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Sonda de Sengstaken-Blakemore: o que é e quando usar? | Colunistas

Sonda de Sengstaken-Blakemore: o que é e quando usar? | Colunistas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Se você é estudante de medicina, enfermagem, ou já é formado em uma dessas áreas, provavelmente já estudou, ou vai estudar, hemorragia digestiva alta (HDA) durante sua trajetória. Cerca de 20% dos casos de HDA são causados por ruptura de varizes esofagogástricas (VEG) que, por provocarem um sangramento expressivo, possuem altas taxas de morbimortalidade. O mecanismo que leva ao surgimento das varizes é a hipertensão portal, pressão acima de 10mmHg no sistema porta, que ocorre principalmente devido a hepatopatias crônicas (cirrose) e esquistossomose hepatoesplênica.

O sangramento por ruptura de VEG é uma emergência médica e necessita de manejo adequado em unidade de terapia intensiva. No fluxograma proposto pelo Serviço de Cirurgia do Fígado e Hipertensão Portal do Hospital das Clínicas da FMUSP, o balão de Sengstaken-Blakemore (BSB), estrela do nosso texto de hoje, é colocado como uma alternativa quando há falha na estabilização hemodinâmica do paciente com hemorragia varicosa. Porém, o uso desse balão necessita alguns conhecimentos técnicos e teóricos que vamos te explicar agora! 

Afinal, o que é o balão de Sengstaken-Blakemore?

É uma sonda que possui um cateter de três lúmens e dois balonetes. Um dos balonetes será insuflado no lúmen do estômago fazendo pressão sobre a cárdia e outro será insuflado no lúmen do esôfago para pressionar as varizes. O terceiro lúmen serve para fazer a irrigação e drenagem do estômago.

Como a sonda de Sengstaken-Blakemore não possui 4 lúmens, onde o quarto lúmen seria para aspiração de secreções esofágicas, é necessário então que juntamente se coloque uma sonda nasogástrica para que assim haja aspiração de conteúdo esofágico.

Imagem: Sonda Sengstaken-Blakemore (1) Porta do balão esofágico, (2) Porta do balão gástrico, (3) Porta de aspiração gástrica, (4) Balão esofágico (inflado), (5) Balão gástrico (inflado), (6) Aberturas de aspiração gástrica, (N) Cavidade nasal, (E) Esôfago, (S) Estômago.

Quando usar?

Em sangramentos maciços por ruptura de Varizes esofagogástricas (VEG) em que houve impossibilidade de estabilização hemodinâmica, seja por ausência de serviço de endoscopia na unidade de atendimento, falha na escleroterapia endoscópica, ou impossibilidade de tratamento definitivo com TIPS (Tansjugular Intrahepatic Portasystemic Shunt) / cirurgia.

Mas, atenção! O uso do balão de Sengstaken-Blakemore é de no MÁXIMO 24 horas. Você deve estar se perguntando o porquê, vamos entender! 

O uso prolongado desse dispositivo pode provocar lesão isquêmica esofágica, esofagite, edema e até mesmo perfuração do esôfago. Por isso é considerado uma terapia ponte para o tratamento definitivo. 

Quais são as contraindicações?

Cirurgias prévias no esôfago e quando existe a possibilidade imediata de terapia endoscópica ou cirúrgica.

Qual a efetividade do balão de Sengstaken-Blakemore?

A efetividade no controle do sangramento dessa terapia é de 80-90%, porém a recidiva é alta (>50%).

Quais são as possíveis complicações pós-inserção da sonda?

Podem ocorrer: ruptura esofágica (insuflação indevida do balonete gástrico no esôfago), obstrução de vias aéreas superiores, necrose de asa de nariz, boca e mucosa gastroesofágica por pressão, pneumonia aspirativa, entre outras complicações.

Quem pode realizar esse procedimento?

É um procedimento médico, podendo o profissional de enfermagem ou técnico acompanhar, auxiliar, realizar os cuidados e a retirada da sonda com prescrição médica, quando capacitado e bem treinado.

Falando mais…

Como são balões, é possível que haja vazamento de ar, por isso é muito importante que haja averiguação das câmaras antes de começar o procedimento. Geralmente as varizes esofagianas se rompem quando atingem uma pressão entre 12-15 mmHg, por isso a insuflação do balão esofágico com pressões entre 20-25 mmHg são suficientes para o tamponamento das varizes. É também de suma importância checar periodicamente a pressão do balão esofágico após a inserção, pois podem ocorrer pequenos vazamentos, para isso é utilizado o manômetro de um esfigmomanômetro. Outro ponto importante é que o balão de Sengstaken-Blakemore deve ser desinflado periodicamente para que haja reperfusão sanguínea na mucosa esofagiana. Não há consenso sobre essa periodicidade, costuma-se desinflar o balão a cada 6 horas.

Uma coisa interessante é que o balão pode ser desinflado durante a endoscopia, mas permanecer locado, funcionando como uma sonda nasogástrica! Isso porque caso o endoscopista não consiga solucionar o sangramento, o balão pode ser re-insuflado. No entanto, caso o sangramento se resolva, o que é esperado, é possível o próprio endoscopista retirar o BSB do paciente.

Resumindo o que foi aprendido

O uso do balão de Sengstaken-Blakemore é indicado em casos de hemorragia persistente em pacientes com varizes esofagogástricas causadas pela hipertensão portal. O balão é eficiente em seu objetivo (tamponamento da hemorragia), desde que seja utilizado de maneira correta, com pressão adequada, respeitando seu tempo máximo de permanência (24 horas) e a sua introdução seja feita por profissionais devidamente capacitados.

O BSB é utilizado em casos emergenciais, e é um procedimento médico, devendo o profissional de enfermagem ou técnico apenas auxiliar. Também é muito importante lembrar que esse é considerado um tratamento PONTE até que a endoscopia ou a cirurgia seja possível, e que melhora o índice de sobrevida dos pacientes, além de ter um baixo custo e grande disponibilidade. Porém, apesar das vantagens do uso do BSB, é necessário se atentar para suas possíveis complicações, que incluem, pneumonia aspirativa, necrose de asa de nariz, ruptura esofágica, necrose da parede do esôfago, entre outros.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

https://www.scielo.br/pdf/abcd/v27n2/pt_0102-6720-abcd-27-02-00138.pdf

https://www.redalyc.org/pdf/2432/243217737011.pdf

http://pensaracademico.facig.edu.br/index.php/semiariocientifico/article/viewFile/419/349#:~:text=O%20bal%C3%A3o%20esofagog%C3%A1strico%20(Bal%C3%A3o%20Sengstaken,compress%C3%A3o%20das%20veias%20quando%20insuflado

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Sengstaken-Blakemore_scheme_numbered.svg