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Enquanto modelo assistencial, a Atenção Primária à Saúde (APS) corresponde ao primeiro nível de atenção dentro dos sistemas de saúde e é usualmente representada pelos serviços ambulatoriais direcionados a responder às necessidades de saúde mais comuns de uma população.
Suas formas de operacionalização assumiram, desde o início do século XX, os contornos econômicos, políticos e culturais dos diferentes contextos, épocas e atores sociais envolvidos.
Definição de Atenção Primária à Saúde
Atenção primária à saúde (APS) é definida como atenção de primeiro contato, contínua, global e coordenada, que se proporciona a população sem distinção de gênero, doença, ou sistema orgânico.
A história da Atenção Primária à Saúde (APS)
Um dos primeiros modelos de sistemas de saúde que se tem notícia no mundo foi concebido por uma comissão liderada pelo médico Bertrand Dawson (1864- 1945), conhecido também como Lord Dawson, pois tinha o título “1º Visconde Dawson de Penn”.
O chamado Informe ou Relatório Dawson foi traduzido para o espanhol pela Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). O sistema imaginado por Lord Dawson está representado na figura central de seu relatório, cujo nome completo é “Informe Dawson sobre o futuro dos serviços médicos e afins” e data de 1920, quando foi apresentado ao Ministério da Saúde da Grã-Bretanha pelo Conselho Consultivo de Serviços Médicos e Afins.
Imagem: Diagrama de uma área mostrando todos os serviços (Informe Dawson).
Analisando o desenho e o relatório, pode-se inferir que Dawson imaginou Centros de Saúde Primários, com generalistas próximos as casas das pessoas que destinavam pacientes, caso fosse necessário, a um centro de especialidades, e apenas este referenciaria, se necessário, a um hospital terciário, chamado “Hospital-escola”.
Lord Dawson ainda previu os serviços chamados “suplementares”, que seriam equipes multiprofissionais treinadas para tratar tuberculose, pacientes terminais, pacientes com problemas mentais, problemas ortopédicos, epilépticos, infecciosos etc., o que, naquela época, se fazia quase muito frequentemente com internações em colônias ou sanatórios. De qualquer forma, poderia corresponder ao que hoje seriam os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) ou Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e demais centros de reabilitação. Ou seja, Lord Dawson imaginou um território como uma rede: embora pareça trivial hoje em dia, naquela época, em que havia apenas o modelo de sistema de saúde bismarckiano (sem regionalização clara), consistia em um avanço.
Mesmo hoje, são raros os países que conseguiram de fato implementar essa rede idealizada por Dawson, e o relatório permanece, de maneira geral, bastante atual. Os entraves e as pressões contrárias são muitos. No Brasil, por exemplo, no sistema privado, o primeiro contato é, muitas vezes, feito por subespecialistas.
SAIBA MAIS: O Informe Dawson é frequentemente comparado com o Relatório Flexner, de 1910, como se fosse antagônico. Essa é uma análise pouco precisa, uma vez que os objetivos eram muito díspares. Dawson focava nos serviços, ao passo que Flexner se concentrava na educação médica. Dawson valorizou o hospital-Escola, assim como Flexner, ou seja, um dos aspectos que justamente tornam o Informe Dawson falho ou obsoleto é sua linearidade com Flexner neste ponto, não tendo previsto, embora saísse do escopo, que o ensino da medicina deveria ser realizado nos centros de saúde primários e secundários, além do hospital-escola.
Ecologia dos Sistemas de Saúde
Um dos artigos mais citados na área da Atenção Primária à Saúde (APS) e na medicina de família e comunidade (MFC) é o “Ecology of Medical Care”, que foi conduzido por White e colaboradores em 1961 e repetido por Green e colaboradores em 2001. Segundo esses estudos, entre 1.000 pessoas ao longo de um mês, 750 e 800 têm sintomas, aproximadamente 250 procuram ajuda formal, em especial na atenção primária, 8 são internadas em um hospital regional e menos do que uma, em média, necessita de um hospital-escola.
Imagem: Representação gráfica da Ecologia dos serviços médicos.
Os estudos sobre o uso dos serviços de saúde implicam a importância do papel de filtro proporcionado pela atenção primária, mas também pelo autocuidado.