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Desvendado o Sinal de Hegar | colunistas

Desvendado o Sinal de Hegar | colunistas

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O sinal de Hegar, descrito pelo médico alemão Ernst Hegar, possui grande relevância ginecológico-obstétrica para diagnóstico da gestação, sobretudo por sua realização simples, econômica e precoce. No presente artigo, serão abordados temas relacionados à história, método de pesquisa, significado clínico e fisiológico, sensibilidade e especificidade deste sinal, bem como serão citados outros sinais pertencentes ao mesmo grupo de alterações fisiológicas da gestante ao qual pertence o sinal de Hegar, ditos de probabilidade para diagnóstico da gestação.

Antecedentes históricos

            O Sinal de Hegar leva o nome daquele que primeiro o descreveu, no ano de 1895, Ernst Ludwig Alfred Hegar, até então professor da disciplina de Ginecologia e Obstetrícia na Universidade de Freiburg, Alemanha. O trabalho de Ernst Hegar possui grande relevância no que tange à implementação de medidas de antissepsia e assepsia em procedimentos ginecológicos-obstétricos, bem como mostrou-se inovador no tratamento do vaginismo ao implementar a utilização dos chamados Dilatadores Vela de Hegar para tal; e das rupturas de períneo com prolapso genital por meio da colpoperineorrafia. Ernst Hegar nasceu em 1830, em Darmstadt, na Alemanha, falecendo em 1914, em Breisgau, também na Alemanha.

Fig. 1: Ernst Hegar.
Fonte: Google Imagens.

Pesquisa e significado clínico

            Para pesquisa do Sinal de Hegar, é necessária a palpação do istmo uterino, região estreita, levemente afunilada e alongada localizada entre o corpo e o colo do útero. Esta é realizada de forma bimanual pelo médico ginecologista através do toque vaginal e da palpação abdomino-pélvica. Os dedos inseridos na vagina, preferencialmente pertencentes à mão dominante, devem acessar o istmo uterino por meio do fórnix posterior da vagina, estando a paciente em posição ginecológica para tal. Já os dedos sobre a região abdomino-pélvica devem pressioná-la de modo a empurrar o istmo uterino em direção aos dedos inseridos no fórnix vaginal posterior.

            Quando positivo, constata-se consistência amolecida do istmo uterino, sobretudo se comparada à consistência mais endurecida do corpo e, possivelmente, do colo do útero. Desta forma, permite-se que os dedos no interior do fórnix vaginal, os quais empurram o istmo uterino anteriormente, sintam os dedos sobre a cavidade abdomino-pélvica, que empurram o istmo uterino posteriormente. A alteração de consistência desta região do útero costuma ser nítida, sendo possível delimitar de forma clara a zona de transição entre o corpo e o istmo do útero.

Um sinal de Hegar positivo é considerado um sinal de probabilidade da gestação, superior aos sinais de presunção para diagnóstico de gravidez, mas ainda inferior aos sinais de positividade. Com isso, se aliado a outros achados, tal sinal pode reforçar suspeitas e diagnosticar a condição da gestante, o que permite que medidas importantes para cuidado destas pacientes possam ser colocadas em prática precocemente. 

Fig. 2: Pesquisa do sinal de Hegar.
Fonte: Google Imagens.

Bases fisiológicas

            A presença do sinal de Hegar positivo em gestantes é justificada por uma série de alterações endométricas e miométricas da parede uterina decorrentes da ação dos hormônios da gravidez. Os estrogênios, sobretudo o estradiol, e a progesterona liberados até o terceiro ou quarto mês de gestação pelo corpo lúteo e, após este período, pela porção fetal da placenta, são os principais responsáveis, juntamente do hormônio também lúteo e placentário relaxina, por alterações colágenas uterinas, favorecendo a elasticidade de tal órgão. Estas alterações uterinas, aliadas ao relaxamento da musculatura do miométrio, além de tornarem constatável o Sinal de Hegar, permitem ao útero, como um todo, tornar-se complacente para receber o feto em crescimento, bem como facilita sua expulsão durante o trabalho de parto por redução da resistência à passagem fetal pelo canal uterino e vaginal. Vale lembrar que, além de atuar sobre o útero, a relaxina também maximiza a flexibilidade da sínfise púbica, importante para o processo de expulsão fetal.

