Confira, neste artigo, tudo sobre doenças exantemáticas, incluindo quadro clínico, eritema infeccioso, tratamento e mais.
As doenças exantemáticas são um grupo de doenças infecciosas na pediatria cuja principal característica é a erupção cutânea.
Embora a maioria sejam doenças autolimitadas e benignas, algumas podem ser expressões de enfermidades mais graves. Tem apresentação clínica semelhante, e por isso a história, análise do tipo da lesão e investigação dos sinais e sintomas concomitantes é essencial para ajudar a inferir qual é o diagnóstico.
Dessa maneira, dentre as doenças exantemáticas clássicas, neste artigo abordaremos o eritema infeccioso e o exantema súbito.
Exantema súbito ou Roséola Infantil ou febre de 3 dias
É causada pelo herpes-vírus humano 6 (HVH6) e 7 (HVH7). Acomete apenas as crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, sendo comum nos lactentes e pré-escolares predominando nos menores de 2 anos. Não ocorre antes dos seis meses devido a proteção pelos anticorpos maternos1. Por ser um vírus altamente prevalente na comunidade acredita-se que na idade pré-escolar quase todas as crianças já estão imunes e infectadas subclinicamente, porém somente 9-17% delas desenvolveram a doença2.
A transmissão ocorre por gotículas contaminadas excretadas da saliva de adultos saudáveis portadores do vírus. O tempo de incubação é entre 5 a 15 dias (alguns autores 3 a 7 dias).
Quadro clínico
O início é súbito com febre alta e contínua. Não há toxemia, com estado geral bom e poucos sintomas respiratórios, mas a criança fica extremamente irritada e com perda de apetite devido a febre, e em até 10% das crianças causa convulsão febril. A adenopatia cervical é um achado muito frequente, assim como a hiperemia de faringe. Pode ocorrer um pródomo de sintomas inespecíficos, como diarreia leve, pápulas eritematosas na mucosa do palato mole e úvula (manchas de Nagayama), tosse, linfadenopatia, edema palpebral, abaulamento da fontanela anterior e inflamação do tímpano1,2.
A febre cessa em 3 a 4 dias quando então surge o exantema morbiliforme, também súbito, de lesões maculopapulares eritematosas, com área sã de pele ao redor, algumas rodeadas por halo claro, podendo desaparecer à compressão. Inicia-se no tronco e se disseminam para a cabeça e as extremidades. A erupção é de duração curta, desaparecendo sem deixar descamação ou hiperpigmentação dentre algumas horas a 2 ou 3 dias, podendo passar despercebido. Principalmente durante o período febril a criança é capaz de transmitir o vírus e por isso deve ser afastada da creche ou escola.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é clínico. Durante o quadro, o exame de sangue periférico revela linfocitose atípica e relativa neutropenia e o achado do HVH6 ou HVH7 confirma o diagnóstico de infecção primária. Testes para detecção de anticorpos podem ser realizados, mas precisa ser analisado com cuidado devido possibilidade de infecções crônicas (como todo vírus herpes).
O tratamento é sintomático apenas com antitérmicos devido o HVH6 ser resistente ao aciclovir e a doença ser autolimitada e benigna. Não há prevenção e contactantes de risco precisam apenas serem observados.
Doenças exantemáticas I: minuto aula de Pediatria – RM – https://www.youtube.com/watch?v=WtL8ZLo4N-c
Eritema infeccioso
É a manifestação mais comum da infecção pelo parvovírus humano B19. É benigna, assintomática na maioria dos casos e afeta predominantemente crianças e jovens com idade entre 5 e 15 anos. O parvovírus B19 também é associado a outras manifestações clínicas como artrite e artralgias poliarticulares, crise aplásica transitória, hidropsia fetal e morte fetal quando em grávidas suscetíveis, anemia crônica em pacientes imunocomprometidos e mais raramente síndrome das luvas e meias1,2.
A transmissão ocorre principalmente por gotículas das vias respiratórias, e as taxas de infecção secundária entre contatos domiciliares é alta. Possui período de incubação longo, entre 4 a 14 dias.
Quadro clínico
Em geral, não há pródomos e inicia-se com o exantema na face, de lesões eritematosas ou eritematopapulosas que confluem, tornando-se uma placa vermelho-rubra concentrada na região da bochecha e poupando quase sempre a região perioral e o queixo, conferindo aspecto de “cara esbofeteada” ou “asa de borboleta” (semelhante ao observado no lúpus eritematoso) 2.

Após 1 a 4 dias, surge um eritema reticulado no tronco e nas extremidades, em geral não pruriginoso. A lesão inicia-se como uma mácula que aumenta de tamanho, deixando a região central mais pálida, conferindo aspecto tipicamente rendilhado. Palmas e plantas são poupadas. Pode ocorrer enantema1. O desaparecimento ocorre em 1 ou 2 semanas, sem descamar e pode exacerbar ou reaparecer quando a criança é exposta ao sol, estresse, faz exercícios ou quando há alterações de temperatura.
A apresentação em geral é afebril, podendo ser acompanhada de artralgia ou artrites principalmente em adolescentes. O risco de transmissão do Parvovírus se dá previamente ao aparecimento das manifestações clínicas do rash infeccioso.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico também é clínico através da história e característica das lesões. Testes sorológicos são desnecessários em crianças saudáveis. O hemograma é normal ou com discreta leucocitose e eosinofilia. Pacientes imunocomprometidos ou com hemoglobinopatias devem ser investigados para supressão hematopoiética e detecção do vírus pela técnica do PCR.
O tratamento é sintomático quando necessário. Não há profilaxia e contactantes de risco (gravidas, imunossuprimidos ou anemia hemolítica) devem evitar o contato.
Doenças exantemáticas III: minuto aula de Pediatria – RM: https://www.youtube.com/watch?v=JfFHTeWqbZE)
Tabela: características do exantema súbito e eritema infeccioso
| Doença (etiologia) | Idade mais comum | Pródromo | Característica da lesão | Distribuição | Sinais associados | Diagnóstico |
| Exantema súbito (herpesvírus 6 e 7) | 6 meses a 3 anos | Mal-estar, febre baixa, leve diarreia | Exantema maculopapular morbiliforme coincidindo com queda da febre | Rosto, tronco: persiste por horas até 3 dias | Irritabilidade, convulsão, adenopatia cervical | Clínico, sorologia |
| Eritema infeccioso (parvovírus B19 | 5 a 15 anos | Geralmente ausente | Eritema de bochechas, eritema rendilhado ou exantema maculopapular | Áreas expostas: rosto, região extensora, membros | Fotossensibilidade, artrite, cefaleia, mal-estar | Clínico, sorologia |
Ao avaliar uma criança com doença exantemática é sempre necessário colher adequadamente a anamnese e relacionar os dados que em si podem fornecer dicas, como a idade, aparecimento dos demais sintomas (início, súbito ou insidioso, duração, relação entre o aparecimento do exantema) e o exame minucioso das características da lesão (tipo, local de início, disseminação, etc.)1.
Referências
- Dennis Alexander Rabelo Burns et al. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2017.
- Rubem David Azulay, David Rubem Azulay, Luna Azulay-Abulafia. Azuley Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
- Erythema infectiosum images. Dermnet NZ. https://dermnetnz.org/topics/erythema-infectiosum-fifth-disease-images/?stage=Live
- Eritema infeccioso – Dermatology Information System https://www.dermis.net/dermisroot/pt/11940/diagnose.htm
- Exantema súbito – Dermatology Information System https://www.dermis.net/dermisroot/pt/11929/diagnose.htm
Autor: Maria Layane Cerqueira
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