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Confira neste post o que você precisa saber sobre tratamento meningite!
A meningite é uma doença considerada endêmica no Brasil, esperada ao longo de todo ano e, vez ou outra, responsável por alguns surtos e epidemias no país.
Entendido isso, é mais do que importante que você, médico de uma Unidade de Terapia Intensiva, saiba oferecer o melhor tratamento possível para o seu paciente.
Para complementar o seu raciocínio, revise a etiologia e o diagnóstico dessa doença!
Orientações gerais para o tratamento da meningite
Em caso de haver um alto risco de herniação, pode ser realizado o monitoramento da pressão intracraniana (PIC) e administração de diurético osmótico a fim de manter a PIC < 15mmHg e pressão de perfusão cerebral > 60mmHg, evitando uma Hipertensão Intracraniana.
Com o auxílio de cristaloides ou agentes vasopressores, como a noradrenalina, o suporte hemodinâmico e respiratório devem visar uma pressão arterial entre 70 a 90 mmHg.
Os níveis glicêmicos do seu paciente devem se manter menores que 150mg/dL.
Havendo suspeita de que o seu paciente possa ter meningite bacteriana, as medidas devem ser de isolamento respiratório para gotículas, sendo necessário o uso de máscaras cirúrgicas durante as 24 horas iniciais após a administração dos antibióticos. Essas medidas visam evitar a transmissão, em especial, do N. meningitidis e S. pneumoniae.
Tratamento meningite bacteriana
A meningite bacteriana está associada a uma taxa muito alta de morbidade e mortalidade.
Por esse motivo, antes de ser iniciado o tratamento do paciente com meningite bacteriana, é importante realizar um avaliação pré-tratamento adequada.
Avaliação pré-tratamento
História
Alguns aspectos da história podem sugerir que um organismo microbiano específico seja o responsável pela condição do paciente. Por isso, é importante que seja interrogado ao seu paciente sobre:
- Exposição recente a alguém com meningite (sugerindo Neisseria meningitidis
- Uma sinusite ou otite média recente ou atual (sugestivo de S. pneumoniae)
- Uso recente de antibióticos (sugestivo de S. pneumoniae resistente a medicamentos )
- Viagem recente (sugerindo N. meningitidis)
- Uma erupção cutânea petequial ou equimótica progressiva (sugestivo de N. meningitidis)
- Infecção por HIV ou fatores de risco (sugerindo S. pneumoniae, Listeria monocytogenes , Cryptococcus neoformans)
- Histórico de uso recente de drogas injetáveis (sugestivo de Staphylococcus aureus)
Teste de pré-tratamento
Para que o diagnóstico da meningite seja confirmado, é importante que se tenha uma análise dos achados no líquido encefalorraquidiano através de uma punção lombar.
Uma tomografia computadorizada nem sempre é necessária, mas caso seja deve ser realizada antes da punção lombar em adultos que estejam sob suspeita de meningite bacteriana. A TC de crânio deve ser realizada se o paciente apresenta um ou mais dos seguintes fatores de risco:
- Déficit neurológico focal
- Nível anormal de consciência
- Papiledema
- Histórico de doença no sistema nervoso central (SNC), como uma lesão maciça, AVE ou infecção focal
Caso o paciente não apresente nenhum dos fatores de risco acima, as hemoculturas e a punção lombar podem ser realizadas sem a necessidade de uma TC de crânio.
Antibioticoterapia para a meningite bacteriana
Após ser realizada a coleta do líquor e os balões de hemocultura, deve ser administrada a antibioticoterapia empirica na suspeita de meningite bacteriana, sendo ela a ceftriaxone na dose de 2,0 g EV de 12/12 horas.
Em seguida, confirmado o agente, a terapêutica é ajustada para a droga mais adequada.
Devido a um aumento recente na resistência do S. pneumoniae aos derivados da penicilina e ceftriaxone, tem-se feito o seguinte esquema para meningites bacterianas comunitárias:
- Vancomicina + ceftriaxone (16-50 anos de idade).
- Vancomicina + ceftriaxone + ampicilina (> 50 anos de idade).
As doses das medicações acima devem ser:
- Vancomicina: 15 mg/kg de 12/12 horas ou 8/8 horas (manter vancocinemia após quarta dose entre 15 e 20 μg/mL).
- Ceftriaxone: 2,0 g, 8/8 horas.
- Ampicilina: 2,0 g, EV, 4/4 horas.
O tempo de tratamento é variado a depender da resposta clínica do paciente.
Geralmente, na meningite meningocócica utiliza-se penicilina cristalina em doses elevadas ou ceftriaxone por 7 a 10 dias.
A meningite por Haemophilus influenzae é tratada por 10 dias, enquanto que a por Streptococcus pneumoniae, por 10 a 14 dias.
Uso de corticoides no tratamento da meningite bacteriana
O uso dos corticoides na meningite bacteriana resulta em redução do edema cerebral, de episódios convulsivos e ainda do surgimento de sequelas (como o comprometimento auditivo), possíveis complicações da meningite.
A comparação entre resultados de estudos feitos na utilização de corticoides é dificultada por conta de critérios diagnósticos pouco precisos. Isso mostra que ainda são necessários estudos mais robustos que embasem seu uso.
Ainda assim, a administração do corticoide antes da primeira dose do antimicrobiano acontece sem distinção entre a etiologia viral e bacteriana da doença.
Em pacientes que apresentam meningite viral, de maneira geral, não é realizado tratamento com medicamentos antivirais. Em vez disso, os pacientes são apenas internados e monitorados quanto a sinais de piora do quadro, e acabam por se recuperar de maneira espontânea.
Assim, o tratamento das meningites virais é de suporte. É ofertado antitérmicos, como dipirona, antieméticos (metoclopramida) e cabeceira elevada a 30º. Caso o paciente apresente-se sonolento, deve ser utilizado sonda nasogástrica para a hidratação adequada e para que seja evitada uma broncoaspiração.
Apesar disso, alguns vírus como o herpesvírus e influenza podem provocar quadros de meningite em que seja necessário o uso de um antiviral específico. Por isso, é importante que você, como médico, esteja atento e alinhado com o resto da equipe para, assim, decidir a conduta devida.
Considerando a possibilidade de herpesvírus, pode ser ultilizado o aciclovir da seguinte maneira: 10 mg/kg/dose a cada oito horas, por 14 a 21 dias.
Referências
- Meningite: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: < https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/meningites >.
- Rodrigo Hasbun, MD, MPH, FIDSA. Initial therapy and prognosis of bacterial meningitis in adults. Disponível em: < https://bit.ly/3cU9yZd >. UpToDate
- AZEVEDO, Luciano César Pontes de; TANIGUCHI, Leandro Utino; LADEIRA, José Paulo; MARTINS, Herlon Saraiva; VELASCO, Irineu Tadeu. Medicina intensiva: abordagem prática. [S.l: s.n.], 2018.
- Meningites virais. Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória, Secretaria de Saúde de São Paulo e Instituto Aldolfo Lutz. Disponível em: < https://bit.ly/3FPLN0Y >.