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Os diferentes tipos de surdez e a influência de patologias do ouvido | Colunistas

Os diferentes tipos de surdez e a influência de patologias do ouvido | Colunistas

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O ouvido humano, capaz de captar sons entre 20 e 20.000 Hz, pode apresentar falhas. Dentre uma das mais comuns, temos a surdez ou hipoacusia, causada por ouvir algo sem moderação ou simplesmente por existirem patologias no ouvido, como as que veremos adiante.

A maioria dos casos de surdez estão relacionados com alterações no ouvido, seja externo, médio ou interno, e uma pequena parte somente a lesões centrais, como no cérebro.

Antes de nos aprofundarmos nas diferentes patologias que levam um indivíduo à surdez ou à hipoacusia, iremos entender sobre surdez genética e adquirida.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a surdez, seja aguda ou somente hipoacusia, apresenta-se ao nascimento em 5% dos bebês; desses, a maioria são de causa genética e o restante é adquirido durante a gravidez ou no período perinatal por patologias.

Na surdez adquirida após o nascimento, a maioria dos casos são por alterações no ouvido médio, como otite crônica, otite média com efusão ou seromucosa. Contudo, por mais que crianças sejam as mais afetadas, adultos por vezes descuidados expõem-se a sons exacerbados, e hoje, já com tendência de aumento, o traumatismo acústico ocupa o primeiro lugar entre os fatores responsáveis pela surdez.

Tipos de surdez

De transmissão: uma alteração bastante comum do ouvido externo é o rolhão de cerúmen (cera acumulada), que tapa o ouvido e impede a passagem do som ao ouvido médio e interno; e, também, lesões no ouvido médio, por exemplo, lesão da cadeia ossicular, que é uma fratura de luxação no ligamento dos ossículos bigorna e estribo, impedindo que o som que chega ao tímpano mobilize a cadeia ossicular do ouvido médio, a qual é responsável por amplificar o som para que este chegue ao ouvido interno. Também há a malformação dessa cadeia ossicular, formada pelos ossículos martelo, bigorna e estribo, podendo ser bilateral entre 30% e 40% dos casos. Geralmente acompanhado por anomalia do pavilhão auricular e/ou canal auditivo.

Ainda no ouvido médio, a otite média aguda é uma importante causa de perda de audição, caracterizada por edema na tuba auditiva por processo infeccioso viral ou bacteriano, que impede que as secreções do ouvido médio sejam drenadas, pois está ligada à nasofaringe, favorecendo uma colonização bacteriana e levando a membrana timpânica a acumular pus. Vale ressaltar aqui que a otite é mais prevalente em crianças do que em adultos, pois a tuba auditiva ainda está pouco inclinada (cerca de 10°), enquanto a do adulto chega a 45°, favorecendo, na criança, uma pior drenagem de suas secreções, ocasionando, assim, uma otite.

Neurossensorial ou de percepção: devido à disfunção do ouvido interno, aqui englobamos as patologias dos neurônios e das células ciliadas. As três principais causas de surdez neurossensorial adquirida são os fármacos ototóxicos, o traumatismo por som exacerbado e o envelhecimento natural (presbiacúsia, que é sempre bilateral e simétrica). Por conta desses fatores, pode ocorrer redução das células ciliadas da cóclea, que são importantes para determinar a amplitude da vibração da membrana basilar, responsável por codificar os sons para que o nervo coclear os leve ao cérebro.

O traumatismo auditivo acontece quando há uma superexposição ao som; por exemplo, se uma pessoa ficar 30 minutos exposta a um som de 130 dB, ocorre a destruição excitotóxica da sinapse entre as células ciliadas e o dendrito do neurônio auditivo. Provavelmente essas lesões se recuperarão entre 2 e 3 dias, porém, quando superexposições ocorrem repetidamente, esses acidentes podem levar à perda irreparável do neurônio, principalmente devido à entrada massiva de cálcio nesse. A perda definitiva de audição neste caso é devida à junção das perdas de células ciliadas e neurônios.

O envelhecimento natural, ocasionando presbiacusia, é visto como um desgaste normal do ouvido, em oposição a uma surdez provocada por patologias. De todas as modalidades sensoriais, a audição é a que envelhece mais previamente, e, por existirem poucas células ciliadas e neurônios na cóclea, cada perda se torna importantíssima, sendo, infelizmente, irreversível.

Quanto à lesão no nervo vestíbulococlear (oitavo par de nervos cranianos), podemos citar tumores, que irão dificultar na comunicação de informações entre o nervo e as áreas auditivas. O tumor mais frequente dele é o schwanoma vestibular (ou neurinoma do acústico), que é benigno e de crescimento lento (1 mm a 1cm por ano). Surdez mista: em um mesmo indivíduo, pode haver tanto surdez de transmissão quanto neurossensorial ou de percepção. Inclusive, uma patologia pode influenciar no desenvolvimento da outra; por exemplo, uma patologia no ouvido médio em estágio avançado pode ter repercussões no ouvido interno, induzindo a uma surdez mista. Na otosclerose, há uma redução da mobilidade entre o ossículo estribo e a janela do vestíbulo. É uma surdez adquirida e progressiva que acaba por atingir o ouvido interno, provocando uma surdez neurossensorial, atingindo neurônios ou células ciliadas, ou mesmo ambos, e vertigens.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


REFERÊNCIAS:

AQUINO, Antonio M.C.M. et al. Emissões otoacústicas no diagnóstico precoce de lesão coclear na doença Mèniére. Rev. Bras. Otorrinolaringologia., SP, v.68, n.5, p.761-765, Oct. 2002.

Clínica médica: doenças dos olhos, doenças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos mentais. – Barueri, SP: Manole, 2009. – (Clínica médica).

FRANCESCO, R.C; MORICZ, R.D.; MARONE, S. Otite média aguda em pediatria. Atualize-se. v.1 n.3. SP, 2016.

FRANCESCO, R.C. Otite média aguda de repetição. Atualize-se. v.1 n.3. SP, 2016.

PEREIRA, M.R.B; RAMOS, B.D. Otite média aguda e secretora. Jornal de Pediatria. v.74, Supl.1. RJ, 1998.

PILTCHER, O.B. et al. Rotinas em otorrinolaringologia. Artmed, Porto Alegre, 2015.