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Protoporfirina IX de ferro e porfirias | Colunistas

Protoporfirina IX de ferro e porfirias | Colunistas

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            Para entender em que consiste a protoporfirina IX de ferro é interessante conhecer inicialmente o grupo heme. Heme é um grupo prostético, ou seja, um componente de natureza não proteica de proteínas conjugadas que é essencial para a atividade biológica dessas proteínas. Tal grupo consiste em um átomo de ferro contido no centro de um anel orgânico heterocíclico, esse anel, chamado protoporfirina IX, é o alvo deste nosso artigo.

            A protoporfirina consiste então em um sistema de anéis heterocíclicos, mais precisamente quatro anéis pirrólicos caracterizados pela grande afinidade a íons metálicos, os quais estão unidos com um átomo de Fe(II), no estado ferroso, ocupando a posição central do anel.

            O átomo de ferro(II) faz seis ligações coordenadas, sendo quatro em um plano de ligação com a molécula de porfirina e duas ligações perpendiculares ao anel. Uma dessas ligações perpendiculares sempre é feita com o O2, mas outras moléculas como o monóxido de carbono (CO), óxido nítrico (NO), Cianeto (CN) e ácido sulfídrico (H2S) podem ocupar essa posição. Por esse motivo, tais substâncias podem ser consideradas tóxicas.

 Quanto à formação da protoporfirina IX temos as seguintes reações:  

  1. A primeira reação para a síntese do grupo heme ocorre na mitocôndria pela união de uma molécula de succinil-CoA e uma molécula de glicina através da reação catalisada pela enzima aminolevulinato sintetase. Esta reação gera aminocetoadipato, que é então descarboxilado a aminolevulinato.
  2. Logo, o aminolevulinato é transportado para o citosol havendo dimerização catalisada pela enzima ALA desidratase para produzir porfobilinogênio.
  3. Após, ocorre a condensação de quatro moléculas de porfobilinogênio para produzir o intermediário preuroporfirinogênio. A enzima que catalisa esta condensação é a porfobilinogênio desaminase, também chamada uroporfirinogênio I sintetase. O preuroporfirinogênio terá dois destinos: isômeros I e III do uroporfirinogênio. O isômero I é uma molécula não metabolizável e o isômero III se forma pela ação conjunta da uroporfirinogênio sintetase e da uroporfirinogênio III cosintase.
  4. O uroporfirinogênio é descarboxilado pela enzima uroporfirinogênio descarboxilase e no produto resultante há substituição de grupos acetil por grupos metil, passando a ser chamado de coproporfirinogênio.
  5. O coproporfirinogênio III é transportado novamente para o interior da mitocôndria, onde dois grupos propiônicos são descarboxilados passando a grupos vinil por ação da coproporfirinogênio oxidase. O produto desta reação é o protoporfirinogênio IX, um composto incolor.
  6. O protoporfirinogênio IX é convertido em protoporfirina IX pela protoporfirinogênio IX oxidase.

As interações de porfirinas, em geral, e de ferro-porfirinas com diversos sistemas biológicos e biomiméticos, como micelas, biomembranas, albumina e ácidos nucléicos, têm sido estudadas através de diversas técnicas, incluindo absorção ótica, fluorescência, EPR (ressonância paramagnética eletrônica), NMR, difração de raios-X e muitas outras.

Os complexos de porfirina são essenciais para a vida e têm múltiplas aplicações. O heme (protoporfirina IX-Fe2+), por exemplo, é o grupo encarregado de fazer a ligação do oxigênio à hemoglobina e, daí, transportá-lo às diversas partes do corpo. O precursor na síntese do heme é a protoporfirina IX (PPIX). A inserção do ferro II na PPIX é realizada por meio da enzima ferroquelatase.  Quando o ciclo de síntese do grupo heme é interrompido se produz o aumento das porfirinas precursoras do heme, isto termina gerando uma grave doença chamada porfiria. A porfiria, pode-se classificar como hepática e eritropoiética, é responsável por ataques neurológicos agudos e problemas de pele, geralmente erupções de bolhas sensíveis à luz solar e crescimento aumentado de pelos.

