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Resumo do novo coronavírus (COVID-19)

Resumo do novo coronavírus (COVID-19)

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  1. Introdução

Os primeiros casos da doença COVID-19 surgiram em Wuhan, uma cidade de 11 milhões de pessoas na província chinesa de Hubei, no final de 2019. Causada pelo vírus de RNA de fita simples SARS-CoV-2, em geral essa doença é autolimitada e não causa complicações na maioria dos infectados, porém, em alguns casos, pode resultar em morte devido a danos alveolares maciços e insuficiência respiratória progressiva. Alguns estudos revelaram uma taxa de mortalidade de 2 a 3,4 %, podendo chegar a 10% em pacientes com idade avançada e comorbidades prévias.

Imagem em microscópio eletrônico do novo coronavírus
SARS-CoV-2 em microscopia eletrônica. Fonte: Nature 579 , 183 (2020)

2. Epidemiologia

Após surgir na cidade chinesa, o coronavírus se espalhou pelo mundo causando uma das maiores pandemias da história, afetando até o momento 196 países, com 416.686 casos e 18.589 mortes, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

O SARS-CoV2 apresenta menor taxa de mortalidade em relação a outros patógenos responsáveis por outros surtos em larga escala, como a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e Ebola.

No entanto, o COVID-19 levou cerca de menos de dois meses a partir da descoberta da primeira infecção para que o número de casos confirmados ultrapassasse o total atingido pela SARS ao longo de vários meses. Em três meses, o COVID-19 matou mais de cinco vezes mais pessoas que o SARS. Uma das explicações para esse fenômenos é que, embora tenha baixa mortalidade, a infecção pelo SARS-CoV-2 se espalha mais facilmente que outras doenças. Estima-se que uma pessoa infectada pode transmitir o vírus para até 2,5 pessoas.

Fonte (modificado): https://www.businessinsider.com/coronavirus-compared-to-sars-swine-flu-mers-zika-2020-3

3. Etiopatogenia

Os cientistas estão estudando para descobrir porque esse vírus se espalha tão rapidamente. Até o momento sabe-se que o SARS-CoV-2 possui uma proteína “spike” que se liga à membrana celular. Análises genômicas sugerem que essa proteína possui um local que é ativado por uma enzima da célula hospedeira chamada furina. Isso é significativo porque a furina é encontrada em muitos tecidos humanos, incluindo pulmões, fígado e intestino delgado, o que significa que o vírus tem o potencial de infectar vários órgãos.

Outro estudo que está sendo realizado no Texas identificou outro recurso que poderia explicar por que o novo coronavírus infecta células humanas com tanto sucesso. Esses experimentos mostraram que a proteína spike se liga a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) nas células humanas. A partir desse estudo foi levantado a hipótese de que pacientes em uso de BRA e IECA para tratamento de HAS e DM podem ter desfechos mais graves devido ao aumento da expressão da ECA-2 nesses pacientes, facilitando, portanto, a infecção pelo Sars-Cov-2.

A resposta imune inata ao dano tecidual causado pelo vírus pode levar à síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), na qual a insuficiência respiratória é caracterizada pelo rápido início de inflamação generalizada nos pulmões. Esses pacientes graves admitidos em unidades de terapia intensiva geralmente necessitam de ventiladores mecânicos. Imagens de TC revelaram que existe um padrão característico em “ vidro fosco ” e autópsias recentes confirmaram que os pulmões estão cheios de um conteúdo líquido claro.

O período médio de incubação é de 5,2 dias, sendo descrito na literatura casos de infecção dos assintomáticos. A transmissão do novo coronavírus ocorre através de duas formas principais: gotículas respiratórias e contato. A disseminação de pessoa a pessoa ocorre principalmente por gotículas respiratórias, semelhante à disseminação da influenza. O vírus liberado nas secreções respiratórias quando uma pessoa com infecção tosse, espirra ou fala pode infectar outras pessoas se entrar em contato direto com as membranas mucosas. A infecção também pode ocorrer por contato se uma pessoa tocar uma superfície infectada e depois tocar nos olhos, nariz ou boca.

4. Quadro Clínico

A doença apresenta um espectro clínico variável. Estudos mostraram que cerca de 80% dos casos são de pneumonia leve; 14% desenvolveram doença grave com dispneia e hipóxia e cerca de 5% apresentou doença crítica com insuficiência respiratória e disfunção orgânica. A maioria dos casos fatais ocorreu em pacientes com idade avançada ou comorbidades prévias, como doença cardiovascular, diabetes mellitus, doença pulmonar crônica, hipertensão e câncer.

