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Amnésia dissociativa: desafios diagnósticos e manejo psicoterapêutico

Médico preenchendo ficha enquanto duas mulheres sentam no sofá, em uma consulta psicológica, discutindo amnésia dissociativa.

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A amnésia dissociativa representa um transtorno complexo em que o indivíduo perde a capacidade de recordar informações autobiográficas relevantes, geralmente de natureza traumática ou estressante.

Essa condição surge sem explicação orgânica aparente e reflete um mecanismo psicológico de defesa diante de experiências intensamente dolorosas.

O que é amnésia dissociativa?

A amnésia dissociativa é, frequentemente, associada a experiências de trauma ou estresse extremo. Nesses casos, a perda de memória se concentra em episódios específicos e frequentemente dolorosos da vida do paciente. A memória de eventos cotidianos ou não-traumáticos, no entanto, permanece intacta, o que difere a amnésia dissociativa de outros tipos de amnésia orgânica.

O transtorno é desencadeado por eventos de grande impacto emocional, como:

  • Abuso físico ou sexual
  • Desastres naturais
  • Guerras
  • Ou mortes traumáticas.

A forma como o cérebro lida com esses eventos extremos é fundamental para a compreensão da amnésia dissociativa. Nesse sentido, a psicologia fornece explicações baseadas na dissociação: o cérebro “desconecta” a experiência traumática da memória consciente para proteger o indivíduo da sobrecarga emocional.

Aspectos epidemiológicos

Embora o transtorno seja relativamente raro, sua prevalência está intimamente associada a populações que sofreram traumas significativos. Dados indicam que a amnésia dissociativa afeta mais frequentemente mulheres do que homens, com uma incidência particularmente alta entre vítimas de abuso sexual. Além disso, a comorbidade com transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) e transtornos de ansiedade é alta, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador.

A idade do paciente também pode influenciar o desenvolvimento do transtorno, sendo mais comum em indivíduos jovens, com história de abuso ou negligência durante a infância. No entanto, a amnésia dissociativa pode se manifestar em qualquer fase da vida, desde a infância até a vida adulta.

Diagnósticos da amnésia dissociativa

O diagnóstico de amnésia dissociativa exige um processo minucioso que se baseia na exclusão de outras condições. A primeira tarefa do médico é avaliar a natureza da perda de memória do paciente. Ao contrário da amnésia orgânica, onde há falhas significativas em memórias de curto prazo e habilidades cognitivas, a amnésia dissociativa foca em eventos específicos, que o paciente perde a capacidade de recordar, sem prejuízo de outros aspectos da memória.

O diagnóstico de amnésia dissociativa, é desafiador por várias razões. Primeiramente, o quadro é frequentemente mal interpretado como um transtorno de memória comum ou até como uma tentativa de manipulação emocional. Pacientes com amnésia dissociativa não apresentam sinais óbvios de comprometimento cognitivo, o que torna o diagnóstico ainda mais complexo.

Outro desafio é a sobreposição de sintomas com outros transtornos mentais, como depressão grave, transtornos de ansiedade ou transtornos dissociativos de identidade. Além disso, algumas situações de estresse extremo podem gerar lacunas de memória temporárias e espontâneas que não são indicativas de amnésia dissociativa, mas sim de reações transitórias do sistema nervoso central ao estresse.

Um dos maiores desafios diagnósticos está na identificação das lacunas de memória. Em casos de amnésia dissociativa, o paciente pode se lembrar de eventos periféricos, mas não da experiência traumática central. Em alguns casos, o indivíduo pode ser incapaz de lembrar o que ocorreu durante um período específico de tempo, o que torna a identificação do evento traumático mais difícil.

Por isso, a história clínica detalhada, o exame físico minucioso e, em alguns casos, o uso de testes psicológicos padronizados são essenciais para o diagnóstico. A entrevista estruturada e as escalas de dissociação podem ser instrumentos úteis para esclarecer a presença de amnésia dissociativa e para avaliar a gravidade dos sintomas.

Manejo psicoterapêutico

O manejo da amnésia dissociativa é predominantemente psicoterapêutico. Embora medicamentos possam ser utilizados para tratar sintomas comórbidos, como ansiedade e depressão, o foco do tratamento é ajudar o paciente a processar e reintegrar as memórias traumáticas de forma segura e controlada.

Terapia cognitivo-comportamental (TCC)

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes para o tratamento da amnésia dissociativa. Ela visa ajudar o paciente a identificar e modificar pensamentos disfuncionais relacionados ao trauma. A TCC foca no processamento das memórias traumáticas, mas faz isso de uma maneira gradual e controlada, permitindo que o paciente enfrente as memórias dolorosas sem se sentir sobrecarregado.

Na TCC, o paciente aprende a desenvolver estratégias de enfrentamento mais saudáveis para lidar com os gatilhos emocionais que evocam lembranças traumáticas. Em um contexto de amnésia dissociativa, o terapeuta trabalha com o paciente para reconstruir as memórias de maneira não ameaçadora e para aumentar a autocompaixão e a resiliência emocional.

Terapias baseadas em trauma

Terapias baseadas em trauma, como a Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento por Movimento Ocular (EMDR), também são altamente eficazes no tratamento da amnésia dissociativa. A EMDR é um método terapêutico que visa processar memórias traumáticas usando estimulação bilateral (movimento ocular), que facilita o acesso a essas memórias sem que o paciente se sinta oprimido.

Esse método ajuda a transformar a memória traumática em uma lembrança menos perturbadora, permitindo que o paciente possa integrar o evento à sua narrativa de vida.

Terapia psicodinâmica

A psicoterapia psicodinâmica também pode ser útil, especialmente para pacientes que têm dificuldade em acessar ou processar memórias traumáticas diretamente. A psicoterapia psicodinâmica foca na exploração do inconsciente, ajudando o paciente a entender como o trauma afetou seu comportamento e suas emoções. Ao longo das sessões, o paciente pode começar a reconstruir a compreensão de seu trauma de maneira mais clara e integrada.

Psicoeducação e apoio familiar

Além da psicoterapia, a psicoeducação desempenha um papel vital no tratamento da amnésia dissociativa. O paciente e seus familiares devem ser informados sobre a natureza do transtorno, o que pode ajudar a reduzir o estigma e a melhorar a aceitação da terapia.

O apoio social e familiar é crucial, pois muitas vezes os pacientes com amnésia dissociativa se sentem isolados e incompreendidos devido ao estigma associado à sua condição.

Desafios no tratamento e prognóstico

O prognóstico da amnésia dissociativa é variado e depende de fatores como a intensidade do trauma, a gravidade dos sintomas dissociativos e a qualidade do tratamento. Com a abordagem psicoterapêutica adequada, a maioria dos pacientes pode alcançar a reintegração das memórias e a recuperação emocional.

Entretanto, o tratamento contínuo é essencial, pois a amnésia dissociativa pode se tornar crônica se não for abordada adequadamente. A recidiva dos sintomas é possível, especialmente em situações de estresse elevado ou de novos traumas. O acompanhamento de longo prazo e a manutenção de estratégias de enfrentamento são fundamentais para garantir que o paciente se recupere e não desenvolva complicações psicológicas associadas à amnésia dissociativa.

Outro desafio no tratamento da amnésia dissociativa é a falta de compreensão por parte dos profissionais de saúde. Embora os psiquiatras e psicólogos especializados em trauma estejam mais familiarizados com a condição, médicos gerais e outros profissionais de saúde podem ter dificuldades em diagnosticar e tratar eficazmente o transtorno, uma vez que ele não é facilmente identificável em exames laboratoriais ou de imagem.

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Referências bibliográficas

  • UpToDate. Lewis-Fernández, R.; Sar, V.; Júnior, C. B. Dissociative amnesia: Epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, course, and diagnosis. Waltham, MA: Wolters Kluwer, 2024.
  • UpToDate. Sar, V.; Lewis-Fernández, R.; Simeon, D. Dissociative identity disorder: Epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, course, assessment, and diagnosis. Waltham, MA: Wolters Kluwer, 2024.

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