Casos Clínicos: Esquistossomose | Ligas

Índice

Apresentação
do caso clínico

T.B.A, 38 anos, masculino, casado, agricultor,
ensino médio incompleto, natural e procedente de Sapeaçu-BA, procurou a unidade básica com queixa de sangue nas
fezes há 2 dias. Paciente refere fezes enegrecidas, fétidas e amolecidas há 2
dias. Associado ao quadro de melena apresentou 2 episódios de hematêmese e
aumento do volume abdominal há 4 meses. Afirma perda de 5 kg e alterações no
ritmo intestinal nos últimos 4 meses, além de cansaço progressivo que o tem
impedido de trabalhar. Nega febre, inapetência, empachamento pós-prandial,
náuseas e vômitos. Nega outras comorbidades prévias, alergias e transfusões. Relata
que a mãe apresenta diabetes mellitus e que o pai morreu de AVC aos 70 anos. Nega
tabagismo, afirmando etilismo social e que não prática nenhuma atividade física
além do esforço no trabalho. Mora em zona rural com a mulher e 2 filhos em casa
rebocada sem saneamento básico e utiliza água fervida.  Afirma banhos de rio desde a infância,
afirmando que já ouviu falar da doença do caramujo em sua região.

Ao exame físico, o paciente
encontrava-se em precário estado geral, orientado e lúcido, emagrecido, afebril
(36,5ºC), acianótico, anictérico, mucosas hipocrômicas (+/+4) e desidratadas,
eupneico (frequência respiratória = 18 irp), normocárdico (frequência cardíaca
= 80 bpm) e com PA de 110x80mmHg. Peso: 51. IMC=17,6. No exame cardiovascular
ritmo cardiovascular regular em 2 tempos, bulhas rítmicas e normofonéticas sem
presença de sopros ou desdobramentos. Aparelho respiratório sem alterações. Ao
exame do abdome, paciente apresentava abdome globoso, as custas de ascite
moderada com presença de circulação colateral. RHA +, timpânico a percussão
exceto em abdome inferior-submaciço. Na hepatimetria: 12 com em LHCD e 9 cm em
LME. Abdome doloroso à palpação profunda. Traube ocupado com baço palpável. Sem
alterações no aparelho neurológico.

O paciente foi encaminhada para
realização de exames para confirmação de suspeita de esquistossomose, foi
solicitado avaliação laboratorial incluindo: hemograma, aminotransferase de aspartate (AST) aminotransferase
de alanine (ALT), fosfatase alcalina (FA), gama glutamil transferase
(GGT), nível sérico de albumina e parasitológico de fezes.  Além de USG de abdome total e endoscopia
digestiva alta.

Após realização dos exames, notou-se moderada anemia, leve aumento das
aminotransferase, diminuição da albumina sérica e foram achados ovos de
Schistosoma nas fezes. O USG evidenciou fibrose em parênquima hepático e a EDA
mostrou rompimento de varizes de esôfago. Assim, foi confirmado que o paciente
apresentava esquistossomose. Como conduta foi prescrito reposição volêmica, o uso de
praziquantel e tratamento endoscópio das varizes esofágicas, encaminhado para
cirurgião para avaliar esplenectomia.

Questões para orientar a discussão

  1. Como é
    feita a transmissão?
  2. Qual o
    ciclo evolutivo da esquistossomose?
  3. Como
    pode se apresentar o paciente?
  4. Como é
    feito o diagnóstico?
  5. Qual o
    tratamento?

Respostas

  1. Contato com águas contaminadas por cercarias
    infectadas.
  2. O ciclo de vida do parasita inclui um estágio
    sexuado Schistosoma mansoni adulto no hospedeiro definitivo, por exemplo, o
    homem e um estágio assexuado no hospedeiro intermediário, o molusco do gênero
    Biomaphalaria. A infecção humana é iniciada pela penetração de cercárias
    infectantes na pele, que se transformam em esquistossômulo- passando pelos
    pulmões via circulação venosa. Os esquistossômulos migram para o sistema porta,
    onde os vermes adultos acasalam, fazendo sua ovoposição em veias mesentéricas.
    Os ovos migram através da mucosa para o lúmen intestinal e uma parte é expelida
    através das fezes e outros voltam para o fígado. Os ovos eclodem e se
    transformam em miracídios em contato com a água, que penetram em caramujos, os
    quais liberaram cercárias- continuando assim o ciclo.

Disponível em Salomão, Reinaldo Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão – 1. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

3. O quadro clínico se divide em esquistossomose aguda e crônica:

Na esquistossomose aguda o paciente pode se apresentar com dermatite cercariana “prurido do nadador” – prurido nos locais onde as cercárias penetram na pele seguido por erupção maculopapular e  com febre de Katayama- manifesta-se entre 4-8 semanas da infestação cercariana, com quadro de febre alta (39°C), calafrios, cefaleia, astenia, náuseas e vômitos. Mais raramente pode haver diarreia aquosa grave, tosse não produtiva e perda de peso.

Esquistossomose crônica- pode ser dividida em hepatointestinal (nauses, vômitos, pirose, flatulência, anorexia, hepatomegalia), hepatoesplênica (com ou sem hipertensão portal, HDA, esplenomegalia), pulmonar e outras formas. Os principais sintomas são dor abdominal, irregularidade intestinal e presença de sangue nas fezes. Os pacientes podem permanecer assintomáticos até o desenvolvimento de manifestações de fibrose hepática e hipertensão portal. Pode ocorrer hematêmese por sangramento de varizes esofagianas ou gástricas.

4. O diagnóstico é feito através do exame parasitológico de fezes, a biopsia retal está indicada nos casos suspeitos com EPF negativo ou através de ensaios sorológicos para detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG contra antígenos de Schistosoma. Outros métodos são utilizados para auxiliar diagnostico, principalmente na forma hepatoesplênica, como USG e a biopsia hepática.

5. A quimioterapia é o melhor método para controle e cura da esquistossomose. Existem 2 drogas eficazes para o tratamento dessa helmintíase: oxamniquina (na dose única de 15mg/Kg de peso para adultos e 20mg/Kg de peso para crianças) e praziquantel (na dose única de 40mg/Kg de peso para adultos e 60mg/Kg de peso para crianças) ambas administradas via oral. Lembrar de tratar complicações.

Compartilhe este artigo: