de imagem e, quando necessário, biópsia de cartilagem. Contudo, mesmo quando a biópsia não mostra achados típicos, o diagnóstico clínico permanece válido, desde que o quadro seja compatível.

Manejo multidisciplinar da policondrite recidivante

O tratamento da policondrite recidivante exige equipe ampla. Como a doença pode comprometer diferentes sistemas, o reumatologista assume a coordenação do cuidado, mas otorrinolaringologistas, pneumologistas, cardiologistas e oftalmologistas precisam atuar de forma conjunta.

Tratamento medicamentoso

No início do manejo, os anti-inflamatórios não esteroidais auxiliam no controle da dor em quadros mais leves. Contudo, a maioria dos pacientes necessita de corticoides sistêmicos para reduzir a inflamação. A dose varia conforme a gravidade e o sistema afetado. Envolvimento de vias aéreas, olhos ou sistema cardiovascular exige doses mais altas e redução gradual mais lenta.

Além disso, como muitos pacientes apresentam recidivas frequentes ou dependência de corticoides, agentes imunossupressores tornam-se fundamentais. Nesse contexto, metotrexato, azatioprina, micofenolato e ciclofosfamida podem ser utilizados, conforme o perfil clínico e o risco de complicações.

Em casos refratários, terapias biológicas entram como alternativa. Estudos mostram resposta positiva com anti-TNF, tocilizumabe e agentes anti-CD4. Entretanto, a escolha depende de avaliação criteriosa e monitorização rigorosa.

Avaliação e proteção das vias aéreas

Como o acometimento traqueal e laríngeo representa uma das complicações mais graves, a atenção às vias aéreas precisa ser contínua. Pacientes com estridor, tosse crônica, dispneia ou sensação de colapso inspiratório exigem avaliação urgente. A equipe de pneumologia e otorrinolaringologia deve realizar nasofibroscopia e tomografia de tórax para identificar inflamação, estenose ou malácia.

Em situações críticas, o paciente pode precisar de suporte ventilatório, colocação de stents ou até traqueostomia. Essas intervenções devem ser avaliadas cuidadosamente, já que o processo inflamatório pode dificultar procedimentos invasivos.

Monitorização cardiovascular

Como a inflamação pode comprometer válvulas e grandes vasos, o acompanhamento cardíaco precisa acontecer desde o início. Ecocardiograma e angiotomografia ajudam a identificar insuficiência valvar, aortite e aneurismas. Caso esses achados se confirmem, o cardiologista deve acompanhar progressão estrutural e avaliar tratamentos adicionais.

Cuidado oftalmológico

A avaliação oftalmológica precoce e recorrente previne complicações graves. Episclerite e esclerite respondem a anti-inflamatórios e corticoides; entretanto, uveítes graves exigem tratamento mais intensivo, incluindo imunossupressores.

O oftalmologista também orienta condutas que reduzem risco de sequelas visuais permanentes.

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Referências bibliográficas

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