Carreira em Medicina

Caso clínico Covid-19: paciente com queixa de dispneia progressiva

Caso clínico Covid-19: paciente com queixa de dispneia progressiva

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Para lidar com os casos da Covid-19, é importante que o médico esteja cada vez mais preparado e bem informado, dessa forma disponibilizamos este caso clínico. 

A Covid-19 é uma doença desconhecida, ainda objeto de muito estudo, com espectro clínico que pode variar desde sintomas leves, mas com potencial de levar a sintomas graves e até mesmo ao óbito, até em pacientes jovens. 

Elaboramos um caso clínico de Covid-19, baseado em um paciente real, para te ajudar a conhecer melhor como a doença se apresenta, as condutas que devem ser tomadas, e a evolução da doença quando se agrava. 

Este é um caso especial, pois trata-se de um paciente com apenas 21 anos de idade. Leia e aproveite para revisar conceitos importantes no final, com a discussão do caso. 

Identificação do paciente e história clínica 

ID: MD, masculino, 21 anos, natural e procedente de São Paulo- SP.

Queixa principal: 

“Falta de ar” há 3 dias.

História da doença Atual (HDA) : 

Paciente com queixa de dispneia progressiva há 3 dias, agora aos mínimos esforços. relata tosse seca e febre não aferida no período. Nega outras queixas associadas. Nega contato com pessoas apresentando sintomas similares.

Exame físico:

Dados vitais: PA: 120/70mmHg /  FC: 115bpm / FR: 24ipm / SatO2: 94% /  Temp: 38,2°C

Geral: REG, LOTE, corado, hidratado, acianótico e anictérico.

Oroscopia: NDN.

AR: Taquipneico, sem uso de musculatura acessória, MVBD com sibilos expiratórios difusos e discretos.

ACV: Taquicárdico, BRNF em 2T s/ sopros.

ABD: NDN.

EXT: bem perfundidas, sem edemas.

Neurológico: PIFR, sem sinais meníngeos, sem déficits focais aparentes.

Exames complementares para suspeita de covid-19

Laboratoriais:

Hb: 12,1  / Leucograma: 12.300 sem desvio  / Plaquetas: 156mil

Ur: 45  / Cr: 1,1 / Na: 137 / K: 4,3 /  PCR: 1,2

Gasometria arterial: pH 7,44 / pO2: 82 / pCO2: 32 / HCO3: 24 /  SatO2: 93% / Lactato: 1,8.

Imagens:

Radiografia de Tórax:

Raio-X de tórax - Caso Clínico de Covid-19 - Sanar Medicina

Neste ponto, quais seriam as hipóteses diagnósticas para este caso?

Vamos listar os problemas até então descritos:

  • Dispneia + Tosse seca + Febre;
  • Taquicardia sinusal;
  • Sibilos expiratórios;
  • Anemia;
  • Leucocitose S/D;
  • Elevação de PCR;
  •  Infiltrado em 1/3 inferior de HTD;

Diante deste quadro, poderíamos suspeitar de:

  1. Crise de asma;
  2. Pneumonia adquirida na comunidade;
  3. COVID-19.

Conduta inicial na suspeita de Covid-19 (infecção por coronavírus)

Prescrito dipirona EV e inalação com fenoterol + ipratrópio, com melhora da ausculta pulmonar, porém com manutenção dos sinais vitais e da queixa de dispneia, sendo optado por realização de TC de tórax sem contraste.

Tomografia de tórax: 

Múltiplas opacidades de aspecto consolidativo, com predomínio subpleural e comprometimento multilobar, apresentando áreas com atenuação em vidro fosco no parênquima circunjacente, sugestivas de processo inflamatório/infeccioso pulmonar, não sendo possível descartar possibilidade de infeção por SARS-CoV-2 diante do contexto clínico.

TC de tórax - caso clinico - covid-19 - Sanar Medicina

Evolução do paciente com Covid-19 (infecção por coronavírus):

Paciente evoluiu com dessaturação (88-90%), com necessidade ascendente de oxigênio suplementar, sendo indicada intubação orotraqueal e vaga de UTI. Paciente transferido para a UTI.

Após 5 dias, recebido RT-PCR positivo para SARS-CoV-2.

Paciente, já em leito de UTI, evolui para Parada Cardiorrespiratória. No monitor, identifica-se AESP. Apesar de instituído protocolo de PCR, paciente evoluiu para óbito.

Discussão de caso clínico de CoVid-19

  1. Quem é o SARS-CoV-2?
  2. Qual a fisiopatologia da doença?
  3. De que modo acontece a transmissão?
  4. Qual o quadro clínico da doença?
  5. Qual a classificação de Risco?
  6. Quais os critérios para definição de caso? Como é feito o diagnóstico?
  7. Qual a possível causa para a PCR do paciente e qual conduta em casos de PCR na COVID-19?

Respostas

1) Quem é o SARS-CoV-2?

O coronavírus é um importante causador de doença em humanos e animais. Pertencente à família coronaviridae, dentro desta família, temos o gênero alfa: HCoV-229E e HCoV-NL63, e o gênero beta: HCoVHKU1, HCoV-OC4, MERS-CoV e SARS-CoV.

