Bronquite aguda: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!
A bronquite aguda consiste em uma inflamação dos brônquios, os tubos que transportam o ar para dentro e para fora dos pulmões. Geralmente, é causada por uma infecção viral, como o vírus sincicial respiratório (VSR) ou rinovírus, embora também possa ser causada por bactérias em alguns casos.
Na pediatria, a bronquite aguda é relativamente comum, especialmente em crianças menores de 5 anos. Isso ocorre porque o sistema imunológico das crianças ainda está em desenvolvimento, tornando-as mais suscetíveis a infecções virais e bacterianas. Além disso, as crianças têm vias aéreas menores e mais estreitas, o que facilita a obstrução e a inflamação dos brônquios.
Fisiopatologia
Inicialmente, ocorre a entrada de um vírus ou bactéria nos brônquios, muitas vezes através da inalação de gotículas respiratórias de uma pessoa infectada. Dessa forma, o vírus ou bactéria infecta as células das vias aéreas, levando à inflamação dos brônquios. Isso resulta em inchaço das membranas mucosas e aumento da produção de muco.
O sistema imunológico do corpo responde à infecção, enviando células brancas do sangue e outros mediadores inflamatórios para combater o agente infeccioso. Essa resposta causará mais inflamação e sintomas como febre e mal-estar.
Na maioria dos casos, o sistema imunológico do corpo consegue combater a infecção ao longo do tempo. À medida que a infecção é resolvida, a inflamação diminui, o muco é eliminado e os sintomas melhoram.
Etiologia da bronquite aguda
A bronquite aguda é comumente causada por infecções virais, especialmente vírus respiratórios comuns.
Vírus sincicial respiratório (VSR)
Vírus RNA da família Paramyxovirida. Consiste em uma das principais causas de infecções respiratórias em crianças, especialmente em lactentes e crianças pequenas.
Transmite-se o VSR por meio do contato direto com secreções respiratórias infectadas, como gotículas de saliva ou muco, que são liberadas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala. O vírus pode sobreviver em superfícies por várias horas, o que também contribui para a sua disseminação.
Rinovírus
Vírus RNA da família Picornaviridae e existem mais de 100 sorotipos diferentes conhecidos desse vírus. Responsável por muitos casos de resfriados comuns, também pode causar bronquite aguda.
As infecções por rinovírus geralmente ocorrem mais frequentemente durante os meses de outono e inverno, embora possam ocorrer em qualquer época do ano.
Influenza
A influenza, comumente conhecida como gripe, consiste em uma infecção viral respiratória aguda causada por diferentes subtipos do vírus da influenza.
Existem três tipos principais de vírus da influenza que infectam humanos:
- Influenza A
- Influenza B
- Influenza C.
Adenovírus
Os adenovírus são uma família de vírus que podem causar uma variedade de infecções em humanos. Eles são conhecidos por causar infecções respiratórias, gastrointestinais, oculares e urinárias. Existem mais de 50 tipos diferentes de adenovírus identificados, classificados em sete subgrupos (A-G).
Manifestações clínicas da bronquite aguda em crianças
Na pediatria, a bronquite aguda geralmente se apresenta com uma série de manifestações clínicas que podem variar em gravidade.
A tosse é o sintoma mais característico da bronquite aguda. Pode começar seca e depois evoluir para uma tosse produtiva, com expectoração de muco claro, amarelado ou esverdeado.
Assim, à medida que a inflamação nos brônquios aumenta, as células produtoras de muco também aumentam sua atividade, levando a uma produção aumentada de muco. Isso pode resultar em congestão nasal e tosse com expectoração.
Em casos mais graves, especialmente em lactentes e crianças pequenas, pode haver dificuldade respiratória leve, manifestada por taquipneia, uso de músculos acessórios ou retratações.
Chiado ou sibilância durante a expiração pode ocorrer, indicando broncoespasmo e obstrução das vias aéreas, especialmente em crianças com asma subjacente. A febre geralmente está presente, embora possa ser baixa em alguns casos. Se houver febre alta persistente, deve-se considerar a possibilidade de complicação bacteriana.
Como fazer o diagnóstico de bronquite aguda na pediatria?
O diagnóstico preciso da bronquite aguda em pediatria baseia-se em uma avaliação abrangente que considera a história clínica, exame físico e, ocasionalmente, exames complementares.
