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Anestesiologia e monitorização | Colunistas

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Uma das ferramentas essenciais da anestesiologia é a monitorização dos sinais vitais, pois permite ao o médico garantir a homeostase do paciente. Ela é indispensável, já que as drogas para a indução e manutenção anestésica mais a cirurgia causam várias alterações em nosso corpo, e por isso carecem de supervisão contínua. Qualquer sinal de alteração no quadro clínico do paciente possibilita que o profissional inicie de imediato as condutas adequadas para a sua estabilização.

Para termos todos os dados necessários para avaliar um indivíduo, colhemos informações através da observação clínica e dos sinais vitais por meio de aparelhos que nos certificam que o organismo da paciente esteja em condições compatíveis com a vida. Todo paciente em uma cirurgia deve ser assistido com pelo menos a monitorização básica, que envolve um equipamento chamado “monitor multiparâmetro” onde iremos observar a pressão arterial (PA), atividade elétrica do coração, a frequência cardíaca (FC), a temperatura corporal, a saturação de oxigênio (O2) e a capnometria. Há outras ferramentas de monitorização, por exemplo, o cateter venoso central (CVC), a pressão arterial invasiva (PAI), a gasometria arterial e o cateter de Swan-Ganz, que são acrescentadas em cirurgias mais complexas, na qual o paciente está em situação mais grave e deve ser assistido de uma forma mais minuciosa.

A seguir, vamos entender o que cada parâmetro desses acima representam.

Pressão Arterial

A pressão arterial indica o valor da pressão que o fluxo sanguíneo exerce nas paredes das artérias. Ela preconiza se o funcionamento cardiovascular está adequado ou não, sendo uma informação que merece destaque, pois a principal causa de morte durante uma cirurgia envolve a disfunção cardíaca, e tanto a hipertensão quanto a hipotensão causam contratempos significativos. O valor de referência varia de acordo com vários fatores, cabendo ao profissional conhecer bem o paciente para ter uma ideia do seu valor ideal. A média é em torno de 120 a 139 mmHg para a pressão sistólica e 80 a 89 mmHg para a pressão diastólica. mmHg.

Há duas formas de monitorar a pressão arterial:

  • Pressão Arterial não invasiva: é mais simples e mais utilizada devido a facilidade para a sua aquisição. Há várias formas de se obter- lá, sendo a mais utilizada por meio da esfigmomanometria. 
  • Pressão Arterial invasiva: por meio de um cateter colocado dentro da artéria obtemos o valor da pressão arterial de modo contínuo. Ela é indicada para pacientes em estado hemodinamicamente grave ou que necessitam de infusão de muito volume.

Atividade Elétrica do Coração

A atividade elétrica do coração é avaliada por meio do eletrocardiograma, que é disponibilizado pelo aparelho de cardioscopia. Mediante a ele temos acesso ao ritmo e a frequência cardíaca de forma contínua. O resultado do ECG deve estar nos padrões normais e a frequência cardíaca entre 50 a 100 bpm.

Temperatura Corporal

A temperatura corporal adequada para o organismo humano está entre 36,1 a 37,8°C. O maior problema da disfunção da temperatura durante a cirurgia é a hipotermia, isto é, quando a temperatura é menor que 36°C, uma vez que ela ocasiona vasoconstrição, e consequentemente diminui a oxigenação e impede que os agentes imunológicos atuem da forma como deveria na incisão operatória, propiciando um ambiente sujeito a infecção. Além disso, alterações na cascata de coagulação são capazes de alterar a hemodinâmica, e por isso, devem ser evitadas.

Várias são as fontes que podem ocasionar a hipotermia: ambiente cirúrgico frio, degermante usado para a antissepsia, soluções injetadas no paciente, e principalmente os anestésicos que muitas vezes influenciam na temperatura. Em razão disso, deve-se ficar atento a esses detalhes para evitar complicações adiante.

Saturação de O2

A saturação de O2 representa a quantidade de oxi-hemoglobina em nosso organismo, ou seja, a quantidade de hemoglobina que está oxigenada. Isso significa que as trocas gasosas pulmonares estão sendo efetivas.  Seu parâmetro ideal é de 95 a 100%. Caso a saturação se encontre abaixo do valor mínimo é indispensável procurar a causa que levou a dessaturação e sana-la de forma mais rápida possível.

Capnometria

A capnometria nos permite verificar a concentração parcial de dióxido de carbono (CO2) que é expirada pelo paciente durante a ventilação pulmonar mecânica. Outras informações a respeito das trocas gasosas são observadas pelo monitor chamado de capnógrafo. Sua aplicação assegura que o paciente está ventilando e que as trocas gasosas estão sendo garantidas.

Conclusão

Sendo assim, para que uma anestesia e uma cirurgia sejam seguras é necessário que haja monitorização completa dos sinais vitais. Essa monitorização deve ser feita não somente pelos aparelhos, mas também por meio da observação do paciente, garantindo assim uma verificação completa. É fundamental enfatizar que esse processo de avaliação do paciente se dá além do ambiente cirúrgico, sendo presente desde as consultas de risco cirúrgico, na avaliação pré-anestésica e até mesmo depois do procedimento, o qual durante a recuperação pós anestesia o paciente continua a ser monitorado até ser liberado para o leito. Lembrar também que devemos sempre testar e ficar atentos se os aparelhos estão funcionando e foram colocados da forma certa, para evitar que interferências provoquem resultados não desejados.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

OTÁVIO COSTA AULER JR, José; CARVALHO CARMONA, Maria José; LUIS ABRAMIDES TORRES, Marcelo; SAITO RAMALHO, Alan. Anestesiologia Básica: Manual de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva. 1ª Edição. Brasil. Editora Manole Ltda. 2011.

Monitorização em Anestesia: Análise Crítica.  Revista Brasileira de Anestesiologia Vol. 42: Nº 1, Janeiro – Fevereiro, 1992- Disponível em: https://www.bjan-sba.org/article/5e498ba40aec5119028b4726/pdf/rba-42-1-3.pdf

Hipotermia perioperatória e aumento de infecção da ferida cirúrgica: estudo bibliográfico. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/eins/v12n4/pt_1679-4508-eins-12-4-0513.pdf

Hipertensão arterial sistêmica e anestesia. Rev. Bras. Anestesiol. vol.55 no.5 Campinas Sept./Oct. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942005000500014

Monitorização da Respiração: Oximetria e Capnografia. Revista Brasileira de Anestesiologia Vol. 42 : Nº 1, Janeiro – Fevereiro, 1992- Disponível em: https://bjan-sba.org/article/5e498ba50aec5119028b472a/pdf/rba-42-1-51.pdf

Capnografia: Tutorial de anestesia da semana. Dra. Gabriela Nerone Correspondência para sba@sba.com.br. Disponível em: https://tutoriaisdeanestesia.paginas.ufsc.br/files/2014/03/Capnografia.pdf