No final de 2019, um novo coronavírus foi identificado como causa de pneumonia em Wuhan, uma cidade da província de Hubei, na China. Este vírus recebeu a denominação de SARS-CoV-2.

2) Qual a fisiopatologia da infecção por coronavírus?

O SARS-CoV-2 utiliza-se de receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) para adentrar as células pulmonares, causando manifestações que variam de um espectro leve a crítico, podendo levar à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARG) e à óbito.

3) De que modo acontece a transmissão?

Os primeiros casos de COVID-19 estão relacionados ao mercado chinês de animais vivos. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa por meio de gotículas respiratórias liberadas ao tossir, falar ou espirrar. A transmissão também pode ocorrer quando, ao tocar superfícies contaminadas, as mãos entram em contato com olhos, nariz e boca. As gotículas podem alcançar até 2 metros de distância. Ainda está em investigação a possibilidade de aerossóis permaneceram até 3 horas suspensos no ar. O RNA do vírus também foi detectado no sangue e nas fezes. A maior transmissibilidade ocorre no período inicial e sintomático da doença, mas indivíduos assintomáticos também podem transmitir.

4) Qual o quadro clínico da doença?

O período de incubação do SARS-CoV-2 pode ser de até 14 dias, mas a maioria manifesta sintomas dentro de 4-5 dias.

Como dito anteriormente, o espectro clínico varia, sendo a maioria dos casos apresentando doença leve (81%). Quando há presença de dispneia, hipoxemia e/ou > 50% de acometimento torácico em exames de imagem, o quadro é considerado grave e corresponde a 14% dos casos. Nos casos críticos (5%), há insuficiência respiratória, choque e disfunção de múltiplos órgãos. Cerca de 2,3% dos casos são fatais, levando à óbito.

Os fatores de risco para mortalidade são: idade avançada; comorbidades como Diabetes, doença cardiovascular, Hipertensão Arterial sistêmica, pneumopatias crônicas, câncer e imunossupressão; obesidade e indivíduos do sexo masculino são fatores de risco ainda em estudo.

Os sintomas apresentados variam muito, com febre e tosse sendo os mais comuns:

  • Febre – muito comum (43-98%)
  • Tosse – muito comum (67-81%)
  • Dispnéia – comum (18-55%)
  • Escarro – comum (26-56%)
  • Mialgia – comum (15-52%)
  • Hiporexia – comum (40%)
  • Cefaleia – pouco comum (6.5-34%)
  • Diarreia – pouco comum (3-10%)
  • Náusea e vômitos – pouco comum (5-10%)
  • Congestão nasal – pouco comum (4.8%)

 5) Qual a classificação de Risco para suspeita de Covid-19?

  • Gravidade Verde:
    • Quadro clínico: Indivíduo com suspeita ou confirmação, estável, sem sinais de piora do estado clínico*
    • Conduta: Acompanhamento em domicílio, com orientações sobre precauções respiratórias e sinais de agravamento, e supervisão da autoridade sanitária local.
  • Gravidade Amarela:
    • Quadro clínico: Individuo com suspeita ou confirmação, com sinais de gravidade (dispneia; desconforto respiratório; saturação O2<95% ou exacerbação de doença preexistente) e fatores de risco.**
    • Conduta: encaminhamento para hospital de referência secundária regional.
  • Gravidade Vermelha:
    • Quadro clínico: indivíduo com suspeita ou confirmação, com sinais de gravidade (choque, disfunção dos órgãos vitais; insuficiência respiratória; ou instabilidade hemodinâmica).
    • Conduta: encaminhamento para hospital de referência terciária, de acordo com disponibilidade do recurso.

6) Quais os critérios para definição de caso? Como é feito o diagnóstico?

Suspeitos

  • Febre e/ou sintomas respiratórios + (últimos 14 dias):
    • Contato com caso confirmado ou suspeito;
    • Reside ou viajou para áreas de contaminação comunitária;
    • Exposição potencial no ambiente de trabalho;
  • Doença aguda grave do trato respiratório inferior sem causa definida.

Confirmados:

A confirmação se dá por meio da coleta de Swab nasofaríngeo ou orofaríngeo para teste laboratorial de reação em cadeia da polimerase transcriptase reversa (RT PCR) para o SARS-CoV-2:

  • Teste positivo → COVID-19;
  • Teste negativo → Não descarta a doença;
  • Caso teste inicial apresente resultado negativo e haja alta suspeita de COVID-19, deve se considerar testar novamente com amostra de múltiplos locais do trato respiratório. Se paciente estiver intubado, considerar amostra de lavado broncoalveolar e do trato respiratório inferior.

7) Qual a possível causa para a PCR do paciente e qual conduta em casos de PCR na COVID-19?

A hipóxia foi a causa da PCR do paciente. Em casos de PCR, quando em pacientes sob ventilação mecânica, deve-se manter o paciente conectado ao ventilador em circuito de ventilação fechado, com FiO2 100%, modo assíncrono, FR de 10-12 ipm.

Deve haver restrição no número de funcionários no local de atendimento. Ainda que possa ocorrer atraso no início das compressões torácicas, A SEGURANÇA DA EQUIPE É PRIORITÁRIA!

Confira o vídeo:

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