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A Síndrome Respiratória Aguda Grave na Infecção por Coronavírus | Colunistas

A Síndrome Respiratória Aguda Grave na Infecção por Coronavírus | Colunistas

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   Sabe-se que a síndrome respiratória aguda, especialmente em sua forma grave, guarda íntima relação com a infecção pela COVID-19 (SARS-Cov 2). Além do mais, é inegável o impacto que a pandemia por esse novo coronavírus acarretou no mundo e na história da humanidade como um todo. Tendo um caminho histórico de evolução que se iniciou há mais de 15 anos, é possível traçar um breve histórico evolutivo dessa doença.

As informações pioneiras sobre SARS-Cov vieram em 2002 da China. Em proporção alarmante, o SARS-Cov se espalhou nos continentes americano, europeu e asiático chegando à marca de 8000 pessoas infectadas e entre essas infecções, 10% de mortes até 2003, quando se manteve controle dessa disseminação que foi caracterizada como uma epidemia global.

Contudo, essa doença figurou em outros momentos de nossa história como sociedade antes do cenário atual. Foi descoberta outra variante dessa família de vírus na Arábia Saudita em 2012. E novamente, espalhou-se espantosamente pelo Oriente Médio, Europa e África, sendo nomeada como “Síndrome respiratória do Oriente Médio” (MERS-Cov) pelo local onde foi identificada.

E no cenário hodierno, essa família de vírus cruza novamente com a nossa espécie. Dessa vez, esse vírus foi novamente encontrado na China, especificamente em Wuhan, na província de Hubei, causando uma série assustadora de casos de pneumonia em dezembro de 2019. Desde então, espalhou-se pelo globo atingindo nosso país e até hoje deixando um cenário estarrecedor e permeado de incertezas. Cursando, por fim, com a declaração da OMS em março de 2020 de uma pandemia.

Tendo todo esse percurso histórico da doença até o cenário atual em mente e conhecendo a existência prévia (com categorização e manejos específicos) dos casos de síndrome aguda respiratória, este artigo objetiva trazer uma luz maior quanto à síndrome respiratória aguda (principalmente em sua forma grave) e sua relação com a Covid-19 na prática clínica diária. Bem como apresentar protocolos de manejo e critérios classificatórios. Boa leitura a você!

Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)

A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é definida por Protocolo de Manejo Clínico do Ministério da Saúde como:

“Indivíduo de qualquer idade com Síndrome Respiratória Aguda caracterizada por febre alta mesmo que referida, tosse e dispneia, acompanhada ou não dos sinais e sintomas abaixo:

  1. Aumento da frequência respiratória (de acordo com idade); 
  2. Hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente; e
  3. Em crianças, além dos itens acima, observar também os batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência.” (Ministério da Saúde, 2010)

Para além disso, o documento ressalta também que o quadro pode apresentar algumas alterações radiológicas e laboratoriais, mas elas não são obrigatoriedade no diagnóstico:

  1. Laboratoriais: leucopenia, leucocitose ou neutrofilia; e
  2. Radiografia: presença de área
  3.  de condensação ou infiltrado intersticial localizado ou difuso.

Assim, é possível ao leitor compreender que a SRAG não é uma situação de simples manejo e correção. Mas, na verdade, é um quadro capaz de causar sérias complicações. “Leva ao aumento do risco de internação hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com o uso de ventilação mecânica, e inclusive ao óbito” (Ministério da Saúde, 2010). Nesse contexto, é possível observar fatores que agem sobre a gravidade da síndrome ((internação em UTI e óbitos, idade do paciente, tempo de início do tratamento antiviral e status vacinal) e outros que se associam a um desfecho clínico pior:

  • Doenças crônicas concomitantes;
  • Extremos etários;
  • Cepa viral;
  • Ausência vacinal prévia;
  • Uso de medicamentos antivirais após 72 horas do início dos sintomas.

Assim, pela relevância e impacto que tais síndromes podem causar no sistema de saúde (cenário facilmente visualizado hoje), os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave são de notificação compulsória e imediata muito antes da iminência da pandemia que hoje vivemos.

COVID-19 cursando com SRAG

            Conhecendo o que é uma SRAG e seus critérios classificatórios, percebemos que o coronavírus SARS-CoV-2 cursa com esse tipo de quadro, manifestando principalmente febre (na fase aguda pode estar ausente), fadiga, tosse seca, cefaleia, mialgia e dispneia. Adicionalmente, é possível a manifestação de: linfocitopenia; trombocitopenia; leucopenia; níveis elevados de proteína C-reativa (usada como rastreio); náuseas e vômitos; diarreia gastroenterite e odinofagia.

Todos esses sinais e sintomas previamente mencionados resultam da ativação do sistema imune como resposta a infecção em curso pelo vírus. Levando em cont[A1]  a fisiopatologia, Pascoal em seu artigo “Síndrome Respiratória Aguda: uma resposta imunológica exacerbada ao COVID19”  nos diz: “O receptor do SARS-CoV-2 é a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), expressa, principalmente, nas células epiteliais alveolares AT2 pulmonares, que são particularmente propensas a infecções virais. O rompimento da barreira inespecífica induz a liberação de citocinas responsáveis pelo início da resposta imune.”

Manejo da SRAG

Desde o início da pandemia diversos protocolos de manejo foram utilizados e rotineiramente vêm sendo atualizados partindo de base aqueles protocolos já existentes previamente em relação a condução dos casos de SRAG. Apresento a você abaixo como era realizado o manejo da SRAG em momento prévio ao COVID e aquele orientado pelo documento “Orientações para Manejo de Pacientes com COVID-19” do Ministério da Saúde.

Manejo da SRAG antes da Pandemia pela COVID-19

Fonte: Ministério da Saúde

Manejo dos casos de COVID-19

Fonte: Ministério da Saúde.
Fonte: Ministério da Saúde.

Conclusão

Em conclusão, a infecção pelo coronavírus cursa com quadros complexos de SRAG manifestando principalmente os sintomas de fadiga, tosse seca, cefaleia, mialgia e dispneia e seu manejo deve seguir protocolos validados e recomendados pelo Ministério da Saúde a fim de afastar a chance de prognósticos ruins e otimizar os resultados da terapêutica. Espero que todo esse cenário passe o quanto antes e que nos mantenhamos fortes durante esses tempos difíceis. Esteja firme, leitor(a)!


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

ARAUJO, Kamilla Lelis Rodrigues de et al. Fatores associados à Síndrome Respiratória Aguda Grave em uma Região Central do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 4121-4130, 2020. Disponível em https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25suppl2/4121-4130/pt/. Acesso em 15 de março de 2021.

BRASIL, Ministério da Saúde. Orientações para Manejo de Pacientes com COVID-19. 2020. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/18/Covid19-Orientac–o–es ManejoPacientes.pdf. Acesso em 15 de março de 2021.

BRASIL, Ministério da Saúde. Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave. 2013. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/sindrome_gripal_sindrome_respiratoria_ aguda_grave.pdf. Acesso em 15 de março de 2021.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Protocolo de Manejo Clínico de Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG. 2010. Disponível em: http://www.famema.br/assistencial/h1n1/docs/protocolodemanejoclinico.pdf. Acesso em 15 de março de 2021.

PASCOAL, David Balbino et al. Síndrome Respiratória Aguda: uma resposta imunológica exacerbada ao COVID19. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 2, p. 2978-2994, 2020. Disponível em https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/8568. Acesso em 15 de março de 2021.