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A Classificação de Nyhus e os principais tipos de hérnias abdominais | Colunistas

A Classificação de Nyhus e os principais tipos de hérnias abdominais | Colunistas

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As hérnias podem ser definidas como um escape parcial ou total de um ou mais órgãos por um defeito nas camadas da parede abdominal, sendo decorrente de má formação ou enfraquecimento de tecidos. Por sua elevada prevalência na prática médica, o conhecimento sobre as hérnias abdominais é de extrema relevância para os profissionais e estudantes de medicina.

As hérnias são mais frequentes em homens e do lado direito, possuindo prevalência aumentada com a idade. Podem ser redutíveis, nas quais o conteúdo herniário retorna para a cavidade abdominal espontaneamente ou por manobra manual (manobra de Taxe); encarceradas, quando o conteúdo herniário não retorna; e estranguladas, quando ocorre comprometimento vascular.

As queixas mais comuns de pacientes com hérnia são a presença de abaulamento, podendo ser acompanhada por dor e sensação de peso. O exame físico deve ser feito inicialmente com o paciente de pé, realizando-se a manobra de Valsalva para buscar acentuação do conteúdo. As hérnias inguinais são as mais frequentes em todas as faixas etárias e ambos os sexos, sendo a de maior importância nesse contexto.

Hérnias inguinais

São as hérnias mais prevalentes em todas as faixas etárias e em ambos os sexos, totalizando 75% das hérnias de parede abdominal. Anunciam-se através do canal inguinal, estrutura formada pela passagem entre o canal inguinal interno e o canal inguinal externo, onde, no homem, ocorre a passagem do funículo espermático e, na mulher, do ligamento redondo do útero. Podem ser dividas em hérnias inguinais indiretas e hérnias inguinais diretas, sendo as indiretas as mais comuns.

1.2 Hérnias inguinais indiretas

Ocorrem a partir de alterações congênitas e anunciam-se pelo anel inguinal interno. É o tipo de hérnia mais comum na infância e, dentre as inguinais, é a que possui maior chance de encarceramento.

1.3 Hérnias inguinais diretas

Ocorrem a partir de um defeito adquirido, por enfraquecimento da parede posterior (estrutura formada pela fáscia trasversalis, músculo transverso e músculo oblíquo interno). Anunciam-se através do Triângulo de Hesselbach (Figura 1), formado pelo ligamento inguinal, borda lateral do músculo reto abdominal e vasos epigástricos inferiores.

(Inserir aqui a figura 1 – referência: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/02/879788/tratamento-cirurgico-das-hernias-inguinais-analise-critica-de-s_tr1kRpX.pdf)

1.4 Hérnias indiretas x hérnias diretas

Durante a abordagem cirúrgica anterior, um saco herniário localizado lateralmente aos vasos epigástricos corresponde a uma hérnia indireta. Um saco herniário localizado medialmente aos vasos epigástricos corresponde a uma hérnia direta.

Ao exame físico, com a introdução do dedo no anel inguinal externo (palpável pela bolsa escrotal) e com o paciente realizando manobra de Valsalva, se a protusão for palpada na polpa digital do dedo, trata-se de uma hérnia direta e, se for palpável na ponta do dedo, trata-se de uma hérnia indireta.

As técnicas cirúrgicas mais utilizadas para a correção de hérnias indiretas e diretas são a técnica de Shouldice (sem uso de tela e com menor índice de recidivas) e a técnica de Lichtenstein (uso de tela de polipropileno), além das abordagens videolaparoscópicas.

Hérnias femorais

Anunciam-se abaixo do ligamento inguinal. São mais comuns em mulheres e são as que possuem o maior risco de encarceramento. A técnica cirúrgica mais empregada em sua correção é a técnica de McVay.

Classificação de Nyhus

A classificação mais importante no contexto das hérnias é a classificação de Nyhus, sendo seu conhecimento de extrema importância na prática médica.
Tipo I – Hérnia indireta com anatomia normal do anel inguinal interno.
Tipo II – Hérnia indireta com dilatação do anel inguinal interno (> 2cm).
Tipo III – Hérnia com defeito na parede posterior:
Direta;
Indireta;
Femoral. Tipo IV – Hérnia recidivada:
Direta;
Indireta;
Femoral;
Mista.

Hérnias umbilicais

São decorrentes do não fechamento do anel umbilical e ligeiramente mais prevalentes em mulheres. Em crianças, são defeitos congênitos que geralmente se fecham espontaneamente entre os 4-6 anos e, em adultos, adquiridos, sendo relacionadas à obesidade, gravidez e ascite. O tratamento conservador é indicado na maioria dos casos.

Hérnias epigástricas

São decorrentes de um defeito na linha alba, entre o apêndice xifoide e a cicatriz umbilical.

Hérnias incisionais

São ocasionadas por deiscência aponeurótica, formando-se em áreas de incisão cirúrgica prévia. Os principais fatores de risco são infecção do sítio cirúrgico e obesidade.

Hérnias de Spiegel

São localizadas entre a borda lateral do músculo reto abdominal e a linha de Spiegel (semilunar), sobre ou abaixo da linha arqueada de Douglas, na altura da cicatriz umbilical. São difíceis de serem diagnosticadas pelo exame físico, sendo necessários, na maioria dos casos, exames complementares de imagem.

Hérnias lombares

São decorrentes de falha na fáscia da parede posterior do abdome. Podem ser localizadas abaixo da décima segunda costela, no trígono lombar superior (Grynfelt) ou acima da crista ilíaca, no trígono lombar inferior (Petit).

Tipos especiais de hérnias

Hérnia de Amyand: saco herniário com presença de apêndice vermiforme.
Hérnia de Garengeot: hérnia femoral com apêndice vermiforme no saco herniário.
Hérnia de Richter: pinçamento lateral apenas da borda antimesentérica de víscera abdominal.
Hérnia de Littré: divertículo de Meckel no saco herniário.

Autora: Isabella Carvalho de Andrade
Instagram: @isaabellacarvalho