História Clínica
O médico deverá:
- Identificar a presença de sintomas respiratórios, como tosse, expectoração, dificuldade respiratória e sibilância
- Questionar sobre a duração e progressão dos sintomas, incluindo o início agudo e a evolução dos sintomas ao longo do tempo
- Investigar exposição a fatores desencadeantes, como contato com pessoas doentes, irritantes respiratórios ou alergênicos.
Exame físico:
Durante o exame físico deve-se auscultar os pulmões para avaliar a presença de crepitações finas, roncos ou sibilos, que podem indicar obstrução das vias aéreas.
Além disso, necessita-se observar sinais de dificuldade respiratória, como taquipnéia, uso de músculos acessórios, retratações ou cianose. Bem como verificar a presença de febre e sinais de desconforto respiratório.
Exames complementares
Em geral, exames laboratoriais não são necessários para o diagnóstico de bronquite aguda, já que a maioria dos casos é de origem viral.
Em casos de suspeita de complicações, como pneumonia bacteriana secundária, podem ser indicados exames de imagem, como radiografia de tórax. Não há critérios laboratoriais específicos para o diagnóstico, mas pode-se considerar testes virais em casos selecionados para orientar o manejo e monitoramento.
Diagnóstico diferencial
Ao diagnosticar bronquite aguda em pediatria, deve-se considerar os diagnósticos diferenciais para descartar outras condições respiratórias com apresentações semelhantes.
Entre os diagnósticos diferenciais mais importantes estão a pneumonia, que causa tosse, febre e dificuldade respiratória, mas geralmente apresenta achados adicionais na ausculta pulmonar e pode requerer radiografia de tórax para confirmação.
Além disso, considera-se também a asma aguda, especialmente em crianças com histórico prévio de sibilância, que podem apresentar exacerbação da doença com sintomas semelhantes aos da bronquite aguda, mas geralmente com resposta positiva a broncodilatadores inalatórios. Outros diagnósticos diferenciais incluem bronquiolite viral, exacerbação de doença pulmonar crônica e infecções respiratórias menos comuns, como tuberculose ou infecções fúngicas pulmonares, dependendo do contexto clínico e epidemiológico.

Tratamento para bronquite aguda na pediatria
Antibióticos não são eficazes contra infecções virais como a bronquite aguda. Eles só devem ser prescritos quando a infecção é claramente causada por bactérias, como em casos de surto. Se antibióticos forem necessários, deve-se optar por azitromicina ou claritromicina. No entanto, pode-se recomendar o uso apenas se os sintomas persistirem, pois a bronquite aguda geralmente melhora sem antibióticos.
Para crianças que apresentam sibilos, broncodilatadores inaláveis podem ser úteis por alguns dias, embora possam causar efeitos colaterais como tremores, nervosismo e agitação. Para reduzir a febre e o desconforto geral, é possível tomar paracetamol ou ibuprofeno e é importante manter-se bem hidratado.
Medicamentos para tosse podem ser considerados para aliviar uma tosse persistente ou que cause desconforto durante o sono. No entanto, a eficácia desses medicamentos não é totalmente clara. Expectorantes de venda livre podem tornar o muco mais líquido, facilitando a eliminação, mas seu benefício não é definitivo. Em geral, o uso de antitussígenos e expectorantes em crianças pequenas não é recomendado.
Quer aprimorar suas habilidades para atendimento pediátrico?
A pós-graduação em pediatria geral aplicada oferecida pelo Cetrus Sanar tem como propósito capacitar médicos generalistas na área específica da pediatria, enfatizando as particularidades do atendimento clínico infantil.
Os profissionais que escolhem essa especialização médica terão acesso a conhecimentos teóricos e práticos voltados para o estímulo de uma prática ambulatorial segura na área da Puericultura, abrangendo todas as etapas do desenvolvimento infantil, desde o nascimento até a adolescência.
Referências bibliográficas
- Emergências em pediatria – Protocolos Santa Casa – SP.
- Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole, 2017.
- Bedran, R. M. Pneumonias adquiridas na comunidade na infância e adolescência. Rev Med Minas Gerais 2012; 22 (Supl 7): S40-S47
- Community-acquired pneumonia in children: Outpatient treatment. William J Barson, MD. UpToDate
Sugestão de leitura complementar
Esses artigos podem ser do seu interesse:
- Resumo Pneumonia Comunitária na Infância
- Fórmulas infantis: como fazer a prescrição dos substitutos do leite materno?
- Aleitamento materno e sua importância
- Urgências pediátricas: conheça as cinco principais e seu manejo
Veja também um vídeo sobre saúde mental das crianças:
