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Ansiedade em medicina de família e comunidade

Ansiedade em medicina de família e comunidade

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A ansiedade diz respeito a uma sensação de angústia e apreensão que faz parte do mecanismo natural de “luta ou fuga”, ou seja, de defesa e antecipação de ameaças comuns no cotidiano das pessoas, e que em diversas ocasiões permitiu (e permite) ao ser humano lidar com o perigo ao longo do seu processo de evolução.

Essa sensação difusa de apreensão costuma estar associada a sintomas autonômicos, como palpitações, cefaleia, inquietação, aperto no peito, dentre outros.

Logo, pode-se perceber que a ansiedade é algo natural, porém em algumas situações pode se tornar desproporcional causando prejuízos funcionais a vida do indivíduo, originando transtornos de ansiedade, que é sobre o que trataremos aqui.

É importante salientar a diferença entre uma inquietação e ansiedade. A inquietação pode ser referida como sendo ansiedade, mas com investigação mais pormenorizada do médico de família pode-se notar que esta sensação não está relacionada com apreensão, mas sim com uma inquietação ligada a euforia, agitação e hiperatividade, sensações as quais podem estar mais relacionadas com outros diagnósticos, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou transtornos de humor.

Definição de ansiedade

A ansiedade é uma resposta normal e adaptativa que permite antecipação de uma ameaça iminente. Caracteriza-se pela sensação de apreensão. Quando essa sensação se torna excessiva e causa prejuízo ocupacional, social ou biológico, fala-se em transtorno de ansiedade.

O transtorno de ansiedade

Quando a ansiedade se torna excessiva, causando prejuízo no bom funcionamento do indivíduo seja no trabalho, no convívio social ou nos aspectos biológicos, como o sono, aí sim fala-se em transtorno de ansiedade.

Porém, é comum, sobretudo na atenção básica, a coexistência entre um transtorno de ansiedade e outros transtornos como de humor ou síndrome de somatização, em que o paciente apresenta diversas queixas físicas sem explicação clínica, com isso, é mais comum a existência de quadros mistos do que puramente transtorno de ansiedade.

Dentre os transtornos de ansiedade, abordaremos neste material o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e o transtorno de pânico. Além disso, falaremos também de um outro grupo de transtornos que é o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Dados sobre transtornos de ansiedade

Os transtornos de ansiedade são os transtornos psiquiátricos mais prevalentes e, segundo o Estudo Americano de Comorbidades, estão presente em 1 em cada 4 pessoas, sendo mais prevalente em mulheres do que em homens.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina que lidera nos números de pessoas diagnosticadas com transtornos de ansiedade.

Além disso, tais transtornos são em sua maior parte crônicos e causam prejuízos e desfechos negativos, como menor produtividade no trabalho, maior taxa de utilização de serviços de saúde, abuso e dependência de álcool e outras drogas, risco aumentado (independente da associação com outros transtornos psiquiátricos) de ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado.

SAIBA MAIS: O transtorno de ansiedade é fator de risco para doença coronariana e piora o prognóstico do paciente, além de piorar a aderência ao tratamento do diabetes, bem como o prognóstico desta doença.

Importância da MFC/APS

Apesar da importante prevalência citada anteriormente, os transtornos de ansiedade ainda são muito subdiagnosticados pelos profissionais de saúde e por vezes sequer são reconhecidos como problemas pelos pacientes.

Nestes casos, é fundamental o papel do médico de família e comunidade, o qual tem a oportunidade de ter o primeiro contato com o paciente dentro da rede de saúde, podendo perceber problemas que muitas vezes não são revelados em uma primeira consulta, mas que com a longitudinalidade do cuidado é possível abordar.

Em boa parte das vezes a ansiedade é relatada diretamente pelo paciente ao queixar-se de angústia diante de situações vividas, prejuízos que tem notado no seu cotidiano ou presença de sintomas que podem levar o médico a pensar em uma causa psíquica.

Diante disso, é fundamental que o médico investigue bem o quadro para fazer o diagnóstico diferencial entre transtorno ansiedade e outros agravos, inclusive doenças clínicas como hipertireoidismo ou arritmia cardíaca.

No entanto, diversas vezes a ansiedade não é relatada diretamente como queixa pelo paciente, mas aparece como um problema oculto possível de ser observado pelo médico de família, como em situações de violência doméstica, bullying ou em idosos que por vezes negam ter ansiedade pelo estigma dos problemas mentais, mas que nitidamente apresenta-se com ansiedade.

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