Carreira em Medicina

Padrão de Brugada: A morte súbita em jovens saudáveis | Colunistas

Padrão de Brugada: A morte súbita em jovens saudáveis | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Você sabe o que é Síndrome de Brugada?

         Em 1992, a síndrome de Brugada foi descrita pela primeira vez pelos irmãos Brugada. Eles observaram que alguns jovens, sem qualquer doença cardíaca, apresentaram parada cardíaca e alterações eletrocardiográficas que hoje são denominadas como padrão de Brugada.

            Essa síndrome é responsável por 4% a 12% de todas as mortes súbitas cardíacas e até 20% das mortes súbitas cardíacas que ocorrem em corações normais. É [MOU1] rara, de caráter autossômico dominante e acomete mais pacientes do sexo masculino por volta dos 40 anos. Foi relacionada a mutações no gene SCN5A, responsável pela subunidade dos canais de sódio, assim, como consequência dessa mutação, ocorrem alterações eletrocardiográficas específicas podendo gerar arritmias ventriculares levando à morte súbita.

Como se manifesta?

As manifestações ocorrem com mais frequência à noite e não estão relacionadas com exercícios físicos. Sua clínica vai desde episódios de palpitação, síncope e até morte súbita, podendo esta ser a sua primeira manifestação.

Esses eventos podem também ser desencadeados por febre e certas medicações, como: bloqueadores do canal de sódio, betabloqueadores, antidepressivos tricíclicos, lítio e cocaína.

Quais são os padrões eletrocardiográficos encontrados?[Ca2] 

O padrão de Brugada caracteriza-se por alterações eletrocardiográficas específicas nas derivações precordiais direitas V1, V2 e V3. Existem três padrões (Tabela 1):

Fonte: Guia de Eletrocardiografia com Exercícios Comentados – UNIFESP, pg 86.

• Tipo 1: É o padrão típico, caracterizado por um supradesnivelamento do ponto J e do segmento ST, igual ou superior a 2mm, com concavidade superior, seguido de onda T negativa.

• Tipo 2: Caracteriza-se por um supradesnivelamento do ponto J, igual ou maior que 2mm, logo seguido de um segmento ST gradualmente descendente, mas que também se mantém ao menos 1mm acima da linha de base. A onda T que se segue é positiva ou bifásica, dando a este conjunto o formato de “sela de montaria”.

• Tipo 3: A morfologia do segmento ST é semelhante a do Tipo 2 no formato de “sela de montaria”, mas seu supradesnivelamento é menor que 1mm e a onda T é positiva.

É importante ressaltar que esses achados eletrocardiográficos possam estar ausentes. O padrão tipo 1 pode aparecer espontaneamente ou com administração de medicamentos (antiarrítmicos, antidepressivos, lítio, anestésicos), por alterações eletrolíticas (potássio, cálcio), por uso de drogas (álcool, cocaína), por febre ou manobra vagal. [Ca4] 

Como diagnosticar?

            Para o diagnóstico da síndrome de Brugada com o padrão eletrocardiográfico tipo 1, é necessário apresentar um dos seguintes achados:

No caso dos padrões tipos 2 e 3, o diagnóstico é realizado com o teste provocativo positivo acompanhado com um dos achados supracitados. O teste provocativo é realizado com ajmalina, flecainida ou procainamida que são drogas que bloqueiam os canais de sódio de classe IA ou IC. Esse teste tem como objetivo de transformar os padrões dos tipos 2 e 3 em tipo 1 para confirmar a doença.

Outra opção é a avaliação genética para as mutações do gene SCN5A, entretanto é um exame de alto custo e de baixa acurácia para definir o diagnóstico da síndrome de Brugada. [Ca5] 

Qual é o tratamento?

         O único meio terapêutico eficaz para a prevenção da morte súbita é o cardiodesfibrilador implantável (CDI). É um dispositivo do tipo pacemaker que monitoriza constantemente o ritmo cardíaco e ao detectar algum problema, aplica uma série de impulsos elétricos indolores para corrigir o ritmo. Em caso de insucesso ou se detectar uma alteração mais grave, é aplicado um pequeno choque elétrico, realizando uma cardioversão. Se ainda não funcionar, ou se o problema for muito grave, é aplicado um choque mais forte no coração, realizando a desfibrilação. Desse modo ele consegue corrigir uma taquicardia ventricular (TV) ou fibrilação ventricular (FV), impedindo que o paciente venha a desencadear uma morte súbita. O dispositivo é inserido no subcutâneo ou subpeitoral, com eletrodos inseridos por via transvenosa até o ventrículo direito e, algumas vezes, também no átrio direito. O seu funcionamento e vida útil da bateria devem ser verificados regularmente e só necessita de substituição quando a bateria acabar e dura em média 5 a 7 anos.[Ca6] 

            Em pacientes de alto risco que apresentam episódios recorrentes, há opções farmacológicas que são indicadas para controle dos episódios arrítmicos, como Cilostazol e a quinidina, entretanto, não há disponibilidade de nenhuma droga que reduz o risco de morte nesses pacientes.

Conclusão

Portanto, é de grande relevância conhecer essa síndrome e saber identificar o padrão eletrocardiográfico. Mesmo sendo uma doença rara, ela afeta pacientes jovens, e possui uma opção terapêutica eficiente para prevenir que o paciente venha apresentar uma morte súbita. Assim, é importante saber diferenciar de outras etiologias de supradesnivelamento do segmento ST.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

  1. Manual MSD  – https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/cardiodesfibriladores-implant%C3%A1veis-cdi
  2. Heart Failure Matters – https://www.heartfailurematters.org/pt_PT/Como-%C3%A9-que-o-seu-m%C3%A9dico-pode-ajudar%3F/PT-Implantable-Cardioverter-Defibrillator-ICDs
  3. Revista Portuguesa de  Cardiologia https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0870255113000504
  4. Sociedade Brasileira de Cardiologia – http://www.arquivosonline.com.br/2016/10605/pdf/10605014.pdf
  5. Guia de Eletrocardiografia com Exercícios Comentados – UNIFESP; 1º edição; 2012.
  6. Tratado de Cardiologia – SOCESP; 2ª edição; 2019.