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Os três níveis de atenção à saúde | Colunistas

Os três níveis de atenção à saúde | Colunistas

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Introdução

Você sabe como funciona a subdivisão da atenção à saúde? Neste artigo, será possível compreender, de modo simples, de que forma as atenções primária, secundária e terciária atuam na engrenagem formadora do Sistema Único de Saúde (SUS). Para além de mera burocracia, a divisão da atenção à saúde, determinada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), funciona como um eficiente mecanismo do processo de triagem médica. Por meio dessa divisão, torna-se possível compreender em que fase da doença o paciente encontra-se, a complexidade do quadro clínico apresentado e, por conseguinte, o melhor tratamento a ser ministrado.

Dado isso, podemos constatar a importância da devida articulação entre os três níveis de atenção à saúde, uma vez que, como será discutido no decorrer deste texto, tal articulação poderá ser responsável por otimizar o funcionamento do sistema público de saúde, evitando o desperdício de recursos públicos e oferecendo um atendimento satisfatório ao paciente.

Tipificação dos níveis de atenção à saúde

Atenção Primária

A atenção primária caracteriza-se, muitas vezes, por atuar como a porta de entrada do paciente para o serviço de saúde. Nesse sentido, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), a Medicina de Família e Comunidade (MFC) e os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) emergem como parte do corpo formador da atenção primária. Essa modalidade de atendimento atua sob uma perspectiva mais preventiva, visando a reduzir os riscos de incidência de doenças na população de alcance. Além disso, é caracterizada pelo recebimento de casos de baixa complexidade.

Apesar disso, não se engane! A atenção primária é de extrema importância para a eficiência do sistema de saúde público. Nesse nível, a anamnese costuma ser profunda e abrangente, uma vez que o paciente, muitas vezes, chega ao consultório relatando sintomas inespecíficos ou pouco delimitados. Nesse sentido, para a realização de um bom atendimento, o médico precisa possuir uma visão geral do paciente, analisando seu modo de vida, hábitos e constituição familiar, por exemplo. Em virtude disso, na atenção primária, a relação entre médico, sobretudo o profissional da MFC, e paciente é, geralmente, mais próxima e consolidada. Não por acaso, o Médico de Família pode lidar com até 90% dos problemas do paciente sem necessidade de encaminhamento para outros níveis de saúde. Contudo, o investimento nas áreas de saúde referentes à atenção primária, no Brasil, ainda são baixos. Por outro lado, no Canadá, aproximadamente 95% das pessoas possuem um médico generalista de confiança. Além disso, a atenção primária participa da organização de campanhas de vacinação e reduz o índice de doenças facilmente evitáveis, como diabetes e hipertensão. 

Atenção Secundária

Nesse nível de atenção é provável que a doença já tenha sido identificada. Aqui, atuam profissionais mais específicos, são os chamados especialistas focais, a exemplo de neurologistas e cardiologistas. Por ser uma área com maior nível de especificidade, há, também, maior demanda tecnológica. Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) representam um bom exemplo de atuação da atenção secundária. Serviços de urgência e emergência e ambulatórios também são comumente utilizados nesse nível de atenção. Dessa forma, pode-se classificar a complexidade do atendimento na atenção secundária como intermediária.

É importante observar que, caso haja um déficit de atendimento na atenção primária e o paciente seja, precocemente, encaminhado para um médico especialista (atenção secundária), isso poderá resultar no requerimento de exames desnecessários, gerando transtornos financeiros públicos ou particulares e, até mesmo, falhas de diagnóstico, de forma a dificultar o tratamento da doença.

Atenção Terciária

O último nível de atenção à saúde possui, entre todos, o maior grau de especificidade e complexidade. Esse setor é composto por hospitais de grande porte e possui elevada demanda tecnológica. Não é incomum, por exemplo, o uso de ferramentas tecnológicas, como prontuários eletrônicos e sistemas de agendamento. Diante disso, esse nível torna-se responsável por procedimentos mais invasivos, como as cirurgias, os transplantes e as diálises. Nesta etapa, o paciente, provavelmente, já passou pelos níveis primário e secundário, fato que pode indicar condições patológicas mais graves.

Esquema ilustrativo da tipificação

Fonte: Ilustração autoral

Conclusão

Partindo das definições e das análises apresentadas neste texto, torna-se clara a necessidade da divisão em níveis proposta pela OMS. Quando tais áreas atuam integradas, elas complementam-se de modo a oferecer a melhor experiência possível para o paciente, de forma a tratá-lo ou a curá-lo sem transtornos desnecessários. Por exemplo, ao realizar uma correta anamnese em seu paciente, o médico de família (atenção primária), poderá identificar e tratar grande parte dos problemas, encaminhando o paciente ao médico especialista (atenção secundária) apenas em situações, de fato, necessárias, isto é, quando a atenção primária não é mais capaz de oferecer os recursos, sejam eles tecnológicos ou técnicos, requeridos para a eficiência do tratamento proposto. Com o correto manejo dos três níveis, há diminuição da sobrecarga nos hospitais e otimização do tratamento do paciente, que possui seu problema resolvido nas UBSs ou, caso contrário, é devidamente encaminhado a um especialista focal. Reitera-se, portanto, como fator imprescindível ao bom funcionamento do sistema de saúde no Brasil e no mundo, a necessidade de cooperação. Entendemos, pois, que cada área possui seu campo de atuação indispensável e insubstituível. A área médica, notavelmente marcada pela competição, é melhor aproveitada quando os saberes se unem em prol do paciente, alvo único desta profissão. Sejamos, então, mais cooperativos.

Autora: Vitória Yohana

Instagram: vitoria.yoh


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Como a estratégia Saúde da Família pode organizar o SUS- https://pebmed.com.br/como-a-estrategia-saude-da-familia-ajuda-a-organizar-o-sus/

Saúde Pública e as bases de funcionamento do SUS-

https://www.politize.com.br/saude-publica-e-como-funciona-o-sus/

Médico de Família pode lidar com até 90% dos problemas dos pacientes-

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/medico-de-familia-e-o-profissional-que-pode-lidar-com-ate-90-dos-problemas