Carreira em Medicina

Caso Clínico: Doença de Osgood-Schlatter ou Apofisite do Tubérculo | Ligas

Caso Clínico: Doença de Osgood-Schlatter ou Apofisite do Tubérculo | Ligas

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Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Anamnese

Jovem, 12 anos, dá entrada no serviço de ortopedia com relato de dor em joelho esquerdo intensificada há 5 dias.

Identificação do paciente

C.V.S.M., 12 anos, estudante, sexo masculino, natural de Feira de Santana- Bahia, praticante de futebol.

Queixa principal

Dor intensa em joelho esquerdo recorrente, há mais de 3 meses, porém exacerbada ao realizar exercício físico há 5 dias.

História da doença Atual

O menor relata que as dores se iniciaram há cerca de 3 meses em ambos os joelhos, mas se tornam limitantes nesses últimos 5 dias, após uma partida de futebol, com exacerbação da dor e edema do joelho esquerdo. Afirma realizar a atividade com frequência, por volta de 5 vezes na semana, sendo este um fator de piora intensificando o edema no joelho esquerdo. Fez uso de analgésicos como Dipirona e Paracetamol, juntamente com gelo e repouso, o que leva à melhora momentânea, porém sem melhora completa da dor. Apesar das medidas usuais para controle da dor, nega melhora no quadro atual. Nega irradiação, traumatismo, febre, astenia, cianose, despertar noturno pela dor e perda ponderal.

Antecedentes pessoais, familiares e sociais

O jovem relata sempre ter sido bastante ativo, realizando exercícios físicos, seja na escola ou na rua com os amigos. Sem queixas anteriores à procura do serviço médico atual.  Nega internamentos e cirurgias pregressas. Nega comorbidades. A genitora afirma que o paciente teve DNPM de acordo com a idade, tem cartão de vacina completo (SIC), bom desempenho escolar e ótimo relacionamento com os colegas. O pai é hipertenso, e mãe ou irmãos sem histórico de doença prévia.

Exame físico

Ao exame: dor ao toque e a movimentação de ambos os joelhos, exacerbadas na palpação da região de tuberosidade tibial esquerda e ao realizar extensão do joelho contra resistência, limitando seu movimento. Presença de edema local, mais intenso em joelho esquerdo, com leve rubor. Sem calor e lesões.

Suspeitas diagnósticas

  • Doença de Osgood-Schlatter
  • Tendinite Infrapatelar
  • Síndrome de Hoffa

Exames complementares

Solicitado Radiografia de joelho em duas incidências (PA e perfil).

Laudo: Imagem em PA evidencia fragmentação da tuberosidade tibial anterior.

Diagnóstico

O paciente do caso se encaixa com a principal suspeita: Doença de Osgood-Schlatter. Essa doença acomete mais frequentemente adolescentes do sexo masculino, na fase do estirão de crescimento (12 – 15 anos), que realizam atividades físicas com impacto (futebol, skate, corrida, etc). É autolimitada e benigna, que, apesar da fisiopatologia não ser tão bem definida, acredita-se que ocorram microtraumas repetitivamente, ocasionados pela tração do ligamento da patela na inserção com a apófise anterior da tíbia proximal, quando há contrações do músculo quadricípite femoral, no local onde se insere. Isso ocorre de forma recorrente e intensa. Trata-se de uma lesão de sobrecarga. Essa patologia ocorre em jovens, pois a epífise ainda se encontra parcialmente cartilaginosa.

O diagnóstico pode ser realizado através da história clínica e exame físico, especialmente pela palpação. Porém, habitualmente o raio-x é solicitado, e o diagnóstico é então estabelecido ao se visualizar as microfraturas, principalmente na incidência lateral. Os achados incluem fragmentação da tuberosidade tibial anterior e edema de partes moles adjacentes. É importante a associação dos achados radiográficos com as manifestações clínicas.

Discussão do caso da Doença de Osgood-Schlatter

Qual o tratamento?

Deve ser orientado ao paciente a suspensão da atividade física até o alívio dos sintomas. Só depois de superada a fase aguda, o paciente deve iniciar fortalecimento muscular e alongamento da musculatura extensora do joelho. Fazer uso de gelo no local. Pode ser feito uso de AINE, caso necessário para alívio da dor. Fora da fase aguda, não é necessário a suspensão das atividades físicas em sua totalidade, podendo o paciente manter quando a dor é suportável e melhora em 24h.

Qual a perspectiva de melhora do paciente?

Por ser uma doença que acomete os pacientes jovens e ser autolimitada, o paciente tem bom prognóstico. As dores devem passar por completo em torno de 12 a 24 meses ou quando completar a ossificação da tuberosidade anterior da tíbia.

Pode acometer os dois joelhos?

É possível que se tenha acometimento bilateral, no entanto, é mais comum em apenas um deles.

Como diferenciar, na imagem do raio-X, a Doença de Osgood-Schlatter da Síndrome de Hoffa?

A síndrome de Hoffa também causa dor anterior no joelho. Na radiografia, no entanto, não há qualquer fratura ou lesão, diferente da Doença de Osgood-Schlatter, que apresenta microfraturas.

Conclusão

Após realizar o raio-X e constatar a presença de fragmentação da tuberosidade tibial anterior, o que explica o quadro descrito na anamnese e exame físico, pode-se concluir pelo diagnóstico de Doença de Osgood-Schlatter.

Para o paciente em questão, orienta-se a suspensão do exercício físico, aplicação de gelo e uso de AINE para melhora da dor. Em seguida, pode ser liberado para retornar ao exercício físico, e recomendação de fisioterapia para fortalecimento da musculatura local.

Caso, ao retorno da prática do futebol, o paciente permaneça com dor, recomenda-se o uso de joelheira de proteção.

Autores, revisores e orientadores:

Liga: Liga Acadêmica de Radiologia da Bahia –  larb.unime

Autor(a): Andressa Gabriela Chehade – @andressachehade

Autor(a): Bruna Ribeiro Mendes – @brunaribeiromendes

Revisor(a): Kátia Aparecidda Scarpari Bourdokan – @katiabourdokan

Orientador(a): Dra. Lara Cardoso – @laracardoso40

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

BERTOLO, M. Doença de Osgood-Schlater. Revista Brasileira de Reumatologia. v. 44, n. 4, p. 300, jul./ago. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042004000400010#:~:text=A%20doen%C3%A7a%20de%20Osgood%2DSchlater,patelar%20com%20o%20tub%C3%A9rculo%20tibial.

SIZÍNIO, K. et. al. Ortopedia e traumatologia : princípios e prática. 5° ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2017.

SANTO, C. Síndrome de Osgood-Schlatter: O Estado Da Arte. 2021 Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/151539575.pdf

SOUZA, M. et al. Abordagem e tratamento fisioterapêutico aplicado a pacientes acometidos pela doença de Osgood Schlatter. 2003.

VIEIRA, M. et. al. Caso imagiológico. Birth Growth Medicine Journal. v. 26, n. 1, p. 73 – 74, 2017. Disponível em:

http://www.scielo.mec.pt/pdf/nas/v26n1/v26n1a13.pdf