Saiba como identificar, avaliar e realizar o melhor manejo para o paciente com intoxicação por uso de substâncias psicoativas. Bons estudos!
A intoxicação por uso de substâncias psicoativas tem sido cada vez mais discutida na medicina. Apesar de estar muito relacionado ao abuso de drogas, certamente uma grande preocupação é também com pacientes em tentativa de suicídio.
Considerando isso, é fundamental que o médico saiba conduzir da melhor maneira os cuidados a um paciente nessa circunstância.
Avaliação inicial do paciente com suspeita de intoxicação por uso de substâncias psicoativas
Na grande maioria dos casos, a vinda do paciente à unidade de saúde não será espontânea. Assim, a presença de familiares e amigos é valiosa nesse ponto do atendimento, por trazerem informações fundamentais sobre o paciente. Dentro dessas informações, além de ter conhecimento a respeito do consumo da droga, é importante saber em que condições o paciente foi encontrado.
Assim sendo, dentre as informações solicitadas deve-se incluir:
- Qual foi a substância psicoativa utilizada;
- Estimativa da quantidade;
- Frequência do uso;
- Duração do uso;
- Quando foi o último consumo.
Saber quando foi o último consumo é especialmente importante a fim de estimar o tempo do aparecimento dos possíveis sintomas de abstinência.

Em caso de intoxicação por uso de substâncias psicoativas, é necessário avaliar o paciente e investigar quanto ao uso prévio dessas substâncias.
Exame físico do paciente com intoxicação por uso de substâncias psicoativas
Dentro do exame físico do paciente com intoxicação por uso de substâncias psicoativas, as alterações podem ser variadas. Algumas delas são:
- Alterações de nível de consciência sem causa aparente;
- Convulsões sem história prévia;
- Acidose metabólica sem explicação;
- Arritmia cardíaca súbita;
- Antecedente de tentativa de suicídio;
- Doença aguda e inexplicável.
Por esse motivo, ter uma história clínica bem colhida pode ser de grande valor ao tentar relacionar os achados do exame físico. Apesar disso, dificilmente você terá todas as respostas às perguntas feitas a familiares ou amigos dentro da anamnese.
Assim, é importante que a conduta seja tomada rapidamente, uma vez que os efeitos acarretados devido a intoxicação podem ser imprevisíveis.
Conduta inicial com o paciente com intoxicação exógena por uso de substâncias psicoativas
Depois de fazer uma anamnese direcionada e um exame físico minucioso, é importante descartar possíveis diagnósticos diferenciais. Feito isso, é possível afastar outras condições que possam ser similares à intoxicação exógena.
Em seguida, tomar conhecimento de qual substância o paciente fez uso é fundamental. Isso será decisivo para a sua conduta. Assim, deve-se fazer um exame toxicológico, para o reconhecimento da intoxicação.
Através disso é que será feita avaliação do risco da substância em quantidades abusivas. Reconhecendo essa substância, deve-se realizar a estabilização clínica do paciente. Para isso, podem ser necessários os antídotos.
Alguns exemplos você pode observar abaixo:

Sintomas psiquiátricos associados à intoxicação por uso de substâncias psicoativas
Os sintomas que o paciente apresentará estará muito relacionado à qual substância psicoativa ele fez uso. Pensando nisso, os sintomas mais comuns são:
- Ideação e tentativas de suicídio e homicídio;
- Episódios de agitação psicomotora;
- Síndromes psicóticas, maníacas, depressivas e ansiosas;
- Coma, convulsões, alterações hemodinâmicas.
Quais exames laboratoriais devem ser solicitados ao paciente com intoxicação?
A fim de avaliar a intoxicação, devem ser solicitados alguns exames laboratoriais. Por meio deles, a condição sistêmica do seu paciente poderá ser avaliada.
Assim sendo, alguns dos exames indispensáveis no momento são o hemograma completo, função renal (ureia e creatinina, bem como K+ e Ca²+. Além deles, é necessária uma gasometria arterial, com valores de Cl e Mg, bem como lactato. Para a investigação da função hepática, solicite TGO e TGP, além dos valores de CPK.
Considerando a substância psicoativa em questão, é importante que seja feito um eletrocardiograma. É possível que alterações cardíacas, em especial no caso de drogas depressoras ou estimulantes.
Não menos importante, como não é difícil ter garantias quanto às condições do paciente durante a intoxicação, recomenda-se a realização de uma TC de crânio. Afinal, quedas ou pancadas podem estar envolvidas intencionalmente ou não ao quadro de intoxicação.
Intoxicação por Depressores do sistema nervoso central
É importante reforçar que, como comentamos, a intoxicação por psicoativos nem sempre está relacionado ao abuso de drogas recreativas. Pelo contrário, em grande parte das vezes, relaciona-se ao abuso de fármacos.
Pensando nisso, dentre os psicoativos depressores, temos os opioides, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos e álcool e derivados.
Depressores: sinais e sintomas e a síndrome de intoxicação
Como o nome mesmo diz, os depressores deprimem as funções do SNC. Assim sendo, o quadro clínico dos pacientes envolve:
- Hipotensão;
- Bradicardia;
- Depressão respiratória;
- Há maior risco quando há potencialização dos efeitos pela associação de substâncias.
Além deles, é possível que a gravidade do quadro leve o paciente a uma hipercapnia, insuficiência respiratória, ao coma e morte. Por isso, identificá-lo é de suma importância.
Uma maneira de rapidamente identificar se a intoxicação foi por opioides ou pelos outros depressores é pela pupila do paciente.
Em caso de uma pupila MUITO MIÓTICA, tem-se os opioides como causa. Não sendo esse o caso, mas houver os demais sintomas, suspeita-se de depressores como o álcool, benzos e anticonvulsivantes.
Depressores: manejo do paciente com intoxicação por uso de substâncias psicoativas
A fim dos cuidados vitais do paciente, deve-se realizar a monitorização e hidratação por via EV, em um ambiente tranquilo.
Considerando o componente depressor, o paciente deve ser posicionado em decúbito lateral, a fim de evitar possível aspiração caso vomite.
Ao descartar diagnósticos diferenciais, considere realizar HGT para afastar uma hipoglicemia, principalmente no paciente comatoso. Como já foi comentado, a TC de crânio sempre deve ser solicitada, e aqui não é diferente.
Ainda, em caso de agitação psicomotora e/ou comportamento agressivo, pode ser utilizado o haloperidol, 5mg, VO ou IM.
Intoxicação por psicoestimulantes ou agentes adrenérgicos
A intoxicação por esse tipo de componente fala mais a favor do uso recreativo de drogas ilícitas. Isso porque, dentre os psicoestimulantes mais comumente causadores de intoxicação, temos a cocaína e as anfetaminas.
Psicoestimulantes: sinais e sintomas do paciente intoxicado
O quadro desse paciente será muito diferente do intoxicado por depressores, quase que oposto à ele. Uma exceção para isso é a midríase, comum nos dois casos. Assim, teremos:
- Hipertensão arterial;
- Taquicardia;
- Taquipnéia;
- Hipertermia;
- Xerostomia;
- Midríase;
- Alterações comportamentais, ansiedade, crises de pânico, quadros psicóticos, com delírios paranoides, alterações de senso percepção, alucinações auditivas e visuais.
Como complicações, podemos ter um possível infarto agudo do miocárdio, um AVC ou mesmo arritmias.

