Os Princípios da Saúde Planetária | Colunistas

Índice

O que é Saúde Planetária?

É nítido que nós, enquanto humanidade, passamos por inúmeras crises nos últimos tempos: sejam elas sociais, políticas, sejam elas humanitárias e ambientais. E, atualmente, vivemos uma crise provocada justamente por um desequilíbrio na forma em que nos correlacionamos com a natureza e com o meio ambiente em que estamos inseridos.

A saúde da espécie humana impacta diretamente a saúde da natureza, e vice-versa. Elas estão muito mais do que relacionadas, estão intrinsecamente conectadas. E para conhecermos com profundidade esta relação, foi criado o termo “saúde planetária”.

A saúde planetária pode receber a definição como um campo voltado para a investigação das interdependências entre a saúde dos sistemas naturais do planeta e a saúde da civilização humana. Possui o intuito de desenvolver e promover uma avaliação mais ampla, baseada em evidências científicas, para que seja possível alcançar um mundo mais equitativo, sustentável e saudável para todos.

Tendo em mente esta definição, a saúde planetária é orientada através de 12 princípios. Vamos tomar contato e ver o que cada um deles nos mostra!

O que são os princípios da saúde planetária?

Antes de mais nada, precisamos saber o que são estes princípios. Apresentam-se como um grupo de mensagens norteadoras, o qual devemos voltar nossos esforços para promover sua maior divulgação e amplo alcance. Servem também como base para se debater sobre saúde planetária, eles agem como uma ferramenta primordial para que mudanças efetivas se tornem possíveis de acontecer.

A lente da Saúde Planetária

Quando falamos sobre saúde planetária, não abordarmos apenas um ponto de vista, mas sim vários: vamos desde as ciências básicas, sociais, políticas e até mesmo as exatas e técnicas. Tudo está entrelaçado. Todas estas trabalham com o enfoque multidisciplinar, pois há muitos desafios globais em xeque. Esta convergência de esferas nos proporciona a incrível e ampla lente da saúde planetária: permitindo com que seja possível alcançar uma maior compreensão e valorização destas conexões. Além de criar um ambiente propício para o debate das causas relacionadas às mudanças ambientais, e um melhor retorno acerca dos estudos e interações que abordam a saúde humana. É uma verdadeira lente que amplia o nosso escopo de informações, com ela conseguimos ser capazes de compreender e explorar como a gestão humana da Terra se tornou o principal determinante de saúde da nossa população.

Urgência e escala

As mudanças ambientais, climáticas e planetárias provocadas pela humanidade têm trazido um enorme impacto na saúde de inúmeros seres vivos (e nós, como espécie, estamos incluídos!). Neste aspecto, a saúde planetária é impulsionada através deste senso de urgência para combater estas práticas danosas, a nível global. E para compreender com exatidão todos os fatores que estão relacionados, para se ter uma real noção da escala que está sendo lidada, utiliza-se de estudos que abordam a geografia, tempo, fatores socioeconômicos, realidades culturais e contextos políticos, que se mostram como o cerne dos desafios e também das soluções com potencial de tornar a saúde humana o mais sustentável possível num futuro breve.

Política

O ramo da política não detém uma fama tão boa, especialmente nos últimos tempos. Entretanto, a saúde planetária é movimentada através de estudos, textos e práticas políticas, na prática. É através deste campo que ocorre a formação das bases teóricas (e também técnicas) que nortearão o modo de trabalho dentro da saúde planetária. Quando levantamos os principais efeitos das mudanças ambientais, que têm como causa a humanidade, nota-se que é estritamente importante traçar um plano colaborativo para que todas as partes envolvidas tomem ciência deles, utilizando de uma comunicação que seja ao mesmo tempo acessível, mas também de alta resolutividade.

Desta forma, os esforços envolvidos poderão ser realizados de maneira efetiva: através de departamentos que determinam quais serão as políticas e práticas para determinada região ou localidade, como também as estratégias que devem ser adotadas de maneira global, visando sempre o bem-estar e saúde da população. E tal aspecto vai muito além de organizações e instituições de nível comunitário ou individual, ele alcança o âmbito familiar também, por conta da necessidade de trazer tais práticas a este nível de atenção. Há uma lacuna ainda presente relacionada às evidências literárias, e para que isto seja corrigido, torna-se necessário um maior investimento em políticas e ações voltadas às pesquisas científicas dentro deste tema em ascensão.

Organização e construção de movimento

Parafraseando aquele velho ditado: “Roma não se construiu do dia para noite, ela precisou de tempo e organização”. E isto se relaciona diretamente com o conceito de saúde planetária. Por abordar inúmeras áreas do conhecimento, e, mais do que isso, por inter-relacioná-las umas com as outras, um aspecto fundamental para não se perder o objetivo principal é a organização. Ao se elaborar as práticas e políticas relacionadas, deve-se levar em conta como que estas atingirão a população como um todo, e o modo como elas chegarão. Será através da construção de um movimento em prol da saúde planetária, que deve partir de grandes instituições inseridas em contextos governamentais, até pequenas organizações que atuam de maneira local. Todas devem conversar entre si e falar o mesmo linguajar. Para que assim, seja mais fácil alcançar a mobilização e o gerenciamento dos recursos existentes, e também, dar aos indivíduos o poder de mudança, através de um rigor crítico das soluções que são propostas para os desafios existentes.

