Carreira em Medicina

Casos Clínicos: Anorexia Nervosa em Paciente Pediátrico | Ligas

Casos Clínicos: Anorexia Nervosa em Paciente Pediátrico | Ligas

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Área: Pediatria

Autora: Tamara Rodrigues Fonseca Souza

Coautor: Paulo José Soares André Oliveira

Revisora: Luiza Gabriela Noronha Santiago

Orientador: Júlio César Veloso

Liga: Liga de Pediatria da Universidade Federal de São João Del-Rei – Campus Centro Oeste (LIPED-UFSJ CCO)

Apresentação do caso clínico

A.L.V Sexo feminino Idade: 12 anos 3meses 23dias

Queixa principal: A mãe chegou ao atendimento, pois demonstrou preocupação com alguns comportamentos da filha. A criança que estava iniciando o estirão da puberdade apresentou uma estagnação no ganho ponderal de peso. A mãe alega que vê a filha acordada durante a madrugada e que sentiu que sua frequência e quantidade alimentar diminuíram. A mãe também diz que o comportamento estranho teve início nos últimos 5 meses, em que a garota que era alegre, se alimentava bem, era rodeada de amigas começou a se tornar mais fechada e também fissurada com a forma que o corpo estava. A filha também estava sempre provando roupas e observando se elas estavam ficando mais largas. A. L. V parou de se alimentar em festas que frequenta com a família, além de se negar a almoçar na mesa.

História da moléstia atual: paciente perdeu cerca de 10 kg nos últimos meses.

Antecedentes pessoais: Nega alergias, nega doenças prévias.

História familiar: O pai apresentou diagnóstico de depressão com tentativa de suicídio aos 17 anos e o avô paterno é alcóolatra. Nega demais comorbidades.

 2° tempo da consulta: Ao perguntar para A.L.V sobre as queixas da mãe ela responde de início que possui sim apetite. Quando perguntado se ela come quando sente fome ela diz que come muito rápido, mas que depois não se sente bem e vomita, e que quando não vomita ingere um medicamento do pai para evacuar mais rápido. A.L.V diz que os episódios tiveram início esporádico, ela diz querer ter o corpo das famosas que segue nas redes sociais, assim como suas amigas tem.

 Exame físico: Temperatura: 34°C Peso: 27kg IMC: 12,16 Altura: 1,49 m

Ausculta pulmonar: Murmúrio vesicular sem ruídos adventícios

Ausculta cardíaca: Bulhas cardíacas rítmicas normofonéticas em dois tempos

Exame psíquico: Aparência: Criança bem vestida e apresenta boas condições de higiene

Atividade psicomotora: Inquieta, balançando muito a perna e roendo unha

Atitude para com o entrevistador: Mostra-se cooperativa, entretanto tímida

Atividade verbal: responsiva, hipotímica, hipovigilante

Hipótese diagnóstica: Anorexia nervosa

Tratamento: Encaminhamento para psicólogo (psicoterapia) e nutricionista. Prescrito inibidor seletivo de receptador de serotonina (Sertralina 50mg).

Questões para orientar a discussão    

1. Como e quando suspeitar de anorexia nervosa?

2. Qual o diagnostico diferencial?

3. Como diferenciar bulimia nervosa de anorexia nervosa?

4. Qual o tratamento?

5. Qual o prognóstico?

Respostas

1. A anorexia nervosa tem prevalência em mulheres e tem início, geralmente, na adolescência. Além disso, com a crescente padronização do corpo perfeito ela vem sendo mais relatada nas últimas décadas. Alguns sintomas fazem com que se pense em anorexia nervosa: A.L.V tornou-se uma menina mais triste além de ter obsessão por perda de medidas. Há também o fato de se alimentar longe dos demais e na maioria das vezes pela madrugada, e logo após os episódios acontecer o expurgo. Os pacientes geralmente chegam ao médico com perda de peso perceptível, hipotérmicos, edematosos, bradicárdicos e hipotensos, e no caso de pacientes femininas chegam geralmente com amenorreia. Em muitos casos também, ao se pesquisar a história familiar, os pais podem apresentar casos de depressão, alcoolismo e transtorno alimentar.

2. Para diagnóstico, deve-se descartar que não há doença orgânica que esteja causando a perda de peso. É necessário descartar também outras doenças psiquiátricas, como a depressão, que pode ter sintomas parecidos com a anorexia, como crises de choro, perturbação do sono, perda de peso, ideações suicidas e etc. Algumas diferenças básicas que irão distinguir essas doenças, como: na depressão o paciente nega ter apetite já na anorexia nervosa diz possuir apetite e fome. Deve se atentar ao medo de ganho de peso, a insatisfação com o peso mesmo ele sendo saudável e a obsessão pela forma corporal.

3. Diferente da anorexia, na bulimia nervosa os pacientes podem estar acima do peso ou manter o peso normal, ao contrário da anorexia, em que geralmente os pacientes chegam ao consultório com uma perda de peso aparente. Na bulimia nervosa também há episódios de compulsão alimentar e perda de controle, seguido de um comportamento compensatório.

4. Por implicar ideações suicidas deve ter um amplo plano de tratamento, envolvendo se possível, a família do paciente. Quando necessário deve se fazer a hospitalização para ganho de peso saudável e terapia individual e familiar. O uso de inibidores seletivos de receptador de serotonina deve ser indicado em doses altas para maior sucesso do tratamento.

5.  O prognóstico é variável, pois envolve fatores psicossociais. Intervenções precoces, principalmente na adolescência, estão associadas a melhores resultados.