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Consequências da ausência de uma rotina alimentar para adolescentes | Colunistas

Consequências da ausência de uma rotina alimentar para adolescentes | Colunistas

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A adolescência é frequentemente associada a um período do desenvolvimento humano marcado por transformações biológicas e psíquicas geradoras de inquietudes e sofrimento, sendo a emergência da sexualidade e a dificuldade em estabelecer a própria identidade alguns dos elementos associados a essa fase. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) esta fase é compreendida por tempo cronológico de 10 a 19 anos de idade, sendo dividida em duas fases: de 10 a 14 anos e de 15 a 19. A fase de 10 a 14 anos é caracterizada por um período de elevada demanda nutricional já que é nesta fase que se iniciam as mudanças puberais.

Todas as transformações da adolescência têm efeito sobre o comportamento alimentar, influenciado por fatores internos, auto-imagem, necessidades fisiológicas e saúde individual, valores, preferências e desenvolvimento psicossocial; e por fatores externos, hábitos familiares, amigos, valores e regras sociais e culturais, mídia, modismos, experiências e conhecimentos do indivíduo (Farthing, 1991).

A família é a primeira instituição que tem ação sobre os hábitos do indivíduo. É responsável pela compra e preparo dos alimentos em casa, transmitindo seus hábitos alimentares às crianças.

Os adolescentes tendem a viver o momento atual, não dando importância às consequências de seus hábitos alimentares, que podem ser prejudiciais para sua saúde.

Impacto nutricional

Os adolescentes passam, gradativamente, maior tempo fora de casa, na escola e com os amigos que, também, influenciam na escolha dos alimentos e estabelecem o que é socialmente aceito.

É característica da alimentação desses jovens (e da vida moderna) o consumo de lanches e fast foods, entre as refeições  Esta atitude pode ser justificada pela falta de tempo disponível para dedicar a uma refeição, preferências individuais, modismo e por ser uma refeição que pode ser feita com os amigos.

O impacto nutricional dos lanches e fast foods pode ser influenciado por alguns fatores como, a frequência de consumo e valores nutricionais dos alimentos escolhidos. Tais preparações podem ser aceitáveis, quando parte de uma dieta adequada e balanceada mas, geralmente apresentam alta quantidade de energia e baixa quantidade de ferro, cálcio, vitamina A e fibras.

Muitas vezes, os adolescentes consomem refeições de modo irregular e tendem a “pular” refeições, principalmente o desjejum. Isso é mais frequente entre as meninas como forma de perder peso. Em geral, apresentam dietas inadequadas em relação a vários nutrientes.

Dados estatísticos da pesquisa

Foi realizado inquérito alimentar, utilizando questionário com um grupo de 153 adolescentes, voluntários (aproximadamente 25% do total de formulários distribuídos), de 11 a 18 anos de idade, de ambos os sexos, estudantes do primeiro grau, do período diurno, de seis escolas da rede estadual, pertencentes a mesma região de Santo André, SP. Nos questionários, que foram aplicados pelos professores das próprias escolas, perguntava-se “o que o indivíduo estava acostumado a comer”, considerando nome da refeição, horário, local e os alimentos e/ou preparações consumidas. Solicitava-se, ainda, informar o “horário que está habituado dormir e acordar”.

Dessa forma, a dieta padrão dos adolescentes ficou assim constituída:

• Desjejum padrão: deve conter alimentos fonte de cálcio e de energia. A fonte de cálcio seria representada por leite e derivados, principais fontes dietéticas desse mineral, bem como, de proteínas. A fonte energética, composta por pães e biscoitos, com algum tipo de acompanhamento, ou seja, tudo o que habitualmente se consome com pães e biscoitos: geléias, mel, margarinas, manteiga, maionese, queijos e frios.

• Almoço e jantar padrão: alimentos fonte de proteína, energia, vitaminas, minerais e de fibras. Foi considerada como fonte protéica, o feijão, carnes ou ovos, sendo as duas primeiras, também fontes dietéticas de ferro. A energética composta, basicamente, por cereais e tubérculos, tais como arroz, massas em geral e batata e, a de vitaminas, minerais e fibras por frutas e hortaliças.

Nesse contexto, obtiveram resultados de:

  • 82% dos adolescentes realizavam o desjejum consumindo algum tipo de alimento. O desjejum padrão foi relatado por 45% dos adolescentes, sendo 52% do sexo masculino e o restante do feminino. A maioria desses (99%) realizava esta refeição no próprio domicílio, entre 6h e 11h30min
  • Em relação ao sono e vigília, observou-se que os horários em que os estudantes acordam e dormem variam, respectivamente, das 5h às 10h30min e das 19h às 0h30min, sendo que 63% dos adolescentes acordam entre 6h e 6h30min e 65% dormem entre 22h e 23h.
  • Observou-se que 56% dos estudantes que não tomavam o desjejum, também não realizavam ceia e lanche matinal, permanecendo um longo período em jejum, ou seja, do jantar de um dia ao almoço do dia seguinte

Consequências da ausência de rotina nutricional

Sabe-se que hábitos alimentares inadequados na infância e adolescência podem ser fatores de risco para doenças crônicas e obesidade

Com isso, a má alimentação tem causado muitas consequências na vida dos adolescentes, como: desnutrição, obesidade e sedentarismo.

A desnutrição ocorre quando uma pessoa recebe uma alimentação insuficiente quantitativamente para suprir  suas  necessidades  fisiológicas,  ou  seja,  falta  de  nutrientes,  como  minerais,  vitaminas  e  macro nutrientes,  e  o  nosso  órgão  controlador  de  toda  a  atividade  metabólica,  que  é  o  sistema  nervoso,  se “programa” permanentemente para economizar energia em forma de gordura e reduzir o crescimento para garantir a sobrevivência em condições adversas.

O  excesso  de  peso  é caracterizado  quando o  Índice  de  Massa  Corporal  (IMC)  é  maior  ou  igual  a 25kg/m2,  e  está  associado  a  outras  desordens  manifestadas  pelo  excesso  de  gordura  corporal.  As condições   mais   frequentemente   associadas   ao   excesso   de   peso   são   as   dificuldades   respiratórias, problemas  dermatológicos,  distúrbios  do  aparelho  locomotor,  dislipidemias,  doenças  cardiovasculares, diabetes. Além disso, outros  fatores  que  contribuem  para  essa  condição  são:  sedentarismo,  falta  de  atividade  física,  má alimentação, dentre outros.

A  obesidade é considerada uma  síndrome  metabólica,  que  consiste  no  acúmulo  excessivo  de  gordura corporal, que acarreta prejuízos a saúde dos indivíduos. Essa síndrome é considerada um grande problema de  saúde  pública  em  países  desenvolvidos  e  uma  epidemia global  pela  organização  mundial  de  saúde (OMS). Adolescente com  obesidade  geralmente  sofre com baixa autoestima, comprometendo seu  desempenho escolar  e  relacionamentos  com  amigos  e  familiares  que  podem  desencadear consequências psicológicas.

Concomitante com a alteração da característica da dieta, observou-se uma redução do nível de atividade física,  vários  fatores  podem  explicar  esse  fato, mas  as  principais  mudanças  estão  nas  distribuições  das ocupações setoriais (da agricultura para as indústrias) e um aumento do número de trabalhos com redução do esforço ocupacional, em virtude do aumento da tecnologia.

Observamos   também   a   diminuição   das   atividades   de   lazer , como   práticas   esportivas   e   longas caminhadas,  para  atividades  sedentárias,  como  televisão,  vídeo  game  ou  computador.  A  utilização  de recursos  tecnológicos  também  contribui  efetivamente  para  o  aumento  do  sedentarismo  da  população, como o uso de portões eletrônicos, escadas rolantes, vidros automáticos, veículos motorizados, dentre outros.

Conclusão

Em  resposta  as  modificações  no  padrão  de  comportamento  alimentar  e  da  drástica  redução  na  pratica de atividade física, resultou-se no aumento acelerado de adolescentes com sobrepeso e obesidade, sedentarismo e desnutrição. Sendo assim,  o  combate  efetivo  deste  problema  de  saúde  pública  requer  estratégias  de  curto  prazo  no  que  diz respeito à proteção, promoção e apoio a estilos de vida saudáveis. Por isso, conhecer as representações de adolescentes sobre a alimentação importa para se pensar ações de promoção e de educação em saúde, de modo que se atinja efetivamente o grupo e mobilizem mudanças de hábitos a fim de evitar complicações de saúde na fase adulta.

Autora: Maria Gabryella Curi

Instagram: @gaby.curi(osa)

Referências

GAMBARDELLA AMD; FRUTUOSO MFP; FRANCH C. Prática alimentar de adolescentes. Revista de nutrição, 1999; 12(1): 55-63.

SILVA JG; TEIXEIRA MLO; FERREIRA MA. Alimentação na adolescência e as relações com a saúde do adolescente. SCIELO,2014. https://doi.org/10.1590/0104-07072014000570013

CARVALHO  E,  SIMÃO  M,  FONSECA  M et  al.  Obesidade:  aspecto  epidemiológico  e  prevenção. Revista  de  Medicina  de  Minas  Gerais. 2013, Minas Gerais, v.23, n.1, p.74-82.

SOUZA,  Elton Bicalho  de.  Transição  nutricional  no  Brasil:  analise  dos principais  fatores. Caderno  UNIFOA, Volta  Redonda,  Ano  V,  n.  13, agosto 2010. Disponível em: http://www.unifoa.edu.br/caderno/edicao/13/49.pdf.



O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.