As Porfirias podem ser divididas em:

-Porfirias agudas.

– Porfiria deficiente da ALA-dehidrase.

-Porfiria intermitente aguda.

-Coproporfiria hereditária.

-Porfiria Variegatta.

-Porfirias cutâneas.

 As manifestações podem ser através de fotossensibilidade com erupções em geral vesiculares. Entre elas tem-se: 

-Porfiria eritropoética congênita.

-Coproporfiria hereditária.

-Porfiria Hepatoeritropoética.

-Porfiria Cutânea Tarda.

-Porfiria Variegatta. 

As lesões crônicas ocorrem principalmente em áreas expostas ao sol, ocorrendo principalmente no dorso das mãos, e, se severas, podem infectar e ser mutilantes. A fotossensibilidade nas Porfirias cutâneas ocorre pela ativação das Porfirinas na pele por raios ultravioleta.

O diagnóstico depende da mensuração dos precursores da Porfirina ALA e PBG e Porfirinas na urina, no plasma, nos eritrócitos e nas fezes. Deve-se considerar sua investigação em todos pacientes com sintomas neuroviscerais, como dor abdominal.

 O tratamento depende do tipo exato de porfiria e tem como principal objetivo aliviar os sintomas apresentados pelo paciente.

Porfirias agudas:

O tratamento de porfirias agudas consiste em tratar rapidamente os sintomas e em prevenir possíveis complicações. Talvez a hospitalização seja necessária em casos graves.

  • Interrupção dos medicamentos que possam estar desencadeando os sintomas.
  • Uso de medicação para controlar a dor, náuseas e vômitos.
  • Tratamento imediato de infecções ou de outras condições subjacentes que possam estar causando os sintomas.
  • Aplicação de glicose intravenosa ou por via oral, a fim de manter a ingestão adequada de carboidratos.
  • Uso de fluidos intravenosos para combater a desidratação.
  • Injeções de hemina, uma medicação que é uma forma de heme, para limitar a produção de porfirina pelo corpo.

Porfirias cutâneas:

O tratamento voltado para porfirias cutâneas se concentra em reduzir a exposição do paciente à luz solar e em reduzir a quantidade de porfirina no corpo, o que ajuda a eliminar os sintomas.

  • Flebotomia (extração de sangue de uma veia, a fim de reduzir a quantidade de ferro e, consequentemente, diminuindo as porfirinas produzidas).
  • Uso de determinados medicamentos, como os usados para tratar malária, capazes de absorver o excesso de porfirinas produzidas pelo corpo. Essa medicação é usada geralmente apenas em pessoas que não podem passar por flebotomia.
  • Prescrição com doses diárias de betacaroteno, que pode ajudar na proteção da pele contra a radiação solar e reduzir a fotossensibilidade.
  • Reduzir ou eliminar possíveis fatores que desencadeiem os sintomas, como o uso de alguns medicamentos, exposição excessiva ao sol, o tabagismo ou a ingestão abusiva de álcool.
  • Consumo de maiores quantidades de vitamina D, às vezes por meio de suplementos.

Autora: Julya Pavão

Instagram: @julyapavao


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


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Referências

BONKOVISKY, H. L.; RUDNICK, S. R. Visão geral das porfirias. MSD, Versão para Profissionais da Saúde. 2019. Disponível em: < https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/porfirias/vis%C3%A3o-geral-de-porfirias#:~:text=Porfirias%20s%C3%A3o%20doen%C3%A7as%20raras%20em,definidas%20pela%20defici%C3%AAncia%20enzim%C3%A1tica%20espec%C3%ADfica.> Acesso em: 06/04/2021.

NETO, R. A. B. Porfirias. Medicina Net Artmed. 2015. Disponível em: < https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/6463/porfirias.htm> Acesso em: 06/04/2021.

TEIXEIRA, L. V. Metabolismo do grupo heme. 2010. Disponível em: < https://www.ufrgs.br/lacvet/restrito/pdf/heme_luciele.pdf> Acesso em: 07/04/2021.