Índice
- 1 Principais parâmetros da gasometria arterial
- 2 Interpretação da gasometria: Passo 1
- 3 Interpretação da gasometria: Passo 2
- 4 Interpretação da gasometria: Passo 3
- 5 Como diferenciar se é distúrbio misto ou resposta compensatória?
- 6 Interpretação da gasometria: Passo 4
- 7 Interpretação da gasometria: Passo 5
- 8 Excesso de Base – Base Excess
- 9 Invista em sua carreira médica
- 10 Perguntas Frequentes:
- 11 Referências
Gasometria arterial é um exame no qual a coleta é de fácil realização e o resultado rápido. Portanto, o ideal é que a sua interpretação ocorra do mesmo jeito! Por isso, você deve sistematizar a análise da gasometria!
Principais parâmetros da gasometria arterial
Os principais parâmetros que observamos no exame de gasometria arterial são: pH, pCO2 (pressão parcial do gás carbônico), Saturação de Oxigênio (SaO2), HCO3 (bicarbonato) e Ânion Gap (AG).
Entretanto, podemos encontrar outros parâmetros também como, por exemplo, a dosagem de alguns eletrólitos, são eles: sódio, potássio, cálcio iônico e cloreto, podendo variar devido ao gasômetro usado.
Valores normais dos parâmetros avaliados
- pH = 7,35 – 7,45
- pCO2 = 35 – 45 mmHg
- HCO3 = 22 – 26 mEq/L
- AG = 8 – 12 mEq/L
Interpretação da gasometria: Passo 1
Veja o pH na gasometria e identifique se o paciente está acidêmico ou alcalêmico.
- < 7,35: acidêmico.
- >7,45: alcalêmico.
Interpretação da gasometria: Passo 2
Agora que você já sabe se o paciente está em acidose, alcalose ou com pH normal, analise a PaCO2 e o HCO3 e determine se eles estão nos valores normais. Se estiverem normais, a gasometria está normal. Se ambos os valores (PaCO2 e HCO3) estiverem alterados, o distúrbio é misto.
Já see o pH estiver baixo, o paciente está em acidose.
• Metabólica: HCO3 está diminuído.
• Respiratória: CO2 está aumentado
Se o pH está alto, o paciente está em alcalose.
• Metabólica: HCO3 aumentado.
• Respiratória: CO2 está diminuído.
Interpretação da gasometria: Passo 3
Verificar se há resposta compensatória esperada. Até agora falamos dos valores de gasometria arterial sem qualquer evidência de compensação. Entretanto, se o desequilíbrio ácido-básico persiste por um período maior, o organismo tentará compensar.
Compensação é uma resposta homeostática para um desequilíbrio ácido-básico que o organismo tenta restaurar a taxa de HCO3- e PCO2 para o normal, na qual envolve ou uma resposta ventilatória (mudança na PCO2) para uma anormalidade metabólica, ou uma resposta metabólica (mudança no HCO3 -) para uma anormalidade ventilatória.
Quando o desequilíbrio ácido-básico está descompensado ou parcialmente
compensado, o pH permanece fora da faixa normal. Enquanto nos estados
totalmente compensados, o pH retorna a sua faixa normal, embora os demais valores ainda possam estar anormais.
Calcule a resposta compensatória
Acidose metabólica
- Fórmula de Winter: pCO2 esperada = 1,5 x [HCO3] +8 +/- 2
- Se a pCO2 estiver dentro da faixa esperada significa que está ocorrendo compensação. Assim, temos uma acidose metabólica COMPENSADA.
- Se estiver abaixo do valor mínimo esperado significa que está ocorrendo uma hiperventilação maior do que deveria e, por isso, existe também uma alcalose respiratória associada.
- Se o valor esperado está acima da faixa esperada, o paciente não hiperventila como deveria e, por isso, existe associação de uma acidose respiratória.
Alcalose metabólica
- A resposta compensatória deve ser uma hipoventilação a fim de reter o CO2.
- A fórmula para calcular o pCO2 esperado é: pCO2= [HCO3] + 15 +/- 2.
Acidose respiratória aguda
A resposta compensatória nesse caso é renal. Retém HCO3 ou excreta mais ácido, com posterior elevação de HCO3 na gasometria.
- HCO3 esperado = 24 + {[pCO2 atual – 40] / 10}
- Acréscimo de 1mEq/L no HCO3 para cada elevação de 10mmHg do pCO2 acima de 40mmHg.
Acidose respiratória crônica
Nos distúrbios crônicos há maior elevação de HCO3.
- HCO3 esperado = 24 + 4x {[pCO2 atual – 40] / 10}
- Acréscimo de 4mEq/L no HCO3 para cada elevação de 10mmHg do pCO2 acima de 40mmHg.
Alcalose respiratória aguda
Nesse caso, o paciente está hiperventilando e, consequentemente, expulsando o CO2.
A resposta nesse caso é renal, com excreção de HCO3.
- HCO3 esperado = 24 – 2x {[40 – pCO2atual] / 10}
- Decréscimo de 2mEq/L no HCO3 para cada redução de 10mmHg do pCO2 abaixo de 40mmHg.
Alcalose respiratória crônica
- HCO3 esperado = 24 – 5x {[40 –pCO2 atual] / 10} (variação +/- 2).
- Decréscimo de 5 mEq/L no HCO3 para cada redução de 10mmHg do pCO2 abaixo de 40mmHg.
Como diferenciar se é distúrbio misto ou resposta compensatória?
Observando o pH. Na resposta compensatória, o pH nunca se normaliza. Nos distúrbios mistos o pH pode estar normal (Exemplo: acidose metabólica e alcalose respiratória simultaneamente).
Interpretação da gasometria: Passo 4
Avaliar ânion Gap (AG). Esse passo só é válido para acidose metabólica. Se o distúrbio ácido-base foi outro, para no passo 3.
Normalmente existe no nosso organismo um equilíbrio entre as cargas positivas e negativas. O ânion gap (AG) corresponde a diferença entre cátions e ânions mensuráveis. O sódio (Na+) é a principal carga positiva, enquanto o cloro (Cl-) e o bicarbonato (HCO3-) compõem as cargas negativas. Os ânions quantificáveis são HCO3 e Cl-.
AG representa os ânions não mensuráveis no sangue, como o lactato. Pode ser calculado pela fórmula: AG = [Na+] – (HCO3 + Cl-), cujo valor normal é 8-12 mEq/L.
As proteínas plasmáticas são as principais constituintes do AG, como a albumina. Logo, em casos de hipoalbuminemia devemos corrigir o valor do ânion gap de acordo com a albumina plasmática.
Essa correção é feita através da fórmula de Figge: AG corrigido= AG + [(4,0 – albumina) x 2,5]. Porém, a regra prática é: para cada 1,0g/dl que a albumina cai abaixo de 4, devemos acrescentar 2,5 mEq/L ao ânion gap calculado.
Interpretação da gasometria: Passo 5
Calcule o Delta/Delta
Este passo deve ser feito se foi achado inicialmente uma acidose metabólica com ânion gap elevado.
A relação Delta AG/Delta HCO3 normal é entre 1 e 2. Se existe AG aumentado, há acúmulo de ácidos orgânicos. Assim, para que se mantenha o equilíbrio, deve existir uma diminuição obrigatória do bicarbonato.
Delta AG/Delta HCO3 = (AG – 12)/ (24 – HCO3)
Se o Delta/Delta < 1: acidose metabólica hiperclorêmica associada à acidose metabólica com AG elevado. Ou seja, a diminuição do bicarbonato superou a elevação do AG.
Se o Delta/Delta > 2: alcalose metabólica associada à acidose metabólica com AG elevado.
Excesso de Base – Base Excess
O componente metabólico do equilíbrio ácido-básico do sangue é refletido no Excesso de Base ou Base Excess. O bicarbonato não é a única base presente no organismo, há diversas outras que quando somadas representam o Buffer Base. Este valor é fixo, e funciona como uma espécie de valor de referência esperado para a soma das bases. Se todas as bases
somadas não correspondem ao valor de referência do Buffer Base, esse excesso é o Base Excess.
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Perguntas Frequentes:
1 – Quais os valores normais de pH, pCO2 e HCO3- na gasometria arterial?
pH de 7,35 a 7,45; pCO2 de 35 a 45 mmHg e HCO3- de 22 a 26 mEq/L.
2 – Qual a diferença entre acidemia/acidose, alcalemia e alcalose?
As palavras terminadas em -emia indicam distúrbio do pH. Assim, acidemia indica um sangue de pH ácido. Já -ose indica um distúrbio que favorece uma acidemia ou alcalemia. Por isso, podemos ter acidose sem acidemia, por exemplo.
3 – Como é calculado o ânion-gap?
É a diferença entre a concentração de sódio no sangue e a soma das concentrações de cloreto e bicarbonato!
Referências
- Carlotti APCP. Abordagem clínica dos distúrbios do equilíbrio ácido-base. Medicina (Ribeirão Preto) 2012.
- Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio ácido-base. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
- Furoni, R. et al. Disturbios do equilíbrio ácido-básico. Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, v. 12, n. 1, p. 5 – 12, 2010
- Maricondi, Wagner. Interpretação dos gases sanguíneos arterial. Maricondi. 2017
- SHELLY, P.; MELINDA, D.H.; FERRI, M. Arterial puncture for blood gas analysis. The New England Journal of Medicine, v. 364,n. 5, p. e7 , Fev 2011.
- Moura CG, Oliveira C, Souza M. Yellowbook: Fluxos e condutas de medicina interna. Salvador: SANAR, 2017.