Sensibilidade e especificidade

O Sinal de Hegar começa a ser constatado de forma precoce, na quarta semana de gestação, tornando-se mais intenso no transcorrer deste período. Costuma ser o primeiro dos sinais de probabilidade a aparecer em gestantes, embora sua ausência não exclua a possibilidade de gravidez nestas pacientes. É mais facilmente constatado em primíparas em relação às multíparas, sendo o número de partos proporcional à dificuldade de encontrá-lo.

Como dito anteriormente, para diagnóstico de gravidez, os sinais de probabilidade superam os sinais de presunção, embora sejam inferiores aos sinais de positividade. Desta forma, é menos provável que se constate amolecimento do istmo uterino por razões não gravídicas, se comparado ao constatar de melasmas, línea nigra, amenorreia, emese ou enjoos por estas mesmas razões. Geralmente, o Sinal de Hegar não se apresenta isoladamente, sendo a paciente portadora também de outros sinais de presunção, probabilidade e, se realmente grávida, positividade. A saber, os sinais de presunção geralmente são constatados pela própria paciente, levando-a a crer que está grávida, enquanto que os de positividade, constatados pelo médico ginecologista, são explicados apenas pela gestação.

Outros sinais de probabilidade da gravidez

            Os sinais de probabilidade, definidos como alterações físicas observadas pelo médico ginecologista que levantam ou reforçam a suspeita da gestação, são diversos e dotados de uma grande variedade de epônimos. Dentre eles, destacam-se o sinal de Goodell, comumente pesquisado junto do sinal de Hegar e que se mostra positivo diante do amolecimento do colo uterino constatado via toque vaginal; o sinal de Jacquemier ou Chadwick, positivo ante a tumefação, distensão venosa e coloração violácea vulvar associada ao maior fluxo sanguíneo local; o sinal de Kluge, semelhante ao de Jacquemier ou Chadwick, embora ocorra no canal vaginal; o sinal de Osiander, ligado à constatação de pulsação arterial à palpação da escavação retouterina ou fundo de saco de Douglas; e a pesquisa do beta-hCG (gonadotrofina coriônica humana) no sangue ou na urina da paciente.

Conclusão

            O sinal de Hegar, sinal de probabilidade da gravidez constatado diante do amolecimento do istmo uterino via toque vaginal e palpação abdomino-pélvica, possui grande relevância clínica para auxiliar no diagnóstico da gestação, sobretudo de forma precoce, dado seu aparecimento na quarta semana de gravidez. Através de um sinal de Hegar positivo, podem ser buscados demais sinais da gestação, sejam eles de probabilidade ou positividade, os quais aliados aos sinais de presunção já relatados pela paciente, confirmam a gravidez.

            Uma vez confirmada, podem ser implementadas medidas específicas de cuidado à gestante, sobretudo aquelas que condizem com o risco apresentado pela gestação em caso de pacientes adolescentes, em condições socioeconômicas e culturais desfavoráveis, portadoras de patologias prévias, entre outros.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

DILMEN, Nevit. Sinal de Hegar: o que é, fisiologia da gravidez, anatomia. Disponível em: https://maestrovirtuale.com/sinal-de-hegar-o-que-e-fisiologia-da-gravidez-anatomia/. Acesso em: 20 fev. 2021.

MACHINSKI, Júlia. Sinais de gravidez e os epônimos: para sedimentar de vez. Disponível em: https://www.sanarmed.com/sinais-de-gravidez-e-os-eponimos-para-sedimentar-de-vez-colunistas. Acesso em: 20 fev. 2021.

KHAN ACADEMY. Diagnóstico de gravidez | Vida e evolução. Disponível em: https://youtu.be/6aOcEneRB5w. Acesso em: 20 fev. 2021.