Manejo do paciente intoxicado por psicoestimulantes
Inicialmente, deve-se explicar ao paciente que os sintomas irão desaparecer em algumas horas, mantendo-o em ambiente tranquilo, sem estímulos.
A contenção mecânica deve ser usada se o paciente se tornar violento. Pensando nisso, em casos de ansiedade muito intensa, em que o manejo não farmacológico for insuficiente, recomanda-se Diazepam 10 a 30mg VO ou 10 a 12mg IV.
Havendo depressão depressão respiratória, é recomandado ainda o Flumazenil 0,2mg IV, aplicando durante 30 segundos.
Nas reações psicóticas graves, resistentes a benzodiazepínicos: Haloperidol, 2 a 5mg VO ou IM, por 4 dias.
Intoxicação por Ecstasy ou metilenodioximetanfetamina
A intoxicação é muito menos discutida no Brasil, especialmente por não ser uma das drogas mais comuns no país. Apesar disso, a intoxicação pela droga leva a potencial risco de morte, devido a possível herniação cerebral ou falência múltipla dos órgãos.
Ecstasy: entenda os sinais e sintomas da intoxicação
Na intoxicação por Ecstasy é comum o acometimento do SNC. Devido a isso, pode-se encontrar um paciente com os seguintes achados:
- Taquicardia;
- Delírio;
- Bruxismo;
- Sintomas depressivos;
- Os efeitos graves incluem falência hepática, crises de pânico, hiperpirexia, falência de múltiplos órgãos, síndrome serotoninérgica.
Ecstasy: Manejo do paciente com intoxicação por uso de substâncias psicoativas
A prioridade para esse paciente é a garantia de uma via aérea pérvia, ventilação e circulação. É comum que haja hiponatremia e, nesses casos, deve-se iniciar a restrição hídrica. Em casos mais graves desse déficit, está indicada a reposição salina hipertônica.
A administração carvão ativado é indicada, desde que a ingestão tenha sido recente ao atendimento, cerca de 1h. Sendo esse o caso, recomenda-se o uso de 1g/kg (máximo de 50g) de carvão ativado. Além disso, é preciso que o paciente seja capaz de, sozinho, proteger a sua via aérea.

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Perguntas frequentes
- Quais são os tipos de síndromes tóxicas?
Síndrome adrenérgica, anticolinérgica, colinérgica, de hipoatividade e a acidose metabólica grave. - Quais perguntas são importantes de serem feitas aos familiares e amigos do paciente, se o estiverem acompanhando?
- Em que condições ele foi encontrado;
- Qual foi a substância psicoativa utilizada;
- Estimativa da quantidade;
- Frequência do uso;
- Duração do uso;
- Quando foi o último consumo.
3. A midríase é um achado comum em quais intoxicações?
Por depressores e psicoestimulantes.
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Referências
- American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
- ASTETE DA SILVA, A.; BRAGA, M.C; PEREIRA SOUZA, M e colaboradores. Diretoria de Política de Urgência e Emergência: Protocolo de manejo das urgências. Curitiba, 2015.
- SADOCK, BJ; SADOCK, V; RUIZ, P. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
- SCHMITT, R; COLOMBO T. Programa de atualização em psiquiatria: emergências psiquiátricas. 2012;2(1): 119-164.
Créditos: