Índice
A dengue é uma doença infecciosa viral aguda que pode cursar de forma benigna ou grave, transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti.
Identificação do paciente
LMF, masculino, 42 anos, pardo, nascido e residente no bairro de Campo Grande, Rio de Janeiro, Brasil; pedreiro, de origem católica, heterossexual, maior grau de instrução: ensino fundamental.
Queixa principal
“febre alta, dor no corpo e dor de cabeça forte a 5 dias”
História da doença Atual (HDA)
Paciente procura atendimento por demanda espontânea na UBS local no dia 15/03/2021 com quadro de febre aferida de 39.5 °C, cefaleia, dor retro-orbitária e mialgia, com início dos sintomas no dia 10/03/2021, evoluindo com aumento de intensidade da mialgia e aumento de volume em abdome. Até então sem complicações. Em uso de dipirona, com melhora parcial dos sintomas durante o tempo de efeito do medicamento.
Antecedentes pessoais, familiares e sociais
História pregressa de rubéola, confirmada por sorologia. No último final de semana que antecedeu o início dos sintomas, frequentou um sítio no bairro vizinho. Não havia relato de outros casos febris entre as pessoas que também estiveram no sítio junto com a paciente, porém, alguns vizinhos seus estavam com suspeita de dengue.
Anteriormente ao início dos sintomas, nega diabetes, hipertensão, doenças hepáticas, parasitoses e/ou ISTS.
Exame físico
Regular estado geral, corado, hidratado, anictérico. Temperatura axilar de 38,5ºC.
PA – 120 x 80mmHg; Freqüência cardíaca: 94bpm; Peso: 89kg; Estatura: 1,70m.
Pele: exantema maculopapular em membros superiores e dorso
Segmento cefálico: sem alterações.
Ausculta pulmonar e cardiovascular sem alterações
Abdome: globoso, normotenso, indolor, sem visceromegalias.
Neurológico: sem alterações.
Prova do laço: positiva.
Suspeitas diagnósticas
- Dengue
- Zika
Exames complementares
Hemograma: Hb: 16g/dL; Ht: 48%; Plaquetas: 87.000/ mm3; Leucócitos totais: 5.200/mm3.
Diagnóstico
O paciente apresenta caso de dengue.
Dengue é uma doença febril aguda, com duração de 5 a 7 dias. O dengue clássico apresenta quadro clínico muito variável, geralmente com febre alta (39º a 40º) de início abrupto, seguida de cefaléia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia, dor retro-orbitária, náuseas, vômitos e exantema. Associada à síndrome febril, em alguns casos pode ocorrer hepatomegalia dolorosa e, principalmente, nas crianças, dor abdominal generalizada. Os adultos podem apresentar manifestações hemorrágicas, como petéquias, epistaxe, gengivorragia, sangramento gastrintestinal, hematúria e metrorragia. Com o desaparecimento da febre, há regressão dos sinais e sintomas, podendo ainda persistir a fadiga.
O paciente em questão apresenta quadro de febre alta há 5 dias, com cefaleia, mialgia, dor retroorbitária, exantema, além de abdome globoso, que pode indicar ascite, e reside em área com possível foco de dengue.
O diagnóstico diferencial para casos de Zika e Chikungunya está especificado no quadro abaixo:
Discussão do caso de dengue
1. Por que os pacientes procuram a UBS já com sintomas tão acentuados?
Logo no início da infecção, o paciente apresenta alta viremia, que irá decair com a resposta imune do paciente, inversamente proporcional à permeabilidade capilar, que vai aumentando com a infecção, também fruto da resposta imune do paciente, o que traduz um período crítico entre os 4° e 7° dias de doença
2. Quando é um caso suspeito de dengue?
Segundo a OMS, é caso suspeito de dengue qualquer pessoa que viva ou tenha viajado nos últimos 14 dias para área onde esteja ocorrendo transmissão de dengue ou tenha a presença de A. aegypti, que apresenta febre, usualmente entre 2 e 7 dias, e duas ou mais das seguintes manifestações: náusea e/ou vômitos, exantema, mialgias e/ou artralgias, cefaleia e/ou dor retroorbital, petéquias ou prova do laço positiva e leucopenia
3. como é realizada a prova do laço?
A prova do laço deve ser realizada na triagem, obrigatoriamente em todo paciente com suspeita de dengue e que não apresente sangramento espontâneo. A prova deverá ser repetida no acompanhamento clínico do paciente apenas se previamente negativa.
a. Verificar pressão arterial e calcular valor médio pela fórmula [(PAS + PAD)/2];
b. Insuflar o manguito até o valor médio e manter durante 5 minutos nos adultos e 3 minutos nas crianças;
c. Desenhar um quadrado com 2,5 cm de lado no antebraço e contar o número de petéquias formadas dentro dele. A prova será positiva se houverem 20 ou mais petéquias em adultos e 10 ou mais em crianças. Atenção para o surgimento de possíveis petéquias em todo o antebraço, dorso das mãos e dedos;
Se a prova do laço se apresenta positiva antes do tempo preconizado para adultos e crianças, a mesma pode ser interrompida. A prova do laço frequentemente negativa em pessoas obesas e durante o choque.
Conclusão
Após exames, a equipe decidiu prescrever soro caseiro para reidratação em casa, paracetamol 750mg de 6/6 horas e retorno em 48 horas para reavaliação com seu médico de família.
Autores, revisores e orientadores:
Liga: Liga Acadêmica de Medicina de Família e Comunidade Professor Hésio Cordeiro UNESA CITTÁ – @lamfechc
Autor(a) : Raíza da Silva Pereira – @raizapereira
Revisor(a): Ariane Rodrigues Silva – @arianerodriguessilva
Orientador(a): André Lopes
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O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.
Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.
Referências:
GIOVANNINI, Camilla Mesquita Sampaio. Diagnóstico diferencial entre dengue e Covid-19: relato de caso. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 86400-86410, 2020.
CASALI, Clarisse Guimarães et al. A epidemia de dengue/dengue hemorrágico no município do Rio de Janeiro, 2001/2002. Revista da sociedade Brasileira de medicina tropical, v. 37, n. 4, p. 296-299, 2004.
MACIEL, Ivan José; JÚNIOR, João Bosco Siqueira; MARTELLI, Celina Maria Turchi. Epidemiologia e desafios no controle do dengue. Revista de Patologia Tropical/Journal of Tropical Pathology, v. 37, n. 2, p. 111-130, 2008.