Comunicação

Por conta do seu grande escopo de ação, a saúde planetária detém inúmeros desafios complexos também, que ultrapassam fronteiras de disciplinas, regiões socioculturais, escalas e setores. Desta forma, para que seja possível trabalhar em cima de cada um destes, uma comunicação efetiva e resolutiva se mostra como uma das principais ferramentas dentro desta temática. Muitos dos materiais, textos e manuscritos são escritos por profissionais de grande rigor científico, o que apesar de ser rico em informação, não necessariamente se traduz como acessível para a população. Assim, a maior elaboração revisional a partir destes textos é fundamental para que eles possuam um real impacto no modo de vida de um amplo número de indivíduos. A utilização de outras ferramentas, como as audiovisuais em especial, mostra-se como propulsora e facilitadora deste caminho que a informação percorre até atingir a população. É necessário mais do que tudo, tornar estas informações mais palpáveis para que sejam usadas e adotadas com maior facilidade. Além também da importância do ouvir o outro lado, desempenhando uma comunicação eficaz.

Pensamento sistêmico e colaborações transdisciplinares

Para ter uma total noção sobre o que a saúde planetária trabalha, é preciso compreender as soluções que são propostas para seus desafios complexos. Ao passo também que ela requer um maior envolvimento de inúmeros setores e ciências, para que se possa alcançar um objetivo em comum. E este entrosamento só é alcançado através um pensamento sistêmico e de uma maior integração dos saberes. Com esta força conjunta, que traz inúmeras perspectivas sobre um mesmo tema, conseguimos promover o desenvolvimento de soluções e medidas mais sustentáveis para conseguir superar os desafios complexos da saúde planetária.

Igualdade e equidade

A saúde planetária possui inúmeros objetivos que se ramificam, mas um que mais a norteia está relacionado à igualdade e equidade. Este é um tema que extrapola essa área e que permeia inúmeras discussões e debates do mundo atual: indo desde conceitos de marginalização, resiliência, vulnerabilidade e acessibilidade, até mesmo em assuntos de inclusão de minorias em serviços que são indispensáveis para a saúde. Os efeitos das mudanças ambientais, apesar de não se mostrarem como impactantes num primeiro momento em cima destes fatores, acabam se relacionando indiretamente: quando paramos para enxergar numa escala mais local, percebemos que estes efeitos heterogêneos potencializam determinadas mazelas, e também as ampliam.

Viés

O campo de estudo da saúde exige a capacidade de se pensar criticamente sobre inúmeros aspectos, como as interações sociais, econômicas e políticas e como elas podem estar ampliando as mudanças ambientais e sequelas provenientes na saúde humana. Para que seja possível este pensamento, é importante debruçar os estudos também para os possíveis vieses que surgem com ele.

Governança

A definição de governança se relaciona com o ato de estratégia usado por um líder ou por um time, nos processos de decisão e incrementação de determinadas práticas. Ao compreender estas relações de poderes fica mais fácil de se compreender como alguns desafios da saúde planetária podem ser agravados por falhas de instituições governamentais em auxiliar as populações em diversos âmbitos.

Consequências não intencionais

Muitas são as consequências que as mudanças climáticas proporcionam e que já temos ciência delas. Entretanto, existem consequências não intencionais por parte da humanidade, que podem ser inevitáveis em algumas circunstâncias. Para que seja possível se obter um maior entendimento destas, e de como precavê-las, governos, empresas e comunidades precisam praticar o exercício de uma melhor adaptação e promover hábitos mais sustentáveis em seu cotidiano.

Cidadania global e identidade cultural

Um dos ideais que mais se prega dentro da saúde planetária pode ser facilmente traduzido através da seguinte frase: “Pense globalmente, aja localmente”. Os indivíduos, enquanto espécie, devem adotar tal pensamento para si e para todas as ações que exerce em seu meio, adotando assim uma identidade cultural que favoreça um maior equilíbrio harmônico entre a humanidade e a natureza.

Vetores globais históricos e atuais

Para que possamos compreender nosso presente e mudar nosso futuro, devemos entender o passado, através dos estudos das crises humanitárias que já passamos e quais foram as lições herdadas a partir delas. Além também de não esconder nossas vistas de problemas que a humanidade cometeu anteriormente, e que ainda persistem no nosso tempo. Inúmeras populações e culturas também foram marginalizadas historicamente e são ignoradas até atualmente. Deve-se combater estes estigmas e preconceitos, para que um futuro mais sustentável seja alcançável.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Planetary Health Alliance. Planetary health: planetary health is a field focused on characterizing the human health impacts of human-caused disruptions of earth’s natural systems. Boston, MA, c2020. Disponível em: https://planetaryhealthalliance.org/planetaryhealth.

Costello A, Abbas M, Allen A, Ball S, Bell S, Bellamy R, et al. Managing the health effects of climate change. Lancet 2009; 373: 1693-733. Doi 10.1016/s0140-6736(09)60935-1.

Watts N, Amann M, Arnell N, Ayeb-Karlsson S, Belesova K, Berry H, et al. The 2018 report of the Lancet Countdown on health and climate change: shaping the health of nations for centuries to come. Lancet 2018; 392: 2479-514. Doi 10.1016/s0140- 6736(18)32594-7.

Compartilhe este artigo: