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Exigência do uso de N95/PFF2 em países europeus | Colunistas

Exigência do uso de N95/PFF2 em países europeus | Colunistas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Sabe-se que o uso correto de máscara é uma medida de proteção significativa nas doenças respiratórias, especialmente na COVID-19. A prevenção tem como base a proteção coletiva, uma vez que pessoas infectadas podem ser assintomáticas.

Nestas doenças respiratórias, as máscaras utilizadas eram as cirúrgicas e de grau médico (N95, PFF2 e similares), mas, devido à grande demanda durante a pandemia, a organização mundial de saúde (OMS) difundiu a ideia de confecção de máscaras de pano.

Entretanto, países europeus vêm mudando suas percepções diante desta orientação, através da implementação do uso de máscaras N95 e PFF2. Imagino que você deve estar se perguntando: será que o uso de máscaras caseiras foi realmente efetivo na diminuição de casos? E por que essas mudanças ocorreram após um ano, desde o começo da pandemia?

Transmissão

Na primeira onda do COVID-19, as autoridades da saúde enfatizavam a transmissão por superfície contaminada e por gotículas (> 5 micrômetros) eliminadas pela fala, tosse, espirros e pela respiração. Na busca de limitar o contágio, o álcool em gel e a máscara caseira eram grandes aliados, mas pouco se sabia sobre a transmissão por aerossóis (< 5 micrômetros) no contexto dessa doença.

No fim de 2020, estudos revisaram as formas de transmissão e identificaram que quanto menor a exposição a aerossóis menor seria a contaminação e propagação do vírus. Deste modo, a forma mais adequada se faz com usos de máscaras de grau médico em combinação com outras medidas de saúde pública.

Máscaras: diferenças e como funcionam

No mercado há diversas máscaras com padrões equivalentes, ou seja, dispõem de alta porcentagem de proteção. Mas qual é realmente a diferença?

A PFF2 segue a norma brasileira (ABNT/NBR 13698:1996) e a europeia com capacidade de filtração mínima de 94%, enquanto a N95 segue a norma americana com capacidade de filtração mínima de 95% das partículas com até 0,3 micrômetros de diâmetro. Estas proporcionam uma vedação adequada sobre a face do usuário e possui filtro para retenção dos contaminantes presentes na forma de aerossóis.

A vedação faz com que o ar durante a respiração passe somente pelo filtro e não pelas laterais. Este filtro dispõe de dois mecanismos: mecânica e eletrostática. Na filtragem mecânica, as fibras retêm os contaminantes por impacto inercial e intercepção responsáveis pela recolha de partículas maiores, enquanto que a difusão é o mecanismo responsável pela recolha de partículas menores. Em alguns filtros fibrosos construídos a partir de fibras carregadas, funciona também um mecanismo adicional, aumentando a coleção de partículas sem aumentar a resistência respiratória. Consequentemente, é possível alcançar proteção individual como também coletiva.

Fonte: https://blogs.cdc.gov/niosh-science-blog/2009/10/14/n95/.

As máscaras caseiras não obedecerem a padrões nas confecções, isso significa que ocorre variação no nível de proteção, uma vez que carecem de uma boa vedação e filtração. Em outras palavras, quando o ar é inspirado e expirado, este passa pelas laterais das máscaras que, sem o filtro, não conseguem capturar as partículas menores como os aerossóis.

Apesar de todos esses problemas apresentados, um estudo publicado pela revista The Lancet mostrou que a transmissão era de 17,4% e caiu para 3,1% quando estas máscaras foram usadas, mesmo que apresentando falhas.

Nova variante

O SARS-coV-2 possui proteínas no seu exterior, conhecidas como Spike, que auxiliam na infecção das células. As novas variantes apresentaram mutações nessas proteínas, isso fez com que se tornassem mais contagiosas. As mudanças causadas na estrutura viral fazem com que nosso sistema imunitário não consiga detectar estas novas versões do vírus, quando este só viu a versão antiga.

Fonte: https://proec.ufabc.edu.br/epufabc/como-detectar-o-novo-coronavirus/.

Novas diretrizes e posicionamento do Brasil

Posto isso, os países europeus perceberam que haveria menos transmissão se as máscaras com filtro fossem utilizadas, mas, até o momento, a proibição de máscaras caseiras em locais públicos só aconteceu na Áustria, Alemanha e França.

No entanto, o Brasil segue as orientações atuais da OMS, para a população em geral deve ser feito o uso de máscaras de tecido (algodão ou poliéster), de preferência com três camadas, e que cubra do nariz até o queixo. As máscaras médicas devem ser usadas apenas por profissionais de saúde, pessoas com sintomas de Covid-19 ou suscetíveis, qualquer pessoa com 60 anos ou mais, bem como pessoas com condições médicas subjacentes.

Conclusão

Devido ao escasso conhecimento da doença e ao precário fornecimento de máscaras cirúrgicas e de grau médico no início da pandemia, a confecção de máscaras serviu como um plano B, porque auxiliam na redução da transmissão, mas em razão de falhas e falta de padronização não serve como equipamento de proteção individual, apenas protege outras pessoas caso você esteja contaminado.

Os países europeus mudaram suas recomendações, com o intuito de aumentar a prevenção primária, em virtude das novas cepas e por ainda estarmos no início da vacinação.

Deste modo, se as máscaras mais potentes forem utilizadas haverá diminuição nos números de casos, menos sobrecarga nos recursos de cuidados de saúde, menos hospitalizações e redução de mortes.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

Physical distancing, face masks, and eye protection to prevent person-to-person transmission of SARS-CoV-2 and COVID-19: a systematic review and meta-analysis – https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31142-9/fulltext

Máscaras de proteção – https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/patentes/tecnologias-para-covid-19/Mascaras

N95 Respirators and Surgical Masks – https://blogs.cdc.gov/niosh-science-blog/2009/10/14/n95/

N95-electrocharged filtration principle based face mask design using common materials – https://groups.oist.jp/nnp/diy-face-mask

European countries mandate medical-grade masks over homemade cloth face coverings – https://edition.cnn.com/2021/01/22/europe/europe-covid-medical-masks-intl/index.html

Máscara N95 e PFF2: por que países da Europa reprovam material caseiro e agora exigem máscara profissional – https://www.bbc.com/portuguese/geral-55794988

­­­Cartilha dúvidas frequentes –https://multimedia.3m.com/mws/media/784789O/security-booklet.pdf