Um estudo realizado com 100 pacientes em Wuhan mostrou que os sintomas mais comuns na infecção do novo coronavírus são:

  • Febre (83%);
  • Tosse (82%);
  • Falta de ar (31%);
  • Dor muscular (11%);
  • Confusão (9%);
  • Dor de cabeça (8%);
  • Dor de garganta (5%);
  • Rinorreia (4%);
  • Dor no peito (2%);
  • Diarreia (2%);
  • Náusea e vômito (1%).

As complicações mais comuns são Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG (17-29%), lesão cardíaca aguda (12%) e infecção secundária (10%). A letalidade entre os pacientes hospitalizados variou entre 11% e 15%.

4.1 Exames de imagem

 A TC do tórax em pacientes com COVID-19 geralmente demonstra opacificação em vidro fosco com ou sem consolidações, consistente com pneumonia viral. As séries de casos sugeriram que as anormalidades da TC do tórax são mais bilaterais, têm distribuição periférica e envolvem os lobos inferiores.

A) Homem de 56 anos de idade, dia 3 após o início dos sintomas: opacidade em vidro fosco focal associada a espessamento septal interlobular e intralobular suave no canto inferior do lóbulo direito. (B) mulher de 74 anos, dia 10 após o início dos sintomas: opacidade bilateral em vidro fosco periférica associada a espessamento em septo interlobular e intralobular. (C) Mulher de 61 anos de idade, 20 dias após o início dos sintomas: padrão de consolidação predominante bilateral e periférica com arredondamento alteração cística internamente (seta). (D) Mulher de 63 anos, dia 17 após o início dos sintomas: padrão misto periférico bilateral associado a broncogramas aéreos em ambos lobos inferior e superior, com pequena quantidade de derrame pleural (setas). Fonte: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30086-4/fulltext#section-7c530872-6235-4433-899c-b3f276970189

5. Diagnóstico

5.1 Diagnóstico Clínico

O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como síndrome gripal, com febre, tosse e astenia, que pode evoluir para dispneia e insuficiência respiratória grave. Deve ser investigada história epidemiológica do paciente, com viagens recentes ou contato com pessoas vindas de áreas acometidas.

5.2 Diagnóstico laboratorial

O diagnóstico laboratorial específico para identificação do vírus 2019-nCoV é realizado através das técnicas de RT-PCR e sequenciamento total ou parcial do genoma viral.

6. Atendimento inicial e manejo

No atendimento inicial deve ser levado em consideração o diagnóstico diferencial em pacientes com síndrome gripal como influenza, parainfluenza, rinovírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus e etc. É importante ressaltar que até o momento não existe nenhuma terapia específica para o COVID-19, o tratamento é baseado nas condições clínicas do pacientes com medidas de suporte.

Os casos suspeitos ou confirmados para COVID-19 que não necessitem de internamento hospitalar, devem ser orientados ao isolamento domiciliar com orientações sobre controle da infecção, prevenção de transmissão e sinais de alerta para possíveis complicações. A depender do quadro clínico, pode ser solicitado hemograma, raio-X de tórax e PCR.

Para os pacientes com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) o Ministério da Saúde traz as seguintes recomendações:

• Oxigenoterapia suplementar imediatamente para pacientes com dificuldade respiratória, hipoxemia ou choque.
• Tratamento conservador de fluidos quando não houver evidência de choque.
• Antibioticoterapia empírica para tratar todos os patógenos prováveis que
causam SRAG.
• Não é recomendado o uso rotineiro de corticosteróides sistêmicos para tratamento de pneumonia viral ou SRAG.
• Monitorar de perto os pacientes com SRAG quanto a sinais de complicações clínicas como insuficiência respiratória e sepse de progressão rápida.

Potenciais fármacos para tratamento da COVID-19 em pesquisa:

  • Remdesivir;
  • Cloroquina/hidroxicloroquina;
  • Tocilizumabe;
  • Intérferon beta.

REFERÊNCIAS

Walls AC, Park Y-J, Tortorici MA, Wall A, McGuire AT, Veesler D. Structure, function and antigenicity of the SARS-CoV-2 spike glycoprotein. BioRxiv. 2020 Jan 1, 2020;

Fang L, Karakiulakis G, Roth M. Are patients with hypertension and diabetes mellitus at increased risk for COVID-19 infection? Lancet Respir Med. 2020 Mar 11.

World Health Organization. Department of Communications. Water, sanitation, hygiene and waste management for the COVID-19 virus: technical brief. Geneva: WHO; 2020 Mar 20.

Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Coronavírus COVID-19: protocolo de manejo clínico do Novo Coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde; Mar 2020.

McIntosh K. Coronavirus disease 2019 (COVID-19). Waltham (MA): UpToDate.

Shi H, Han X, Jiang N, et al. Radiological findings from 81 patients with COVID-19 pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet Infect Dis 2020.

Confira o vídeo: