Definição
Do grego, “a” (prefixo de negação) + “hedon”
(prazer, derivado de Hedone, deusa do prazer).
Segundo o Dicionário Online de Português,
anedonia é a “falta ou perda da capacidade de sentir prazer e/ou
satisfazer-se”.
O DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais) define como “capacidade reduzida de ter prazer resultante
de estímulos positivos, ou degradação na lembrança do prazer anteriormente
vivido” e “falta de envolvimento ou energia em relação às experiências de vida;
déficits na capacidade de sentir prazer ou se interessar pelas coisas”.
Ou seja, pode ser um sintoma ou um estado
emocional caracterizado pela perda do prazer por atividades que outrora eram
prazerosas, como socialização, prática esportiva, namoro; e, ainda, falta de
energia para desempenhar ações corriqueiras, como higiene pessoal, estudo,
trabalho, etc.
Existem subtipos de anedonia, dentre os
principais: anedonia social (na qual há desinteresse/desprazer no
contato social) e anedonia física (incapacidade de sentir prazer com
contato físico, sexual ou ainda com alimentação).
Embora possa ser decorrente de condições
orgânicas, como insuficiências vitamínicas e Doença de Alzheimer, trata-se de
um sintoma muito frequente em diversos tipos de transtornos mentais, com ênfase
nos transtornos de humor. Ademais, reduz significativamente a qualidade de vida
e tem íntima relação com ideação suicida.
Pode acometer qualquer pessoa em algum momento da
vida, de modo independente da caracterização patológica, como um sintoma
isolado e passageiro. Nestes casos, sempre é preciso estar alerta para a
cronicidade ou agravamento, sendo indicada a procura médica.
Aspectos Neurológicos
Encontra-se na literatura dados referentes à
neurobiologia da anedonia, cuja explicação se baseia em déficits de várias
facetas do sistema de recompensas.
Rizvi et al (2016) resumem esse sistema
como uma associação estímulo-recompensa, ou seja, o estímulo desencadeia:
- Interesse ou
desejo; - Antecipação (estado
de prontidão para uma recompensa); - Motivação (gasto
energético inicial para buscar a recompensa); - Esforço (sustentação
do gasto energético da busca pela obtenção); - Resposta hedônica
(prazer, desfrute da recompensa); - Feedback (o que os
autores definem como “atualização da presença e valores da recompensa”.
Na ocorrência de anedonia, há déficits em algum
desses processos, inviabilizando a concretização da recompensa em si, da
sensação de prazer.
Estudos sugerem que áreas neuroanatômicas
específicas se relacionam ao processamento de recompensa, dentre elas: córtex
pré-frontal, estriado dorsal (caudado e putâmen), núcleo accumbens e amígdala.
A nível molecular, a dopamina é um dos principais neurotransmissores
envolvidos, porém, há ainda influência do ácido gama-aminobutírico (GABA) e
serotonina.
Tratamento
Como não se trata de um transtorno, mas sim de um
sintoma, a anedonia não possui tratamento específico. É preciso identificar e
tratar a causa-base, o que será feito por um profissional de saúde mental.
A psicoterapia tem grande impacto positivo,
sobretudo a terapia cognitivo-comportamental ou analítico comportamental. De
acordo com a severidade do sintoma e com o diagnóstico de base, poderá ser
indicada a terapia medicamentosa com psicofármacos.
Considerações Finais
Ressalta-se que, embora não seja um transtorno, a
anedonia não deve ser passível de normalização, uma vez que o normal/esperado
em saúde é o bem-estar, traduzido na qualidade de vida e vontade de viver.
Portanto, é preciso que os profissionais de saúde
tenham sensibilidade ante o sintoma do paciente para identificar possíveis
transtornos e tomar a conduta necessária.
É imprescindível também a autopercepção do indivíduo que se enquadra nesse padrão, para que o identifique e, assim, possa buscar tratá-lo.
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Autora: Isabela Simões
Instagram: @isasimoesm




